Milho brasileiro perde competitividade com relação ao americano, mas cenário ainda não é definitivo
O patamar de preços do milho brasileiro para exportação está levemente maior do que o custo do milho americano no golfo do México. De acordo com o último relatório divulgado pela consultoria ARC Mercosul, na sexta-feira (17), no porto de Paranaguá os contratos valiam US$ 153,9 por tonelada contra US$ 153,4 no Golfo do México. A diferença de 50 cents por tonelada sobe para 70 na entrega setembro/20 e US$ 1,90 no indicativo outubro/20.
Para o sócio-diretor da Consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio, Carlos Cogo, essa tendência de comparação de preços, que atualmente é ainda maior, mesmo com relação aos preços no interior do Paraná, por exemplo, pode dificultar as exportações brasileiras no segundo semestre e atuar para achatar ainda mais a curva de preços do cereal no mercado interno.
“O mercado vai começar a disputar exportação de milho. O Brasil vinha crescendo de forma violenta, mas os Estados Unidos vão ter muito mais oferta no mercado, o milho será mais barato no porto e a demanda tende a se deslocar para lá. O Brasil vai ter que seguir a linha e o caminho é o mesmo, ou baixa o preço e exporta ou vai ter que baixar o preço para ficar com ele aqui dentro”, comenta Cogo.
“Os Estados Unidos estão um passo a frente no quesito preço, que é o maior determinante de compra para qualquer importador”, complementa o analista de mercado da Germinar Corretora, Roberto Carlos Rafael.
Segundo o consultor de mercado da Roach Ag Marketing, Aaron Edwards, este cenário apresentado faz sentido neste momento, mas é preciso acompanhar as próximas movimentações para verificar a efetiva concretização dele no segundo semestre de 2020.
Os principais fatores que sustentam a analise de Edwards são que a chegada do milho da segunda safra brasileira vai ajudar a tornar o país mais competitivo no mercado internacional e que, neste momento, a demanda interna de milho nos Estados Unidos está muito afetada pela queda na produção de etanol, mas não é possível saber se este será o cenário nos próximos meses.
“Caso as usinas americanas voltem a rodar e a produzir o etanol não haverá esse excedente para exportação, mas se a paralização por conta da COVID-19 continuar o mercado externo pode sim ser uma saída para este estoque”, explica Edwards.
Além disso, o consultor aponta que os Estados Unidos possuem capacidade de estrutura e financeira para ser um vendedor muito paciente, já que a maioria do milho americano pode ser armazenado na própria fazendo e produtores dispõe de linhas de crédito muito baratos para poder simplesmente não querer vender o milho e segurar o cereal por muito tempo até preços mais atrativos.
“É cedo pra falar que o milho brasileiro não vai ser competitivo porque o milho americano está barato. Talvez haja pressão de venda, mas não no meio do ano competindo com a safrinha brasileira. Eu acho que a gente tem alguns meses pela frente antes de chegar a essa conclusão”, diz Edwards.
Já para o pesquisador do Cepea, Lucílio Alves, mesmo que o milho americano se torne mais competitivo do que o brasileiro, o cereal nacional segue sendo mais atrativo do que o de outras origens como Argentina e Ucrânia no mar negro.
Além da competitividade com relação a outras origens, o milho brasileiro possui, de acordo com Roberto Carlos Rafael, alguns mercados cativos pela qualidade do cereal do país e outros, como o Irã, que não podem comprar remessas dos Estados Unidos e nem da Argentina por questões políticas.
Outro ponto a favor do produtor brasileiro é o adiantamento nas negociações, o que já garante uma parcela importante das exportações para o segundo semestre. “Não podemos esquecer também que já temos muito milho vendido dessa safra e um pouco de produção já vendida para o ano que vem, e essa venda antecipada no Centro-Oeste e Paraná, claramente é para exportação”, pontua Alves.
De acordo com o último boletim divulgado pelo Imea, 76,67% da produção mato-grossense de milho nesta atual safra já está negociada até o dia 10 de abril. Ao mesmo tempo, os produtores do Mato Grosso já fecharam a venda de 23,09% da safra do próximo ano.
“Muitos negócios já foram feitos e, no primeiro momento, os volumes que vão chegar da safrinha serão direcionados para a entrega destes contratos já firmados, o que pode dar tempo para o cenário se ajustar até que novas vendas saiam. As exportações de julho e agosto já estão todas tomadas com essas entregas”, aponta Rafael.
O sócio-diretor da Consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio também destaca que, quem se antecipou e já fez vendas de milho terá uma condição melhor. “Alguns produtores já venderam quantidades imensas de milho, praticamente já estão vendidos nesta segunda safra e também avançaram na venda para 2021 a valores muito altos. Quem fez pode ter certeza que lá em 2021 não vai se arrepender do que fez”, afirma Cogo.
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