Chuva desafia as estradas da soja. Como sair de um atoleiro desses? E ainda tem o mercado contra...
Número de navios para soja do Brasil em março salta mais de 40%; chuva desafia logística
SÃO PAULO (Reuters) - Com a forte demanda pela soja do Brasil, a programação para embarques em março aponta para um volume de cerca de 15 milhões de toneladas, considerando o número de navios no "line-up" de exportações de cerca de 250 embarcações, um crescimento de mais de 40% na comparação com o número visto no mesmo período do ano passado, segundo dados da agência marítima Cargonave.
Se todo esse volume fosse embarcado, o Brasil até poderia superar o recorde histórico de exportações em um só mês, de cerca de 14,85 milhões de toneladas, registrado em abril de 2020, segundo dados do governo. Mas os desafios logísticos são grandes, especialmente em uma temporada chuvosa com esta, o que atrasa o carregamento da soja do campo até os portos, segundo especialistas.
"Apesar do atraso na colheita, já existe volume suficiente colhido para exportar 15 milhões de toneladas, ainda mais considerando que a colheita tende a avançar bem nas próximas semanas. A questão é se vamos conseguir transportar toda essa soja até os portos. Vai depender muito do clima. Março começou super chuvoso em diversos Estados", disse a analista Daniele Siqueira, da consultoria AgRural.
A AgRural apontou que, até a semana passada, o ritmo de colheita seguia na velocidade mais lenta em dez anos, e que o país havia colhido um quarto de sua safra até a última quinta-feira.
Isso teve impacto nos embarques de fevereiro, que caíram cerca de 40% ante o mesmo período do ano passado, para quase 3 milhões de toneladas, o que resultou uma fila maior para exportações em março.
Para Aedson Pereira, da IHS Markit, "sair tudo" que está na programação é "impossível", devido as complicações geradas pelas chuvas.
Ainda assim, ele afirmou que as exportações em março devem ser um recorde para este mês, marcando o início do período no ano em que os embarques no maior produtor e exportador global passam a ser mais fortes --as expectativas de exportações totais do país no ano superam 80 milhões de toneladas.
Em março do ano passado, os embarques brasileiros atingiram uma máxima histórica de 10,85 milhões de toneladas.
O porto com mais navios previstos para março é o de Santos, o principal para embarques de soja do Brasil, com mais de 70, segundo dados da Cargonave, enquanto no mesmo período do ano passado a expectativa era de 58 navios.
PICO DE SAFRA
Em Paranaguá (PR), são 50 embarcações, versus 32 previstas para o mesmo mês do ano passado, segundo a Cargonave.
Luiz Fernando Garcia, diretor-presidente da Portos do Paraná, disse à Reuters, que para os próximos dias Paranaguá tem sete navios em condição de atracar, já com todas as liberações e carga contratada.
Ele mencionou que outros nove navios estão ao largo, aguardando indicação de programação, e outras 22 embarcações ainda não têm toda a carga programada, e não são considerados prontos para entrar na fila do porto --essa metodologia visa evitar problemas logísticos.
"Os que esperam são os que ainda não têm toda a carga para atracar... visando garantir as boas condições logísticas", explicou.
No que diz respeito ao volume de soja no porto, ele disse que com a colheita ganhando ritmo os armazéns estão enchendo.
"Começamos a receber a pleno vapor, o nosso pátio de caminhões estava com movimento baixo, e a média em pico de safra são mais de 2 mil caminhões por dia, isso já temos, além de um número expressivo de vagões", declarou, lembrando que o movimento aumentou na última semana.
Garcia concordou que as chuvas podem limitar a velocidade dos embarques, contudo, já que paralisam as operações.
"Nos últimos 15 dias, tivemos dez dias com chuva. Nos primeiros sete, não afetou tanto, mas começa a retardar um pouco o embarque mais intenso", disse ele, ponderando que esse tipo de situação é relativamente normal em Paranaguá, que lida com mais de cem dias chuvosos por ano.
A programação de embarques de soja também é intensa em Itaqui, no Maranhão, com 28 embarcações, o dobro do visto no ano passado. Em Barcarena, no Pará, são 30 navios previstos para março, versus 19 no mesmo período do ano passado.
O porto de São Francisco do Sul, em Santa Catarina, tem quase o dobro de navios programados na mesma época do ano passado, somando cerca de 15.
Colheita de soja no PR atinge 23%, ainda atrasada; plantio de milho safrinha vai a 28%
SÃO PAULO (Reuters) - A colheita de soja 2020/21 no Paraná atingia na segunda-feira 23% da área plantada, um avanço de 15 pontos percentuais frente à semana passada, embora o atraso na comparação com as safras anteriores persista, informou o Departamento de Economia Rural (Deral) nesta terça-feira.
No mesmo momento da temporada 2019/20, o Paraná havia colhido 42% da área semeada com a oleaginosa. Considerando os últimos cinco anos, o resultado mais próximo do atual para igual período era o de 2017/18, com 27% dos trabalhos realizados.
Na última quinta-feira, o Deral promoveu um leve ajuste para baixo em sua estimativa para a atual safra de soja paranaense, passando a projetá-la em 20,34 milhões de toneladas, versus 20,39 milhões de toneladas na estimativa de janeiro.
O Estado enfrentou um atraso no plantio, em decorrência de uma seca, e depois viu o excesso de chuvas atrapalhar os trabalhos de colheita. O departamento espera que as próximas semanas tenham clima mais firme para que o produtor possa recuperar o amplo atraso frente às últimas safras.
O Deral disse ainda que 81% das lavouras de soja do Estado têm condição boa, contra 80% na semana anterior. As áreas em situação ruim permaneceram em 3%.
Em relação ao milho, a colheita da safra de verão 2020/21 do Paraná alcançou 46% da área estimada, apurando um avanço semanal de 12 pontos. No mesmo período de 2019/20, os trabalhos atingiam 37% da área.
Já o plantio da "safrinha" de milho avançou para 28% da área projetada, ante 11% na semana anterior e 61% em igual período do ano passado. O atraso acompanha o verificado na safra da soja, uma vez que a semeadura da segunda safra do cereal ocorre logo após a colheita da oleaginosa.
No relatório publicado na última semana, o Deral estimou a primeira safra de milho paranaense em 3,17 milhões de toneladas, enquanto a "safrinha" deve atingir 13,55 milhões de toneladas.
O Paraná é o segundo maior produtor de soja e milho do Brasil, atrás somente de Mato Grosso.
Plantio de trigo deve avançar no Brasil com disparada de preço, apesar de custo maior
SÃO PAULO (Reuters) - Com agricultores planejando a safra de inverno no Brasil, surge uma forte expectativa de avanço no plantio de trigo em 2021 diante dos elevados preços do cereal, que subiram mais que os custos de produção, conforme analistas e representantes do setor.
Para o presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS), Paulo Pires, a semeadura no Estado deve crescer 10%, aproximando-se da área plantada no Paraná, líder no cereal no país --juntos, os dois Estados respondem por 85% da safra nacional.
"Desde 2014 nós não ultrapassávamos 1 milhão de hectares semeados, e neste ano vamos chegar a pelo menos 1,040 milhão. Os bons preços são incentivadores", afirmou.
Ele disse que há uma perspectiva de rentabilidade mesmo diante de um cenário de custos 21,77% mais elevados no Estado.
O primeiro levantamento sobre custos de produção para o trigo de 2021 realizado pela federação mostrou que, para cobrir gastos como aquisição de insumos, manutenção de máquinas e equipamentos, combustíveis, entre outros, será necessário desembolsar 3.997,10 de reais para cada hectare produzido.
Em contrapartida, dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) mostram que o preço médio do trigo para o Rio Grande do Sul disparou quase 70% no comparativo anual, de 866,25 reais por tonelada para 1.465,02 reais no fechamento desta segunda-feira.
O gerente de consultoria agro do Itaú BBA, Guilherme Bellotti de Melo, notou que os bons preços do trigo são um incentivo a mais para os produtores gaúchos, que deverão ser estimulados também por uma grande colheita de soja, antes da semeadura do cereal.
"Combinada a soja com esses bons preços, isso pode recuperar um pouco a saúde financeira desse produtor, que no ano passado sofreu com a soja e depois no trigo", disse.
Em uma perspectiva ainda mais otimista para o Rio Grande do Sul, o consultor em gerenciamento de riscos da StoneX Roberto Sandoli afirmou que há relatos de aumento de até 30% na área de trigo prevista para esta safra de inverno.
PARANÁ
No Paraná, maior produtor do cereal no Brasil, as projeções não estão tão claras, pois ainda dependem dos desdobramentos da semeadura da segunda safra de milho, grão que concorre com o trigo em algumas regiões do Estado.
"A projeção deve sair no fim de março, estamos receosos, mas mesmo que parte do trigo seja substituída por milho safrinha, podemos dizer que a área tende a superar o total de 1,1 milhão de hectares que foram plantados com trigo no ano passado", estimou à Reuters o analista do Departamento de Economia Rural (Deral) Carlos Hugo Godinho.
Ele também acredita que os custos com sementes, fertilizantes e agroquímicos estarão maiores em função do aumento na procura, influência das cotações do câmbio e do petróleo, mas o incremento nas despesas não será proporcional à elevação no preço do trigo, em torno de 50%.
De acordo com o Cepea, o cereal encerrou a segunda-feira cotado em 1.496,38 reais por tonelada no Paraná, ante 985,49 reais registrados no mesmo período do ano anterior.
"O principal 'driver' para plantio é o aumento das margens da própria cultura... Além disso, o que pode contribuir para aumento maior de área no Paraná são produtores que vão plantar mais tardiamente e perderiam a janela do milho, migrando para o trigo", disse o gerente do Itaú BBA.
Segundo ele, considerando que o Brasil é importador do cereal, os preços estão elevados em função do câmbio, restrições ou preocupações de oferta em grandes produtores como Estados Unidos, Rússia e Ucrânia que afetam as cotações internacionais e impulsionam os valores também da Argentina, principal fornecedor da indústria brasileira.
PRESSÃO NOS MOINHOS
O resultado da disparada nos preços é um aumento na pressão sobre as margens dos moinhos, visto que há dificuldade de repasse de custos para a farinha devido ao recuo no poder de compra da população após o fim do auxílio emergencial.
"Para os moinhos, este ano vai ser difícil também, como foi o ano passado. É possível que se atenue um pouco se os preços caírem, mas não vão cair porque na Argentina a situação está apertada", disse o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Rubens Barbosa.
Ele acredita que o preço do cereal vai continuar alto e afirmou que o pouco que os moinhos estão conseguindo repassar de custos não tem sido suficiente para melhorar as margens. Ainda que o auxílio emergencial volte, não seria uma medida de efeito direto sobre a indústria.
Sobre a possibilidade de pedir uma cota adicional para compra do produto de fora do Mercosul sem a tarifa TEC, Barbosa disse que o setor vai aguardar até meados de maio ou junho e, se houver necessidade, a associação vai solicitar ao governo.
Rússia pode reduzir imposto de importação de carne de aves do Brasil, diz RIA
MOSCOU (Reuters) - A Rússia pode reduzir os impostos sobre as importações de carnes de aves do Brasil se o aumento dos preços domésticos não se estabilizar, informou a agência de notícias RIA nesta terça-feira, citando uma fonte do setor.
O governo russo impôs restrições à exportação de grãos e outras medidas na tentativa de desacelerar a inflação de alimentos em meio à pandemia de Covid-19 e à queda da renda familiar.
O possível corte de impostos foi mencionado em uma reunião de funcionários do Ministério da Agricultura e dos maiores produtores de aves da Rússia na terça-feira, na qual eles discutiram o aumento dos preços de aves e ovos, disse a RIA.
Frango e ovos são a proteína animal mais popular disponível para os russos, com a demanda doméstica crescendo nos últimos 12 meses, enquanto a produção de aves da Rússia tem diminuído neste ano, depois que alguns produtores foram atingidos por surtos de gripe aviária.
A cota russa de importação de aves para 2021 está fixada em 364.000 toneladas com imposto zero para todos os países. Fora da cota, o imposto sobe para 65%.
"Foi notado no encontro que o governo está discutindo a redução do imposto de importação da carne de frango do Brasil, que é um dos principais fornecedores desse produto, como uma possível medida de estabilização. Essa medida poderá ser tomada se outras soluções forem insuficientes", disse a RIA, citando uma fonte.
O ministério não respondeu ao pedido da Reuters de comentário sobre um possível corte no imposto sobre a importação de carne de aves do Brasil.
Suspensão de PIS/Cofins sobre diesel por 2 meses visa estudo para desoneração definitiva, diz Bolsonaro
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta terça-feira que a suspensão da cobrança do PIS/Cofins sobre o diesel por dois meses servirá para que o governo encontre formas de zerar em definitivo a cobrança de impostos federais sobre o combustível.
"O que acontece: quando você zera imposto, pela Lei de Responsabilidade Fiscal tem que arranjar recurso em outro lugar. Então fizemos um limite, esses dois meses é um prazo para a gente estudar, para a gente ver como, de forma definitiva, a gente vai zerar os impostos federais", disse Bolsonaro a apoiadores na saída do Palácio da Alvorada.
O governo publicou nesta terça o decreto com a suspensão da cobrança do PIS/Cofins sobre o diesel e uma medida provisória que sobe de 20 para 25% a alíquota da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) dos bancos para financiar a suspensão.
De acordo com dados do Ministério da Economia, eram cobrados 33 centavos de real do PIS/Cofins a cada litro de diesel vendido. Cada centavo de imposto representa, segundo o ministro da Economia, Paulo Guedes, 575 milhões em impostos arrecadados.
O governo também zerou, desde ontem, a cobrança do PIS/Cofins do gás de cozinha. Segundo o governo, a diminuição da carga tributária com essas desonerações será de 3,67 bilhões de reais em 2021. Para 2022 e 2023, a redução será de 922,06 milhões de reais e 945,11 milhões de reais, respectivamente.
Guedes diz que enquanto tiver a confiança de Bolsonaro, não deixará o cargo
SÃO PAULO (Reuters) - O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que enquanto tiver a confiança do presidente Jair Bolsonaro, não deixará o cargo, dizendo que tem a confiança tanto do presidente quanto do Congresso.
"Se ele (Bolsonaro) confia no meu trabalho e eu conseguir executar meu trabalho, tudo bem. Se ele não confiar, eu sou demissível em 30 segundos", disse Guedes em entrevista ao podcast Primocast, de Thiago Nigro, criador de O Primo Rico, canal sobre investimentos, finanças e empreendedorismo. A entrevista foi veiculada na manhã desta terça-feira.
"A ofensa não me tira daqui. O medo, o combate, o vento, a chuva, isso não me tira daqui de jeito nenhum. O que me tira daqui é um, a perda da confiança do presidente, dois, ir para o caminho errado. Se eu tiver que empurrar o Brasil para o caminho errado, eu prefiro não empurrar, prefiro sair", completou ele.
Guedes reconheceu que tem havido dificuldades em avançar com alguns projetos, destacadamente as privatizações, que ele defendeu "pelo esgotamento do modelo antigo", afirmando que o "Estado empresário faliu, quebrou".
"As privatizações estão bastante atrasadas, a reforma tributária nossa também se atrasou. A abertura da economia a gente conseguiu ir bem, mas depois chegou a Covid e travou. Mas vamos abrir de novo", disse ele.
PETROBRAS
Guedes indicou, sem dar detalhes, que o governo avalia a ideia de um programa de transferência de renda ligado aos dividendos da Petrobras.
"O petróleo é nosso? Então dá para a gente. Vamos pegar os dividendos da Petrobras e vamos entregar uma parte para o povo brasileiro", disse.
"Temos uma ideia de fazer algo parecido um pouco à frente. Vamos fazer um ataque maciço. Vamos fazer programa de transferência de riqueza na veia."
O ministro ainda estimou que o Produto Interno Bruto do ano passado contraiu um pouco menos de 4%. O IBGE divulgará o resultado do PIB do quarto trimestre e de 2020 na quarta-feira.
"O Brasil vai cair um pouquinho menos de 4%. O Brasil estava começando a decolar, a Covid nos derrubou, (mas) já estamos começando a levantar de novo. E se fizermos as coisas certas..."
"O mais importante que temos que fazer agora é vacinação em massa. Quando todo mundo estiver imunizado, a volta ao trabalho é bem mais tranquila", completou.
Bolsonaro sanciona MP que visa conter tarifas e apoiar retomada de Angra 3
SÃO PAULO (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro sancionou projeto de lei decorrente da medida provisória 998/20, que traz mecanismos para aliviar reajustes de tarifas principalmente no Norte e Nordeste e para viabilizar a retomada das obras da usina nuclear de Angra 3, segundo publicação no Diário Oficial da União desta terça-feira.
A matéria, aprovada com dois vetos pelo presidente, também visa retirar subsídios atualmente concedidos a projetos de geração renovável, como usinas eólicas, solares e de biomassa. Pelo texto, esses benefícios só serão válidos para novos projetos que obtenham outorga em prazo de até um ano da publicação da lei.
Os vetos, no entanto, são uma questão "pontual" e "não são relevantes", mantendo a essência do texto da MP, disse à Reuters o sócio da Tomanik Martiniano Sociedade de Advogados, Urias Martiniano.
A MP 998, publicada no final de 2020, foi aprovada pelo Senado em 4 de fevereiro e enviada para sanção presidencial.
Denominada pelo governo como "MP do Consumidor", ela permitirá que bilhões de reais em verbas que empresas de energia elétrica destinariam para projetos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) e eficiência energética sejam utilizados para abater aumentos de tarifas de energia até 2025.
A medida também estabelece que descontos em tarifas pelo uso da rede concedidos a usinas de energia renovável, conhecidas como "fontes incentivadas", serão retirados para novos empreendimentos, uma vez que essas tecnologias avançaram e o governo considera que o incentivo não é mais necessário.
A MP ainda traz mecanismos vistos como importantes para aumentar a segurança jurídica na retomada da construção da usina nuclear de Angra 3, da Eletrobras, que teve obras paralisadas em 2015. Isso inclui autorização para que o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) defina o preço a ser cobrado dos consumidores pela energia da usina.
Bolsonaro zera PIS/Cofins do diesel e eleva CSLL de instituições financeiras
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente da República editou um decreto e uma medida provisória para reduzir a zero as alíquotas do PIS/Cofins incidentes sobre a comercialização e a importação do óleo diesel, por dois meses, e do gás de cozinha, sem um prazo definido, informou em nota a Secretaria-Geral da Presidência da República na noite de segunda-feira.
As novas alíquotas para o diesel e do GLP residencial entrarão em vigor imediatamente, por serem definidas em decreto, sem necessidade de aprovação pelo Congresso.
Parte da compensação pela redução dos tributos, estimada pelo governo em 3,67 bilhões de reais para este ano, virá do aumento da Contribuição Social sobre Lucro Liquido (CSLL) de instituições financeiras como os bancos, também segundo o comunicado.
A compensação, que envolve ainda a alteração das regras de IPI para a compra de veículos por pessoas com deficiência e o encerramento do Regime Especial da Indústria Química (REIQ), se dará por meio de medida provisória e é justificada pela Secretaria-Geral da Presidência em função da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
As novas regras do IPI na aquisição de veículos por pessoas com deficiência também entrarão em vigor imediatamente.
"Já o final do REIQ e o aumento da CSLL das instituições financeiras somente entrarão em vigor em 1º de julho de 2021", diz o comunicado.
No caso da CSLL, a alíquota foi elevada de 20% para 25% até 31 de dezembro, de acordo com edição extra do Diário Oficial da União.
"Para que o final do REIQ não impacte as medidas de combate à Covid-19, foi previsto um crédito presumido para as empresas fabricantes de produtos destinados ao uso em hospitais, clínicas, consultórios médicos e campanhas de vacinação que utilizem na fabricação desses produtos insumos derivados da indústria petroquímica, o que deve neutralizar o efeito do fim do regime para essas indústrias, que vigorará até o final de 2025", informou o texto.
AMENIZAR VOLATILIDADE
A redução do tributo havia sido anunciada por Bolsonaro em uma transmissão por redes sociais no dia 18 de fevereiro, como resposta a aumentos nos preços de combustíveis e que levou à demissão do presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco.
"As duas medidas buscam amenizar os efeitos da volatilidade de preços e oscilações da taxa de câmbio e das cotações do petróleo no mercado internacional", afirma o comunicado divulgado na segunda-feira.
"Para 2022 e 2023, a diminuição da tributação no gás implicará em uma diminuição de arrecadação de 922,06 milhões de reais e 945,11 milhões de reais, respectivamente. Considerando que as medidas estão sendo devidamente compensadas, esse benefício não implicará em diminuição da arrecadação total da União", destacou o comunicado.
Medidas de Bolsonaro derrubam mercados e alimentam dúvidas sobre agenda liberal
SÃO PAULO (Reuters) - A postura mais intervencionista do presidente Jair Bolsonaro tem chacoalhado os mercados domésticos nas últimas semanas, empurrando o real e a bolsa de valores à lanterna entre seus pares, conforme investidores temem abandono da política econômica liberal e seus consequentes impactos sobre a agenda de reformas e o futuro das contas públicas.
O dólar saltava 1,7% nesta sessão, superando 5,70 reais e elevando os ganhos no ano para quase 10%. O Ibovespa caía 0,5%, maior queda dentre os mercados no Ocidente e aprofundando o território de correção --o índice recua 12,5% desde a máxima recorde de 8 de janeiro e amarga o pior desempenho entre mercados emergentes em 2021.
Em meio ao temor fiscal, os juros futuros disparavam nesta terça mais de 20 pontos-base nos contratos de prazos mais longos.
"Mais uma vez os mercados reagem a atuações incoerentes do presidente da República. A decisão de onerar os bancos vai distorcer ainda mais a economia, e, por causa desse risco, o investidor demanda dólares", disse Alejandro Ortiz, economista da Guide Investimentos.
Gestores já mexem as carteiras buscando mais proteção contra o aumento da volatilidade dos ativos financeiros, enquanto economistas têm revisado para cima projeções para dólar, juros e inflação, em meio a crescentes dúvidas sobre a capacidade do ministro da Economia, Paulo Guedes, de sustentar uma agenda pró-mercado.
As preocupações são intensificadas pelos potenciais impactos do recrudescimento da pandemia, que começa a colocar em xeque a trajetória esperada para a atividade econômica neste ano.
"O otimismo dos investidores permanecerá reprimido após a intromissão do governo para evitar um aumento nos preços dos combustíveis e a potencial diluição das medidas compensatórias na PEC Emergencial", disse Ernesto Revilla, chefe de economia no Citi para a América Latina.
"Assim, temos um viés negativo para os preços dos ativos no curto prazo, que pode ser revertido caso vejamos um desfecho positivo nesta semana com a votação da PEC."
No mais recente episódio que desagradou ao mercado, Bolsonaro determinou a elevação da Contribuição Social sobre Lucro Liquido (CSLL) de instituições financeiras, como bancos, para compensar redução a zero de alíquotas do PIS/Cofins incidentes sobre a comercialização e a importação do óleo diesel.
"O crédito ficará mais caro, e todos pagarão pela aventura de manipular o preço dos combustíveis", disse Sérgio Machado, gestor na TRÓPICO Latin America Investments.
Menos de duas semanas atrás, o presidente já havia mexido com os ânimos de investidores ao anunciar que o governo decidira tirar o CEO da Petrobras, Roberto Castello Branco, do cargo e substituí-lo pelo general Joaquim Silva e Luna.
O anúncio marcou o ápice de uma crise entre Castello Branco e Bolsonaro, após o executivo da Petrobras ter batido de frente com o presidente em temas relacionados a preços de combustíveis e caminhoneiros. As ações da estatal derreteram 21,5% no pregão seguinte, 22 de fevereiro.
Com a ameaça ao comando da Petrobras, o mercado voltou as atenções para o presidente-executivo do Banco do Brasil, André Brandão, que manifestou a interlocutores desconforto em permanecer no cargo diante dos acontecimentos.
Desde 19 fevereiro --quando Bolsonaro anunciou intenção de trocar o CEO da Petrobras, gerando receio em efeito dominó sobre outras estatais--, os papéis do BB recuam quase 12%.
"Aos poucos, está havendo uma clara mudança de política econômica neste governo", afirmou Dan Kawa, sócio da TAG Investimentos. "Espero que parem por aí, mas os sinais são de que o liberalismo econômico ficou de lado e o populismo começa a ganhar o espaço na agenda."
Não bastassem as investidas do governo sobre estatais, o mercado ainda precisa lidar com riscos de um fatiamento e diluição do texto da PEC Emergencial --que cria gatilhos para conter gastos públicos e cuja aprovação é defendida por Guedes como contrapartida à elevação de despesas com um novo auxílio emergencial.
Esse é apenas mais um de vários reveses sofridos por Guedes nos últimos meses e agudiza a sensação de enfraquecimento do ministro, que há uma semana foi chamado de "âncora" do governo pelo presidente Bolsonaro. Nesta manhã, o ministro afirmou que enquanto tiver a confiança do presidente não deixará o cargo.
"Embora tenha dito que está se comunicando bem com Bolsonaro, (Guedes) disse que preferiria sair do cargo a empurrar o Brasil para o caminho errado. Isso acaba assustando um pouco os mercados", afirmou Paloma Brum, economista da Toro Investimentos.
O quadro geral de incerteza tem forçado elevações de estimativas para o dólar. Apenas na semana passada Goldman Sachs, Itaú Unibanco, Bradesco e Rabobank aumentaram as projeções.
O salto do dólar tem forçado o Banco Central a ser mais atuante no mercado. Apenas nesta terça, o BC já vendeu 2,095 bilhões de dólares à vista, depois de operações semelhantes nos últimos dias.
Alguns analistas, porém, avaliam que o mercado pode estar reagindo com exageros ao noticiário recente sobre interferência política em empresas estatais.
"Temos a classificação de 'Compra' para a Petrobras, visto que vemos uma avaliação atraente nos níveis atuais para a empresa em nosso cenário-base", disse o Goldman Sachs.
Para o Bradesco BBI, os reflexos dos aumentos de tributos sobre bancos devem ser "bem menos pronunciados", considerando os impactos já embutidos nas ações, o que geraria oportunidade de compra. Ainda assim, o banco adota cautela.
"Infelizmente, reconhecemos que essas notícias criam outro precedente negativo para o setor... Assim, mesmo se a alíquota (de CSLL) realmente cair em janeiro (de 2022), o mercado deve ficar mais cauteloso quanto à possibilidade de voltarem a subir no futuro. Para nós, essa é uma má notícia, não só para os bancos e seguradoras, mas provavelmente para todos", concluiu o Bradesco BBI.
(Edição de Maria Pia Palermo)
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