Refletindo gargalos logísticos e aumento de demanda, fertilizantes e outros insumos aumentam de preços. No entanto, boa gestão agrícola poderá diluir possíveis prejuízos
O mundo passa por uma crise global de oferta e demanda, refletindo diretamente na inflação global de alimentos. O aumento dos preços têm como origem alguns gargalos logísticos e a demanda crescente, principalmente em decorrência da pandemia causada pelo coronavírus ao longos dos últimos dois anos. No caso dos insumos agropecuários, a perda do equilíbrio entre oferta e demanda tem se agravado ainda mais após países produtores terem suas exportações limitadas, enquanto que países produtores visam safras abundantes que dependem de produtos que estão cada vez mais difíceis de serem encontrados.
Esse é o caso do Brasil, que importa 85% dos fertilizantes utilizados no país. Boa parte desses produtos chegam da China, do Leste Europeu e da América do Norte, sendo que todas essas regiões passam por algum tipo de problema em suas produções. Na China, por exemplo, o governo tem limitado as exportações em decorrência de uma crise energética que tem afetado a indústria chinesa. Já no Leste Europeu, a Bielorússia vem sofrendo sanções internacionais devido à política autoritária existente no país. Por fim, desastres naturais nos Estados Unidos e no Canadá limitaram suas capacidades logísticas.
Para completar o cenário, o deslocamento marítimo tem sofrido com fechamentos de portos, navios encalhados e a falta de contêineres. O caos logístico global demonstra a fragilidade e a interdependência entre os países ao redor do mundo, principalmente quando a segurança alimentar é colocada em destaque. Porém, por mais confuso que todos esses detalhes possam parecer, ainda é possível que os produtores rurais brasileiros encontrem soluções para manter o bom andamento da safra 21/22. "Tudo é uma questão de gestão, do produtor fazer contas e de encontrar alternativas nas mais diversas cadeias produtivas", afirma Marcelo Prado, diretor da MPrado Consultoria.
Mesmo diante de tamanha instabilidade no mercado internacional, as indústrias brasileiras adiantaram os pedidos de insumos que foram entregues ao longo do ano. Os produtores rurais que ficaram atentos às mudanças globais, também firmaram suas compras no fim do ano passado, garantindo a safra atual. É o que explica Eduardo Monteiro, vice-presidente da Mosaic Fertilizantes, durante o Conexão Campo e Cidade exibido nesta segunda-feira (18). "Está previsto que cerca de 45 milhões de toneladas de fertilizantes sejam entregues até o fim do ano, um novo recorde para o setor. Sendo assim, não acreditamos que haverá falta de fertilizantes para a safra. No entanto, pode ser que os produtores encontrem grandes dificuldades para obter defensivos agrícolas, em especial o glifosato", analisou.
Veja a edição completa do Conexão Campo Cidade, com a participação de Eduardo Monteiro, vice-presidente da Mosaic Fertilizantes:
+ Conexão Campo Cidade 18/10/2021
Ainda segundo Monteiro, uma estratégia mais robusta para que o Brasil dependa menos de insumos importados passa por um planejamento de longo prazo. O país vem avançando em diversos pontos logísticos, ampliando portos e ferrovias, mas no caso da mineração, a tramitação de uma possível exploração comercial precisa passar por diversas questões burocráticas. Um campo que, apesar de complexo, tem a atenção do governo federal, que pretende criar um planejamento nacional específico para os fertilizantes.
Ter os números na ponta do lápis podem assustar, já que os desafios serão de grandes proporções. Dentre os principais fertilizantes, a Uréia aumentou 180% nos últimos 12 meses. Seguindo o mesmo caminho, o Fósforo teve um aumento de 100%, enquanto que o Cloreto de Potássio aumentou 200%. Números que podem encontrar um platô máximo na escalada de preços, como demonstra Maurício Bellinelo, analista independente de commodities e colaborador do programa Tempo & Dinheiro.
Ao longo do programa desta última segunda-feira (18), Belinello demonstrou um gráfico com a tendência dos preços futuros da Uréia no mercado chinês. A China, além de ser o maior produtor desse insumo, também é um dos maiores consumidores e é por isso que ter esses dados em mãos podem auxiliar na tomada de decisões dos produtores rurais do Brasil. "O gráfico demonstra altos preços até meados de janeiro do ano que vem, dali em diante caem vertiginosamente por uma correção nessa distorção entre a oferta e a demanda pelo produto", explicou.
Enquanto isso não ocorre, o produtor precisa continuar atento às oportunidades de troca, que atualmente estão na média de 25 sacas por hectare. Apesar de não ser uma troca tão boa, a próxima safra promete ser rentável, já que as condições climáticas são favoráveis e é prevista uma boa janela de plantio para a safrinha. A questão, mais uma vez, se volta para uma boa gestão da porteira pra dentro. "Conheça seus fornecedores, tenha parceiros de confiança e procure estratégias que facilitem a entrega dos insumos", aconselha Monteiro.
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