Brasil é o país de maior interesse da China; câmbio é o desafio
A Ásia representa quase metade das exportações do Brasil - sendo que 25% são destinadas para a China. O especialista em agronegócio Marcos Jank está há dois anos no continente para acompanhar os novos negócios juntamente à BRF, observando os desafios de acesso do mercado e os muitos países que ainda são fechados para o produto brasileiro.
Ele acredita que, para todo o setor do agronegócio, nove entre dez produtos têm na Ásia um interesse em potencial. Quanto às commodities básicas, a Ásia não impõe barreiras, mas outros produtos, como a carne, ainda encontram as barreiras de países como a Indonésia e a Índia. Outro desafio também é a realização de um trabalho de imagem por parte do Brasil.
Jank aponta que é um erro pensar que a Ásia se resume à China. A China tem uma grande população agrícola, o que a torna ainda muito fechada para alguns produtos. "Temos que olhar outros países na região. A Índia é a China do futuro, há muitas oportunidades nos próximos anos", diz Jank.
Para ele, as relações com a China também têm que ser organizadas. A soja entra facilmente, o que causou uma revolução no Centro Oeste brasileiro, mas as exportações deveriam ser diversificadas e agregar valor. Uma relação mais equilibrada com a China também faria com que essas exportações beneficiassem a todos.
"O Brasil tem que se preparar para entender a Ásia", atesta Jank. Ele diz que as entidades do agronegócio têm que estar presentes no continente. Mercados como os Estados Unidos, a Austrália, a Nova Zelândia, a União Europeia e o Chile já atuam na Ásia com presença institucional e o Brasil, basicamente, vende commodities. "Tem que estar presente e participar do processo de formação de políticas públicas".
O ano de 2017, na opinião do especialista, será um ano difícil, com a desglobalização do mundo puxada pelo Brexit e pela eleição de Donald Trump. "Mas estamos vendendo commodities e o mundo em desenvolvimento precisa disso. Temos que olhar para fora e desenvolver melhores relacionamentos. É preciso ir mais longe e estar presente em países que representam o futuro", aconselha. Ele acredita que a desglobalização "não é boa para ninguém", relembrando os anos 30, mas que, "dentro dessa conjuntura, tem que ver quais são nossas oportunidades para estar crescendo. Nos últimos 15 anos a gente não fez acordo com ninguém, agora tem chance de desenvolver acordos bilaterais com outros países".
Ele também diz que os produtores brasileiros e, principalmente, as cadeias produtivas como um todo, tem que ganhar produtividade, adicionar valor aos produtos e aumentar sua presença física nos países de destino, se internacionalizando mais. A política interna, para ele, deve acompanhar negativamente a economia, juntamente com os cenários dos Estados Unidos e da União Europeia, "por isso tem que olhar para outras geografias", conclui.
Interesses chineses no Brasil, por Marcos Jank
Marcos Sawaya Jank é especialista em questões globais do agronegócio
A China sabe o que quer do Brasil. E nós, o que queremos dela?
Num mundo em desglobalização, precisamos saber quais são os interesses de nossos grandes parceiros, com quem e como vamos jogar.
Nesse contexto, a China é hoje o país com maior dependência e vontade de incrementar as relações com o Brasil. Para entender os seus mais recentes movimentos no país, vale ler o relatório "Investimentos Chineses no Brasil 2014-2015", publicado em novembro pelo Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC).
A internacionalização das empresas chinesas é evidente, com vultosas aquisições nos setores de tecnologia, energia, agronegócio, financeiro, imobiliário, automotivo, eletrônico e de entretenimento. China e Hong Kong já investem globalmente mais de US$ 250 bilhões por ano, ou cerca de 20% do total mundial.
No caso do Brasil, o interesse estratégico chinês de longo prazo concentra-se basicamente em três áreas: energia, agronegócio e infraestrutura. No início, a China tentou investir direto em recursos naturais –terras agrícolas e minérios–, mas a estratégia não deu certo em razão das crescentes restrições impostas pelo governo brasileiro.
Mas em 2014 começa uma nova fase, na qual a China passa a se interessar não mais pela produção primária, mas pelo controle das cadeias de suprimento das principais commodities que ela demanda, a chamada "originação". Na área de genética vegetal e defensivos, a ChemChina adquire a gigante suíça Syngenta, com grande presença no Brasil. Na área de grãos, açúcar e terminais portuários, a estatal COFCO compra a Nidera e a Noble Agri. Recentemente, o grupo privado Shanghai Pengxin adquire a Fiagril, empresa mato-grossense de insumos, grãos e logística.
Recentemente, surgem oportunidades para adquirir empresas-chave em setores afetados pela crise econômica e/ou por políticas regulatórias equivocadas. O caso mais notório é o da geração e transmissão de energia elétrica, com a aquisição da Cesp, de Furnas, da Eletronorte e da Duke Energy pelas estatais chinesas State Grid e China Three Gorges (CTG).
Não resta dúvida de que a Operação Lava Jato vai gerar grandes oportunidades para os chineses adquirirem empresas de construção civil e infraestrutura no Brasil.
São imensos os interesses chineses no Brasil, e hoje há muitas oportunidades para parcerias e aquisições. Mas erra quem pensa que esses interesses são comandados por uma estrutura hierárquica única e uniforme.
No excelente livro "The Political Economy of China-Latin America Relations in The New Millenium", recém-lançado nos Estados Unidos, Margaret Myers e Carol Wise utilizam a teoria agente-principal para explicar o funcionamento do modelo de investimento. A China tem um único ator, que são os princípios e objetivos definidos pelo Partido e pelo governo. Mas a execução das diretrizes fica a cargo de múltiplos agentes –as companhias chinesas estatais e privadas–, que atuam com diferentes motivações e interesses, de forma competitiva e descoordenada. A isso se somam as imensas diferenças linguísticas, culturais e de identidade entre a China e a América Latina.
A expressão "negócio da China" tem sido usada sempre que alguém obtém grande vantagem em um acordo. O termo remonta aos lucros fabulosos que os comerciantes europeus obtinham com a venda de especiarias chinesas há mais de cinco séculos. Mas hoje a situação se inverteu e é o mundo que está oferecendo grandes "negócios para a China".
Em suma, a China sabe o que quer do Brasil, agora e daqui a 50 anos. E nós, o que queremos dela? Vamos reduzir o nosso imediatismo doentio e olhar o longo prazo? Vamos nos organizar direito, com o governo e o setor privado refletindo e atuando em conjunto? (por MARCOS jANK)
4 comentários
Bom dia Agro 22/11/24 - Carnes para o Carrefour, orçamento, petróleo e mercado de fertilizantes
Com metodologia científica em construção, Soja de Baixo Carbono visa unir práticas agrícolas sustentáveis com aumento de produtividade
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Líderes do Agro: A importância do treinamento do engenheiro agrônomo para a agricultura brasileira
Prosa Agro Itaú BBA | Perspectivas para a indústria da soja e a Lei "Combustível do Futuro"
Euclides de Oliveira Pinto Neto Duque de Caxias - RJ
Na verdade, a China está utilizando suas vultosas reservas em dólar do USA para adquirir empresas estratégicas e de conteúdo permanente, garantindo assim operações rentáveis em qualquer país do mundo. Com esta atitude, libera-se do "mico" representado (ainda) pelos dólares - utiliza tais reservas para adquirir empresas rentáveis... quando a "bolha" do dólar - moeda sem lastro e sem nenhuma garantia - estourar, quem estiver com os dólares deverá utilizar os mesmo para produzir o único produto utilizável - papel higiênico de segunda qualidade...
EUCLIDES VOCÊ E' UMA PIADA-----NUM COMENTARIO VOCÊ CRITICA TRUMP E LOGO NO COMENTARIO SEGUINTE VOCÊ ELOGIA OS CHINESES COMO EXPERTOS----
Carlo, não sei se sou uma piada... o fato de criticar o Trump - pelo modo como se referiu à Russia, tratando um país estrangeiro de forma desrespeitosa - não tem nenhuma relação quanto à inteligencia chinesa, que está aproveitando a "crise" mundial para rearrumar seus ativos... é melhor trocar seus excedentes comerciais, representado por dólares norte-americanos, por empreendimentos lucrativos, como hidrelétricas, ferrovias, reservas minerais, etc., garantindo retorno continuado dos resultados obtidos nas atividades... e eles estão investindo em muitos paises do mundo, garantindo o suprimento de matérias primas para a China... você não acha que é uma medida inteligente ? Abraços
Euclides o Trump acha que a administraçao democrata levou os EUA para uma situaçao critica----Obama Bush e Clinton resolveram os problemas economicos fazendo dividas ----a maior divida do planeta, sendo que a China e' o maior credor----Trump simplesmente acordou percebeu que o comercio livre global bandeira dos EUA e' uma grande besteira para eles e quer endireitar a situaçao perigosa---
domingos de souza medeiros Dourados - MS
Seria necessario um Ministro do Comercio Exterior ou das Exportacoes para cuidar das oportunas propostas sugeridas pelo Sr Yank. Temos este orgao? Desculpe minha santa ignorancia...
joao eduardo arraes de alencar fortaleza - CE
...ótimo texto (" Brasil é o país de maior interesse da China; câmbio é o desafio")... O mais importante é quando o autor fala do planejamento. Eles planejam para 100 anos, com revisões periódicas. Tem um rumo. Um país com a população e a história da China, tem uma classe dirigente que sabe seu lugar no mundo.
E importante avaliar outros aspectos sobre o assunto China. Ela possui algo em torno de 3 trilhões de dólares (USD) e está aplicando estes haveres para adquirir empresas, em quase todos os continentes, para orquestrar suas atividades economicas e também para auferir ganhos reais. Esta "valorização" das bolsas norte-americanas é um movimento falso, com o objetivo de mostrar ao mundo que a economia norte-americana está recuperada. É falso, esta burla não vai continuar indefinidamente... emitir papel pintado é fácil... mas o total de "papel pintado" emitido, em circulação (quase 20 trilhões de dólares) é muito pouco face ao total demandado... somente as obrigações dos 5 maiores bancos do mundo ultrapassam 300 trilhões de dólares... o que ainda está evitando uma corrida aos bancos é o artificialismo das bolsas, com "valorizações" absurdas e aproveitando a "doação" feita pelo povo americano aos "banksters"... eles sabem que dólar (papel sem lastro, sem eira nem beira, garantido apenas pelo - ainda - pela intimidação e chantagem do governo norte-americano) vai "pipocar" a qualquer hora, sem aviso prévio... A China sabe disso e não vai querer ficar com o "mico" da moeda americana nas mãos... Então, é mais saudável adquirir patrimonio real, transformando seus "trilhões de dólares" em bens que possuam garantia contra a "trampa" que os "banksters" armaram... aliás, os 1% mais ricos estão aumentando seu percentual na riqueza global... continuamente... já possuem mais de 52% da riqueza e aumentam esta participação anualmente... não há solução pacífica para o saqueio que é promovido...
Quem armou a trampa foram os esquerdistas mocorongos, os imbecis salvadores da humanidade. Trump vai desarmar a trampa, montada por Hillary e Obama e seus capachos esquerdistas ao redor do mundo.
SERÁ O CÂMBIO O DESAFIO ??? ... Leia esse pequeno trecho de um artigo ... Na manhã de segunda-feira, 2 de março de 1970, quatro homens assaltaram um veículo em Canoas (RS). Roubaram o equivalente a R$ 565 mil da Ultragraz. Na ação estava um jovem de 19 anos, alto, magro, emplastro no rosto e revolver calibre 38 na mão. O mineiro Jorge era da VAR-Palmares, derivado do Comando de Libertação Nacional (Colina) e da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), devotados à luta armada contra a ditadura.
Mês seguinte, interceptaram outro carro, em Porto Alegre. Naquela noite de sábado, 4 de abril, Jorge desceu do Fusca apontando um calibre .45 para o cônsul americano Curtis Carly Cutter, 42 anos. Veterano da guerra da Coreia, Cutter acelerou seu vigoroso Plymouth Fury. Levou bala no ombro. Deixou um deles estirado, com o tornozelo ferido pela roda ? logo foi preso, torturado, e amargou três anos na cadeia.
O manquejar de Fernando Pimentel, governador de Minas, é herança desse confronto, quando vestia a máscara do terrorista Jorge na liderança da "Unidade de Combate Manoel Raimundo Soares" da VAR-Palmares gaúcha.
Passaram-se 47 verões. Pimentel agora é um governante recluso, sitiado pela calamidade administrativa e processos por corrupção. ... QUAL SERÁ O NOSSO DESTINO ???
Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC
Não deixa de ser interessante o discurso,... exportar mais e tal... só que há aí um grande erro de conceituação, ou pelo menos avaliação, o mundo não vai se desglobalizar, a globalização é uma coisa, o globalismo é outra, são coisas bem distintas, quem perdeu com o Brexit e com a eleição de Donald Trump foram os globalistas, que são os esquerdistas que querem estabelecer um governo global, coisa que não tem nada a ver com livre comércio. Se bem que com os globalistas a economia mundial iria rumo ao caos, ao mais infernal dos abismos. A globalização é o comércio global, o chamado livre comércio, e chineses e americanos já deram declarações de que o comércio vai continuar, e a grande prova é que depois que Trump foi eleito Nova Iorque bateu recordes na bolsa e a China sobe também. A economia, a globalização economica vai bem e vai continuar bem. Os globalistas estão ferrados. BRF foods, Brasil foods, estatal não é? Não poderia faltar o discurso esquerdista da "xenofobia"! Olho aqui e vejo que o dólar e o real continuam a se valorizar diante do Yuan, o que favorece as exportações chinesas em detrimento das importações. Outra avaliação equivocada é a de que a China é muito fechada, não é, comparada com o Brasil é uma economia aberta, apesar de comunista. O Brasil é que devia abrir mais sua economia e comprar mais dos EUA e da China. Esbarramos ainda nos privilégios de certas castas existentes no Brasil que não encontram paralelo nos privilégios nem na India. Brasilia é a campeã absoluta na quesito maior renda e menor trabalho. Uma coisa é dizer o que deve ser feito, outra é ter os meios de realizar. O Brasil nunca vai ter a produtividade de um americano se não acabar com as leis trabalhistas, nunca será um país rico se não tirar o governo do caminho no campo economico. Por isso e mais outras tantas coisas é que o Brasil possui um comércio fraco. Não devemos esquecer também os consumidores brasileiros, pois já sabemos que desvalorizar a moeda para exportar é coisa de jumento, precisamos muito mais que isso.
Muito boa avaliacao da "conjuntura" mundial: e qual a receita ou saida para noso pais?
Sr. Domingos, não há uma receita pronta para nosso país. É preciso diminuir o poder do governo central, a descentralização do poder é parte da solução, não é mais possivel viver na utopia socialista de um governo centralizado e dono de todo o poder politico, economico e social. Não há o menor sentido em pagar impostos para Brasilia para depois ir buscar de volta 20%, a educação, segurança, devem ser obrigações dos municipios. Governo federal, estados e municipios não devem interferir na economia e nas relações socias das comunidades dizendo o que produzir, como produzir e para quem produzir e com certeza menos ainda interferir nas relações sociais determinando o que os cidadãos devem pensar e como devem se comportar, para isso existem as leis e convenções sociais, sendo que estas últimas são muitos mais fortes e eficazes que o sistema judiciário. O mercado deve ser desintoxicado da interferencia governamental. Já temos a experiencia de um governo central interferindo na economia, criando campeões nacionais, empresários como Eike Batista, como aquele sujeito do banco BMG e tantos outros. A grande causa da corrupção no Brasil é a centralização do poder no governo federal, enquanto estivermos sob as leis dessa nossa constituição, qualquer um, não somente o Lula, talvez um psicopata ainda pior que ele, poderá assumir o poder e como nosso sistema permite, fazer o que bem entender. O poder é que deve ser regulado, não a atividade economica, principalmente as atividades economicas que mantêm a sobrevivencia dos mais pobres.
Boa pergunta Sr Domingos. Penso que a solução para nosso povo e nosso país seria parar de falar do passado, dos mal feitos que nos aprontaram e tomar o caminho das idéias e dos projetos novos, na certeza que temos comprador para tudo o que produzimos. Temos que pensar positivamente e trabalhar para deixar um país melhor para aqueles que vem de nós. abraços