Dólar cai 1% e vai abaixo de R$ 3,50 após Yellen; política local gera cautela
Por Bruno Federowski
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou abaixo de 3,50 reais pela primeira vez em mais de três semanas, com queda de 1 por cento nesta segunda-feira, com operadores apostando que o Federal Reserve demorará mais para elevar os juros após comentários da chair do banco central norte-americano, Janet Yellen.
O dólar recuou 0,98 por cento, a 3,4905 reais na venda, após chegar a 3,4849 reais na mínima da sessão. No mês, acumula queda de 3,37 por cento.
Trata-se do menor nível de fechamento desde 12 de maio (3,4727 reais). O dólar futuro caía cerca de 1 por cento no fim da tarde.
"(Yellen) está dizendo aos mercados: tome seus calmantes, não exagere", disse o economista da 4Cast Pedro Tuesta.
Yellen disse nesta segunda-feira que aumentos dos juros provavelmente estão a caminho, mas deu poucas pistas sobre o momento dessas elevações. No último dia 27, Yellen havia afirmado que um aumento seria apropriado "nos próximos meses".
Economistas agora veem setembro ou possivelmente julho como o momento mais provável para um aperto de 0,25 ponto percentual na taxa dos Estados Unidos. Nos mercados de juros futuros, a aposta era de que o movimento deve ocorrer mais para o fim do ano.
A manutenção de juros baixos nos EUA tende a ajudar moedas como o real, que se beneficiam de taxas mais altas em seus países de origem.
O dólar já havia recuado 1,74 por cento frente ao real na sexta-feira, maior queda diária desde 19 de abril, após dados fracos sobre o mercado de trabalho enfraquecerem as expectativas de aumento de juros no curto prazo na maior economia do mundo.
A baixa da moeda norte-americana também contribuiu para sustentar os preços do petróleo ao incentivar a demanda pela commodity, impulsionada por ataques à infraestrutura na Nigéria.
"O panorama global continua mais positivo hoje e isso favorece o real", resumiu pela manhã o operador da corretora Intercam Glauber Romano.
Com isso, a moeda norte-americana voltou abaixo de 3,50 reais, reacendendo as atenções do mercado sobre eventual volta das intervenções do Banco Central brasileiro. A última vez que atuou por meio de swap cambial reverso, equivalente a compra futura de dólares, foi no dia 18 de maio, porque na véspera o dólar havia fechado abaixo desse patamar.
Alguns operadores acreditam que o BC quer proteger as exportações da depreciação cambial, apesar dos impactos inflacionários da alta do dólar.
"Se o BC ficar quieto hoje, podemos ver o mercado buscando patamares ainda mais baixos para testá-lo, ver se ele vai continuar sossegado por muito tempo", resumiu o operador de um banco dealer primário, que negocia diretamente com o BC.
O BC não fez qualquer intervenção cambial nesta sessão, mantendo-se ausente pelo quarto pregão seguido.
No cenário local, o foco central continuou sendo a política, após notícias encaradas como mistas pelo mercado. Segundo a revista IstoÉ, o ex-presidente da Odebrecht Marcelo Odebrecht teria afirmado, em acordo de delação premiada no âmbito da operação Lava Jato, que a presidente afastada Dilma Rousseff cobrou pessoalmente doação de campanha não informada à Justiça.
De maneira geral, operadores veem notícias que reduzam as chances de Dilma voltar ao poder ou piorem as perspectivas para seu partido, o PT, nas eleições seguintes como algo positivo. Muitos criticam as políticas adotadas durante seu primeiro mandato como importante fator na origem da crise econômica atual.
Já notícia do jornal Folha de S.Paulo de que o ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, teria agido para obter recursos desviados da Petrobras em troca de favores para a empreiteira OAS provocava reações negativas junto ao mercado financeiro.
Dois ministros do governo do presidente interino Michel Temer já deixaram os cargos em meio a escândalos e investidores temem que a instabilidade política dificulte a aprovação de medidas de austeridade fiscal no Congresso.
"O mercado está operando na base do cada dia é um dia, porque todo dia você pode abrir o jornal e ver algo que muda todo o jogo", disse o operador da corretora B&T Marcos Trabbold.
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