Cebola Valessul, da Epagri, é a mais plantada em Santa Catarina
Santa Catarina é o maior produtor nacional de cebola, respondendo por mais de 25% do volume colhido no Brasil. E para manter a liderança, os agricultores catarinenses contam com materiais de alta qualidade: são os cultivares desenvolvidos pelas pesquisas da Epagri. Hoje, a cebola mais plantada pelos produtores catarinenses é a SCS373 Valessul, lançada pela Empresa em 2017. Estima-se que, na safra atual (2021/22), ela ocupe cerca de 7 mil hectares no país – mais de 90% desse total em terras catarinenses.
O segredo da cebola Valessul é juntar as vantagens de duas sucessoras que eram as mais plantadas até a chegada dela: a Bola Precoce e a Crioula Alto Vale. Cebolas de ciclo precoce (ou seja, que produzem mais cedo) são historicamente as mais cultivadas pelos agricultores catarinenses. E a casca vermelho-amarronzada, que vem da Crioula Alto Vale, é atrativa para comerciantes e consumidores.
O agricultor Valdir Schutz, de Ituporanga, que produz cebola há mais de 40 anos, está tão satisfeito que acabou de plantar todos os seus 16 hectares com a Valessul. “Ela tem uma qualidade muito boa, a cor é quase de uma crioula, e tem um bom padrão para o comércio. É resistente para doenças e também dura bastante tempo no armazenamento”, conta.
Valdir costuma colher 45 toneladas de cebola por hectare. Mas, na última safra, seguidos episódios de granizo danificaram os cultivos e ele chegou a pensar que a produção estava perdida. “Ainda assim, conseguimos uma produção bem saudável e alcançamos 25 toneladas por hectare. Para o granizo, a cebola Valessul foi bem resistente”, conta.
Armazenamento e transporte
Essa resistência tem uma explicação. A Valessul possui cerca de 10% a mais de matéria seca do que outros cultivares da Epagri e também tem a casca mais aderente, o que contribui para aumentar a capacidade de armazenamento e a resistência ao transporte. Isso agrada bastante os produtores, que conseguem armazenar os bulbos por mais tempo e escolher a melhor época de venda com base nos preços. “Dependendo do ano, os agricultores conseguem armazenar essa cebola para comercializar em março e abril, quando em geral o mercado nacional começa a depender mais de importação e os valores são mais altos”, diz Daniel Rogério Schmitt, extensionista da Epagri em Ituporanga.
Os comerciantes, que reduzem as perdas no transporte, chegam a pagar um valor maior aos agricultores pela cebola Valessul. “Eles pagam em torno de 10 centavos a mais pelo quilo dessa cebola, que já é considerada referencial em Santa Catarina”, acrescenta o extensionista.
Ciclo precoce
O ciclo da cebola Valessul é de cerca de 175 dias com semeadura direta e de aproximadamente 200 dias quando se faz o transplante das mudas. As datas recomendadas para semeadura vão de 20 de abril a 10 de maio e o transplante vai de 20 de junho a 10 de julho. A semeadura direta deve ser feita por volta do dia 30 de maio e a colheita é recomendada a partir de 1º de novembro.
“Os principais cuidados em campo são seguir à risca a questão da adubação e a época recomendada de plantio. É importante evitar os excessos de adubação nitrogenada, principalmente, para que ela não se torne uma cebola de ciclo muito antecipado, o que pode causar perdas”, recomenda Daniel.
Assim como os demais cultivares desenvolvidos pela Epagri, a cebola Valessul apresenta boa adaptação às condições climáticas da região produtora e também oferece resistência moderada ao míldio. Na região de Ituporanga, a produtividade média desse cultivar fica em torno de 32 a 35 toneladas por hectare, de acordo com o escritório local da Epagri.
Origem da cebola Valessul
A história dos “antepassados” da Valessul também ajuda a contar a história das pesquisas com melhoramento genético de cebola na Epagri. O pesquisador Daniel Pedrosa Alves, chefe da Estação Experimental da Epagri em Ituporanga, conta que os cultivares desenvolvidos nessa unidade partir de 1984 geralmente tinham origem na seleção de populações de cebola que foram introduzidas na região pelos próprios agricultores. “Essas populações ou cultivares vieram do Rio Grande do Sul e lá chegaram, provavelmente, pelos imigrantes portugueses”, explica.
Ao longo desse trabalho, duas populações se destacaram: “baia periforme” e “crioula” – e se tornaram a base genética do melhoramento conduzido na Epagri. “Da ‘baia periforme’ se originaram os cultivares Bola Precoce, Superprecoce e, por último, a Poranga. Já a ‘crioula’ deu origem primeiro à Empasc 351 Seleção Crioula e, em seguida, à Epagri 362 Crioula Alto Vale”, explica.
A partir de cruzamentos entre a Bola Precoce e a Crioula, começou o trabalho de seleção de um cultivar que reunisse o ciclo e o formato da primeira e a coloração da segunda. “Observamos que um desses cruzamentos se destacava dos demais e, em 2012, ele começou a ser melhor avaliado, pois reunia as características de interesse”, diz o pesquisador.
Foi esse trabalho que deu origem à cebola SCS373 Valessul, que em 2017 obteve o certificado de proteção do cultivar junto ao Serviço Nacional de Proteção de Cultivares (SNPC) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Desde então, o cultivar vem ganhando terreno não só em Santa Catarina – com cerca de 6,3 mil hectares plantados na safra atual – mas também em estados como Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás e Bahia.
Cebola em SC
Santa Catarina é líder nacional na produção de cebola, que é cultivada basicamente por agricultores familiares, em pequenas áreas. Segundo o Censo Agro 2017 do IBGE, são 8.308 produtores no Estado dedicados à atividade. Na safra 2020/21, eles plantaram 17,4 mil hectares e colheram 389 mil toneladas, de acordo com o Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola da Epagri (Cepa).
A área de plantio estimada para a safra 2021/22 é de 17,5 mil hectares, com aumento de 0,69% comparado ao período anterior. O levantamento da Epagri/Cepa aponta para um volume de 494,7 mil toneladas, com crescimento de 26,87%, visto que a última safra foi afetada por problemas climáticos como estiagem, granizo e vendavais.
Onde comprar sementes
A cebola SCS373 Valessul é licenciada para a empresa Agritu, que comercializa as sementes e devolve para a Epagri parte do valor em forma de royalties. “Isso faz a roda girar: a gente consegue retroalimentar a pesquisa e desenvolver novos materiais para os produtores”, diz o pesquisador Daniel Pedrosa Alves. Para adquirir as sementes, acesse www.agritu.com.br.
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