Itaú BBA: O El Niño e a mudança no cenário de trigo
O cenário característico do fenômeno El Niño, com aumento e concentração das precipitações na região Sul do país desde o 3o tri deste ano, coincidiu com uma das maiores colheitas de trigo da história do Brasil. Segundo a CONAB, a projeção em set/23 era de 10,8 MM de t para 2023. Porém, o principal estado produtor, o Rio Grande do Sul, foi acometido por chuvas muito intensas no momento da maturação e colheita do cereal. Já no Paraná, segundo maior produtor, grande parte da colheita conseguiu avançar sem maiores problemas.
Com a colheita do cereal praticamente encerrada no país, a oferta nacional deve ser menor e com qualidade inferior. Segundo o último relatório da CONAB, que considerou os impactos das chuvas e o ritmo de colheita, a projeção foireduzida para 9,7 MM de t, queda de 11% frente às projeções de setembro e 8,7% inferior ao ano passado. O consumo estável e a produção menor indicam uma relação estoque/consumo baixa, levando-se em conta o histórico.
Conforme esse cenário de menor oferta e escassez de trigo de qualidade foi se consolidando, os preços também reagiram, interrompendo um ciclo de queda de quase um ano, quando o mercado ainda via um quadro de oferta abundante do cereal. Vale destacar que deve haver uma disparidade de preços entre as praças em função das diferenças de qualidade, com o RS prejudicado.
Segundo a Safras & Mercado, cerca de 70% do trigo colhido no RS está abaixo do PH 78, indicador de qualidade, de modo que, esse cereal deve ser classificado como trigo ração (feed wheat) cuja oferta será maior. Esse tipo de produto deve ter, também, um desconto maior frente ao trigo padrão. No estado paranaense, os preços do cereal devem seguir firmes em função da busca dos moinhos pelo cereal de maior qualidade (PH>78).
Mercado deve aumentar as importações
Antes dos estragos ocasionados pelas chuvas, o cenário era de mercado superavitário, ou seja, preços conversando com a paridade de exportação em função de oferta maior que a demanda local. Contudo, com a maior disponibilidade de produto de baixa qualidade e necessidade de matéria-prima para a produção de blends de farinhas, a indústria deve recorrer às importações.
Com esse fluxo maior de compras externas de trigo, os preços devem caminhar para uma maior correlação com a paridade de importação e se manterem mais firmes, principalmente no momento de entressafra.
Vale destacar que a Argentina também anda sofrendo com o clima nas lavouras locais. O potencial inicial de produção do país era de 18 MM de t, e, segundo a última projeção da Bolsa de Rosário, deverá ficar em 11,8 MM t, queda de 34% frente à projeção inicial, o que pode dar firmeza aos preços no porto. Contudo,outras origens de trigo já têm entrado no país. O produto russo, por exemplo, já representa pouco mais de 20% das importações acumuladas entre jan-out desse ano.
Precificação deve serfeita na ponta do lápis
Os preços ao produtor devem seguir mais firmes, contudo, como as cotações internacionais estão mais arrefecidas em função da ampla oferta russa, isso pode moderar as altas. Atenção aos altos custos de armazenagem e de oportunidade do trigo de qualidade, estocados aguardando preços ainda mais elevados. Além disso, com as cotações indo em direção às paridades de preços internacionais, a maior correlação com a Bolsa de Chicago pode garantir oportunidades de fixações de moeda e do cereal a preços interessantes.
Para indústria, atenção aos estoques e ao fluxo de aquisições, visto que a safra argentina tem grande parte da colheita ainda por vir num cenário de chuvas que devem ser persistentes nas próximas semanas, o que pode atrasar e frustrar ainda mais a oferta desta origem. Fixações em Chicago também não devem ser descartadas, visto que o período de entressafra deve dar suporte aos preços locais.
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