Café: TERMINAL PERDE FORÇA E VOLTA A CAIR (Archer)
Há meses a Grécia negocia com a Troika os termos de um acordo para a liberação de aproximadamente 7 bilhões de euros. Durante o mesmo período seus bancos tem recebido o incremento de linha de crédito do Banco Central Europeu que quase triplicou o volume oferecido, de 45 bilhões para 119 bilhões. Ou seja, a exposição ao país aumentou e de uma forma ou de outra a habilidade dos gregos deve render frutos, pois o rombo em um eventual default pode ficar muito maior, forçando assim os credores a ter mais flexibilidade para assinar um novo pacto.
O FMI e o Banco Mundial pediram ao FED que não inicie este ano a normalização dos juros nos Estados Unidos, citando como motivos a recuperação desbalanceada da economia americana e o risco que a medida pode levar aos mercados emergentes.
Neste cenário o dólar americano parou de cair, as bolsas encerraram praticamente inalteradas a semana, e os principais índices de commodities devolveram os ganhos recentes. Dentre os componentes do CRB todas as matérias-primas cederam, exceção às energéticas com a demanda recente mais aquecida.
O café perdeu folego de continuar a alta, ainda que não tenha caído tanto nos últimos cinco dias. Na quarta-feira o contrato de Setembro de 2015 rompeu os US$ 140 centavos em Nova Iorque, com um empurrãozinho dado pela cotação do Real brasileiro que chegou a ficar cotado a R$ 3.0638, mas escorregou novamente no dia seguinte. Para piorar os fundos já recompraram praticamente todos os 13 mil contratos de novas vendas que tinham colocado no livro há duas semanas.
A puxada dos terminais permitiu aos produtores de Brasil, Vietnã, Colômbia e Peru negociarem seus cafés novamente. É verdade que em patamares aquém do que já viram não há muito tempo, mas dada a natureza do rally, que foi de cobertura de shorts, como comentado neste espaço nos últimos dois relatórios, a prudência e a necessidade falou mais alto.
No FOB foram reportados alguns negócios no robusta e no arábica, com embarques concentrados no terceiro trimestre de 2015 e primeiro de 2016 a diferenciais mais baratos, que não se encaixam mesmo com o enfraquecimento que vimos na semana.
A CONAB divulgou a segunda estimativa da safra brasileira 15/16, apontando para uma produção total de 44.3 milhões de sacas, sendo 32.9 milhões de arábica e 11.3 milhões de conilon. O número está na banda de baixa do intervalo que foi divulgado na primeira previsão, e difere em 4 a 5 milhões de sacas do que muitos esperam ser a colheita do robusta brasileiro o arábica não está tão diferente.
A OIC disse que o déficit do ciclo atual, 14/15, é de ao menos 8 milhões de sacas, em linha com suas estatísticas anteriores.
Nos Estados Unidos as importações acumuladas de café em 12 meses estão 1.2% menores do que o mesmo período anterior, totalizando 23,946 milhões de sacas. É de se imaginar que os estoques americanos sejam gradualmente mais utilizados, não apenas por causa dos preços mais caros das origens, mas também por causa de um eventual aperto que pode acontecer na primeira metade de 2016.
Os estoques japoneses em abril aumentaram 13.43 mil sacas, estando em 2,97 milhões, praticamente iguais há um ano.
A performance recente do mercado futuro e o posicionamento dos traders levam a crer que novas quedas devem acontecer, salvo uma desvalorização forte do dólar americano. O rompimento do nível de US$ 130 centavos do contrato de Setembro15 da ICE deve atrair novas vendas. A indústria deve participar na compra em novas quedas, o que infelizmente não significa que seja suficiente para evitar que os preços façam novas mínimas.
Terça-feira estarei em São Paulo para fazer uma apresentação sobre café no conceituado seminário promovido pela BM&F sobre os mercados agrícolas. No próximo comentário compartilharei o sentimento geral sentido.
Uma excelente semana e muito bons negócios a todos,
Rodrigo Costa*
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