Soja: China segue para feriado do Ano Novo Lunar e mercado se questiona como será sua demanda na sequência

Publicado em 20/01/2023 17:17 e atualizado em 25/01/2023 17:18
Ano Novo Lunar 2023 China
Festival de Lanternas - Foto: Xue Jun/VCG/Getty Images

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A semana termina, para o mercado da soja, com a China entrando em seu mais extenso e importante feriado, o do Ano Novo Lunar. 2023 será o ano do coelho. O período vai de 21 a 28 de janeiro e, neste intervalo, poucas notícias deverão partir da nação asiática sobre a demanda, principalmente, no entanto, os mercados deverão seguir atentos às informações sobre estes sete dias. Segundo explica o analista de mercado Eduardo Vanin, da Agrinvest Commodities, são esperadas mais de dois bilhões de viagens entre esta sexta-feira (20) e o final do mês. Trata-se de um dos eventos que promove o maior fluxo de pessoas no mundo neste curto espaço de tempo.

Viagens na China - Ano Novo Lunar - Foto CNN
Viajantes esperam pelos trens em uma estação em Nanjing, na China - Foto: China Daily/Reuters

Assim, os desdobramentos do número de casos de pessoas contaminadas pelo coronavírus também é algo a ser acompanhado. 

Ano Novo Lunar China 2023- Foto Bloomberg Getty Images
Viajantes usam trajes de proteção contra o Covid durante os trajetos - Foto: Bloomberg Getty Images

"Ações de empresas de turismo e hoteis encerraram a sexta-feira com boas altas. O que todos querem observar é a segunda onda, pessoas que irão levar para o interior o vírus ou trazê-lo de lá. Esse é um grande risco para os idosos", detalha Vanin. O executivo pontua ainda que dos 250 milhões de idosos da China a maior parte mora em cidades ou vilar rurais no interior de atpe cinco milhões de habitantes, e que a taxa de imunização desta parcela da população ainda era bem tímida. 

Além da chegada do Ano Novo Lunar, a China também esteve bastante nas manchetes durante esta semana em função da notícia de que, pela primeira vez desde 1961, sua população encolheu. "Talvez em 2023 isso não se repita, mas o que deve ficar disso tudo é a queda no número de casamentos. A grande maioria dos chineses não têm filhos antes do casamento", afirma Vanin. Com menos nascimentos e uma população idosa maior, as consequências virão, entre elas uma mão-de-obra cada vez mais cara. 

Assim, o analista complementa. "Para o agro, o mais importante é que o pico do processo de urbanização e crescimento de renda já passou e o paladar dos chineses está mudando, menor consumo de carnes, em especial a suína". E os primeiros reflexos deste comportamento já começam a aparecer. "Na Bolsa de Dalian, a semana foi ruim para as margens de processamento. A demanda por farelo sumiu. Se afirma que as fábricas de rações ainda estão com estoques de dezembro, postergando novas compras. O jeito é reduzir o processamento".

O comportamento das indústrias processadoras, todavia, se justificaria com sua espera por uma melhora nos prêmios do farelo que, para se concretizar, depende de uma melhora das margens da suinocultura - que não estão em um bom momento, tendo registrado nesta sexta a primeira semana com saldo positivo em dez semanas - bem como as vendas de alimentação animal também devem ter um ritmo melhor. "Observando o padrão dos últimos três anos, uma nova perna de alta para as margens deve vir a partir de junho", explica Eduardo Vanin. 

Nesta quinta-feira (20), o Ministro de Agricultura e Assuntos Rurais da China afirmou, no portal da pasta, que o governo chinês tem trabalhado para alinhar medidas que possam trazer auxílio e incentivo à indústria da soja no país, promovendo uma melhora dos lucros dos produtores rurais e aumentando a capacidade de processamento de soja e demais oleaginosas. 

Entre as medidas estão previstas, além de um aumento da produção e a safra de soja pela primeira vez superando 20 milhões de toneladas na nação asiática - melhorias de armazenagem e incremento na capacidade de processamento. O objetivo é fazer com que os preços possam orbitar em uma "faixa razoável". Além disso, Pequim há tempos fala em, mesmo que aos poucos, ir garantindo um aumento na autossuficiência de soja no país. 

As políticas que deverão ser implementadas, porém, ainda não foram detalhadas, segundo veículos internacionais. Atualmente, a China importa mais de 80% de toda a soja que consome. 

Enquanto os detalhes não chegam, o governo já solicitou às agroindústrias do setor a repensarem e detalharem ainda mais suas estratégias de compra e esmagamento, além de desenvolver novos produtos e trabalhar na consolidação de suas marcas. 

Ainda de acordo com os últimos dados do Ministério da Agricultura chinês, a área de soja no país foi a maior desde 1958 e alcançou 10,26 milhões de hectares. Em relação ao ano anterior, o aumento foi de 1,85 milhão de hectares. "Foi a primeira vez que a produção de soja no continente ultrapassou 20 milhões de toneladas. Isso ajudou a aumentar a taxa de autossuficiência da soja em 3 pontos percentuais em um único ano", afirmou Pan Wenbo, diretor do departamento de gestão agrícola da pasta.

Para 2023, o objetivo do Ministério é promover um aumento de pelo menos 660 mil hectares nas áreas destinadas à soja e mais oleaginosas e elevar em um ponto percentual a autossuficiência na produção de óleo de cozinha.   

Em seu último boletim mensal de oferta e demanda, o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) revisou sua estimativa para as importações de soja da China no ano comercial de 98 para 96 milhões de toneladas. E uma notícia do site chinê South China Morning Post afirma que as importações chinesas da commodity pelo país asiático podem, de fato, ter alcançado seu pico e poderiam seguir recuando, como já aconteceu no ano passado. 

"As importações de soja da China parecem já ter atingido seu nível máximo e diminuirão gradualmente até 2030, à medida em que Pequim continua seus esforços para dobrar a segurança alimentar, de acordo com um novo relatório. As importações de soja do país caíram 8,1%, ano a ano, durante os primeiros 11 meses de 2022, segundo dados divulgados pela alfândega da China no mês passado", traz a reportagem.

Além disso, a China também vem procurando reduzir sua dependência do farelo de soja na formulação das rações desde 2018, quando foi instalada a guerra comercial com os Estados Unidos. Diversos hábitos e cenários foram colocados à mesa para serem revistos desde que este conflito foi iniciado. 

"Esperamos que o consumo chinês de ração mantenha um crescimento baixo de um dígito. No entanto, a taxa de inclusão de farelo de soja nas rações deverá cair, pois o governo chinês está lançando uma campanha de redução de farelo de soja com o objetivo de diminuir a dependência da soja importada para garantir a segurança alimentar", afirma disse Lief Chiang, analista sênior de Grãos e Sementes Oleaginosas do Rabobank. "O aumento da produção doméstica de soja e as importações diretas de farelo de soja reduziriam ainda mais a previsão de importação, enquanto a compra de estoques estatais aumentaria as quantidades importadas em alguns anos", complementa o especialista. 

De outro lado, como explica Chenjun Pan, analista sênior proteína animal também do Rabobank, "em um cenário de baixa inclusão de farelo de soja, o uso extra de aminoácidos será necessário para atender às necessidades nutricionais dos animais. 

Nos últimos dias, um relatório do banco internacional Rabobank apontou que uma gradual diminuição das importações chinesas de soja deverão, ao vir se confirmado, gerar um profundo impacto na cadeia global da commodity, uma vez que a nação responde por 60% do comércio internacional da oleaginosa. 

Ano Novo Lunar 2023 China 2

Assim, o grande questionamento do mercado e do complexo soja global continua sendo o comportamento da demanda da China que será trazido ao mercado logo depois do mais importante feriado do país.

Feliz Ano do Coelho pra você! 🐰

Com informações do Yicai Global, South China Morning Post, WorldGrain.com e Global Times

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Por:
Carla Mendes | Instagram @jornalistacarlamendes
Fonte:
Notícias Agrícolas

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