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  • Luiz Carlos Pasquim Sobrinho Acreuna - GO 04/04/2010 00:00

    Suicídios de agricultores na Índia apontam para crise no setor - por James Lamont, de Nova Déli -

    A taxa de suicídio entre pequenos agricultores de Punjab é bem mais alta do que as estatísticas oficiais, de acordo com uma pesquisa independente que indica uma crise rural em um dos Estados mais prósperos da Índia.

    O Estado do noroeste do país, principal fornecedor de grãos da terceira maior economia asiática, parecia imune à onda de suicídios de agricultores endividados que varreu locais mais secos da Índia.

    Mas a pesquisa mostra que mais de dois mil agricultores em Punjab cometem suicídio a cada ano para fugir da vergonha das dívidas crônicas relacionadas aos insumos agrícolas, como sementes e pesticidas, e à queda nos rendimentos.

    De acordo com Inderjit Singh Jaijee, ativista pelos direitos humanos de Chandigarh e ex-deputado estadual, cerca de 40 mil agricultores se suicidaram nos últimos 20 anos. Muitas de suas famílias foram deixadas sem nada, e não recebem ajuda do governo.

    “Estamos falando sobre este problema dos suicídios rurais desde 1988, mas não houve nenhuma resposta do governo, até mesmo para aceitar o fato do suicídio”, diz Jaijee.

    Estatísticas oficiais dizem que 132 fazendeiros do Estado se mataram nos últimos cinco anos. A maioria dos supostos suicídios são atribuídos a causas naturais como álcool ou abuso de drogas.

    A pesquisa veio à tona num documentário chamado “Harvest of Grief” [algo como “Colheita de Luto”], que será lançado no mês que vem. O filme, apoiado pela Ekatra, uma organização não-governamental indiana, mostra o colapso da agricultura tradicional em pequena escala no Estado e as pressões dos custos altos e dos esforços do governo para manter os preços dos alimentos baixos.

    “Há uma conspiração silenciosa”, diz Rasil Basu, diretor do documentário e ex-funcionário da ONU. “É muito difícil conseguir dados porque as famílias têm muita vergonha dos suicídios. O suicídio é uma ofensa criminal.”

    Basu diz que a atribuição arbitrária de valor aos produtos feita pelo governo, a poluição da água e os agiotas gananciosos estavam levando as comunidades agrícolas vulneráveis ao desespero.

    “Para um agricultor de Punjab, a terra vale mais do que a vida”, diz ela. “Ele prefere abrir mão de suas joias, de sua mulher e filhos, do que da terra. É assim que eles chegam a abrir mão da própria vida”.

    Algumas autoridades contestam as descobertas, R. P. S. Walia, um juiz dos distritos de Moonak e Lehra, disse que nenhum caso de suicídio foi encaminhado a ele nos últimos dois anos.

    Os políticos enfatizam que precisam incentivar a economia agrícola, que sustenta a maioria dos 1,2 bilhão de habitantes da Índia. No ano passado, uma fraca temporada de monções levou à redução da produção agrícola.

    Ashok Gulati, diretor do Instituto Internacional de Política Alimentar para a Ásia, disse que a agricultura havia perdido os benefícios da liberalização dos anos 90 que ajudou a acelerar o alto crescimento econômico da Índia.

    Ele disse: “O setor está preso entre safras estagnadas de grãos, queda dos rendimentos agrícolas e aumento da incidência de suicídio entre os agricultores.”

    Punjab estava na frente da Revolução Verde, um movimento dos anos 60 para modernizar a agricultura com o uso mais intensivo de fertilizantes e pesticidas e monoculturas.

    Tradução: Eloise De Vylder

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