Após semanas de especulação, Rússia suspende participação no acordo do Mar Negro, mas trigo fecha no vermelho

Publicado em 17/07/2023 16:43 e atualizado em 18/07/2023 09:35

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A notícia da suspensão do acordo do Mar Negro foi uma das que que deu início à semana e o dia começou com altas de mais de 3% para os futuros do trigo  na Bolsa de Chicago, mas o mercado mudou de lado e a segunda-feira (17) vai se findando com baixas de mais de 1% entre os futuros do cereal. Os contratos mais negociados encerraram este primeiro pregão da semana com perdas de 7 a 7,75 pontos - ou algo entre 1,03% e 1,2% -, levando o setembro a US$ 6,53 e o dezembro a US$ 6,73 por bushel. 

A Rússia não teve suas demandas atendidas e, diferente das últimas vezes em que afirmava que não renovaria o acordo firmado entre Turquia e ONU (Organização das Nações Unidos) com Rússia e com Ucrânia, suspendeu sua participação na tratativa formalmente, em um comunicado enviado à embaixada ucraniana em Minsk. 

Todavia, as informações dão conta ainda que voltaria imediatamente ao acordo caso fossem concedidos ao governo de Vladimir Putin os pleitos feitos há alugns meses. Na última temporada, a Ucrânia exportou 26,9 milhões de toneladas somente pelo porto de Odessa, o que ajuda a ilustrar e esclarecer a importância não só destes terminais, mas do acordo, principalmente. 

Gráfico - Acordo
Gráfico: Sizov Report + SovEcon

A informação, depois de tantos rumores e de muita especulação, teve efeito limitado sobre o andamento das cotações não só do trigo em Chicago, mas do milho, dos cereais em outras boas e de outros produtos, como óleos vegetais, por exemplo. Como há semanas o mercado vinha precificando a possiblidade, ao se confirmar, seus efeitos - ou ao menos parte deles - já haviam sido mitigados. 

Ainda assim, a notícia mantém um imensa nuvem de incerteza sobre a oferta de produtos agrícolas determinantes para a garantia da segurança alimentar global que vinham saindo de portos ucranianos com segurança há um ano. Se a oferta é incerta, a demanda é presente e frequente, a volatilidade dos preços é a única coisa que se pode identificar através desta nuvem. 

"Olhando-se para o quadro de abastecimento global, em meio a tantas notícias de frustrações de safras por motivos climáticos, uma eventual permanência do impedimento da Ucrânia em vender o seu excedente - de mais de 10 milhões de toneladas - gera incertezas", afirma o analista da Safras & Mercado, Élcio Bento. 

Ainda de acordo com o especialista, segundo o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), a Rússia elevará seu saldo exportável na temporada 2023/24 - entre junho/23 e maio/24 - para 47,5 milhões de toneladas, um incremento de dois milhões sobre o recorde da temporada anterior. A Ucrânia, por sua vez, reduzirá sua participação no comércio global de trigo em 6,3 milhões de toneladas, de 16,8 milhões de toneladas para 10,5 milhões de toneladas, registrando, assim, o menor menor volume desde 2013/14. 

"A queda da produção e, consequentemente, das exportações ucranianas, já havia sido precificada pelo mercado. A declaração da Rússia de que 'assim que a parte russa dos acordos for cumprida, o lado russo retornará à implementação deste acordo, imediatamente' deixa claro que o principal objetivo do Kremlin é usar o acordo como moeda de troca contra sanções", complementa Bento."O que se verifica, contudo, é que mesmo com a sanções, os russos continuam exportando trigo em volumes recordes. Além disso, num momento de pleno entrada de safra dos grandes exportadores do Hemisfério Norte, a saída da Ucrânia do mercado teria muito mais impacto aos ucranianos – ingresso de divisas – do que ao abastecimento global. Claro que uma notícia como essa gera um movimento de alta das cotações. Sem a opção ucraniana, os importadores terão que deslocar sua demanda para outros grandes fornecedores ao longo da temporada", detalha o analista da Safras.

Afinal, ainda valendo-se dos números do USDA, Bento aponta que as ofertas de Argentina, União Europeia, Rússia e Canadá, juntas, seriam capazes de compensar a falta da Ucrânia no mercado global. E isso se daria mesmo com um aumento das importações mundiais da ordem de 2,5 milhões de toneladas, puxadas, principalmente, pela Indonésia. 

"Diante disso, parece claro que o primeiro impacto percebido, com altas nas Bolsas que comercializam trigo, é muito mais uma resposta à notícia. O momento sazonal de ingresso de safra – o Hemisfério Norte fornece quase 90% do trigo no mundo – garante o abastecimento mesmo sem a presença ucraniana. Entretanto, uma eventual manutenção dessa posição da Rússia durante a entressafra global, geraria um aperto no abastecimento e poderia sim mudar a régua das cotações", afirma Élcio Bento. "Mesmo assim, essa mudança de patamar não seria para níveis semelhantes aos praticados nos meses que sucederam a guerra. Naquele momento, os agentes não conseguiam vislumbrar os eventuais efeitos de um conflito entre dois dos maiores fornecedores de trigo do mundo. Atualmente, só precisam realinhar os números de abastecimento para precificar uma nova realidade fundamental para o mercado".

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Por:
Carla Mendes | Instagram @jornalistacarlamendes
Fonte:
Notícias Agrícolas

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