Avanços em tecnologia e gestão melhoram eficiência de usinas sucroenergéticas e consolidam Brasil como líder global do setor
Após um período crítico entre as décadas de 2000 e 2010, cerca de 24% das usinas sucronergéticas do Brasil foram à falência ou passaram por processo de recuperação judicial. Essa condição foi trazida à tona no início deste mês pela RPA Consultoria, entretanto, esse período crítico permitiu uma renovação no país, com diversos avanços tecnológicos que levaram as indústrias a um novo patamar de eficiência e sustentabilidade, o que levou o Brasil à liderança global na produção de açúcar e etanol.
Como explicou Ricardo Soares de Arruda Pinto, diretor da RPA Consultoria, esse quadro de falências e recuperações judiciais advém de problemas de crescimento do endividamento para aumento de capacidade de produção entre 2005 e 2010, o que foi seguido da crise financeira mundial de 2008, incrementada com algumas safras com secas mais severas e com preços de etanol represados artificialmente pela Petrobras nos governos da ex-presidente DilmaRousseff. “Obviamente, não há como desconsiderar também os problemas de gestão nas usinas afetadas, especialmente da gestão de risco”, acrescenta.
Haroldo Torres, gestor do Pecege , conta que durante a década de 2010, o setor sucroenergético enfrentou um período de intensa crise, marcado por fatores estruturais e conjunturais que levaram a esse cenário de falência ou processos de recuperação judicial. Como ele explica isso foi agravado por diversos motivos.
O primeiro fator apontado por Torres é a mecanização da colheita. Segundo ele, a transição forçada para a mecanizada, especialmente em regiões com condições de solo desafiadoras, elevou os custos de produção para muitos produtores e usinas, dificultando a adaptação, principalmente para as unidades menos capitalizadas.
Outro detalhe, assim como também apontado pelo diretor da RPA Consultoria, o congelamento de preços dos combustíveis durante o governo Dilma Rousseff, com a política de controle de preços da gasolina pela Petrobras, reduziu a competitividade do etanol no mercado interno, impactando diretamente a demanda e as margens das usinas.
Mais um ponto elencado por Torres foram as oscilações nos preços de commodities. De acordo com ele, a as flutuações nos preços internacionais do açúcar e do etanol, aliadas à desvalorização cambial, afetaram a rentabilidade das usinas, sobretudo aquelas com altos níveis de endividamento.
Por fim, Torres afirma que muitas usinas foram afetadas na questão da gestão e alta alavancagem, pois, muitas enfrentaram problemas relacionados à capacidade de lidar com dívidas acumuladas durante ciclos de baixa rentabilidade.
Porém, como o gestor do Pecege ressalta, o cenário atual do setor sucroenergético é substancialmente mais favorável. “Embora o setor tenha enfrentado grandes desafios na década de 2010, a recuperação e os avanços tecnológicos levaram a um ambiente de maior eficiência e sustentabilidade”, diz.
“Hoje, o setor sucroenergético é mais resiliente, contribuindo significativamente para a economia brasileira e oferecendo melhores perspectivas para produtores e usinas. O impacto nas próximas safras é positivo, consolidando o Brasil como líder global na produção de açúcar e etanol” completa Torres.
Esse desenvolvimento, segundo ele, se deve à consolidação do setor, pois a crise da década passada levou a um movimento de fusões e aquisições, com usinas mais eficientes adquirindo operações problemáticas, fortalecendo o setor como um todo.
Outro ponto que contribuiu para isso foi a demanda aquecida por etanol e açúcar. Como ele afirma, a recuperação econômica global, aliada a preços competitivos no mercado internacional, tem impulsionado as exportações de açúcar e a produção de etanol no Brasil.
Além disso, atualmente há também políticas favoráveis, como o programa RenovaBio e a valorização dos biocombustíveis. Isso fortaleceu o papel do etanol na matriz energética brasileira, promovendo maior estabilidade para o setor.
Para concluir, Torres cita também a inovação e sustentabilidade. “Investimentos em tecnologia têm elevado a produtividade e reduzido custos operacionais, enquanto a diversificação com cogeração de energia e produtos como biogás têm ampliado as receitas das usinas”, completa.
Diante dessa evolução, atualmente o Brasil é o segundo maior produtor de etanol do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos que conta com uma produção a partir do milho de cerca 57,5 bilhões de litros, segundo dados da Agência Internacional de Energia (IEA, sigla em inglês), enquanto que o total brasileiro é de 35,6 bilhões de litros, estimado para a próximo ano com novo aumento pela Safras & Mercado, com a expectativa de que esse número chegue a 37,35 bilhões de litros.
Em relação ao açúcar, o Brasil fica à frente da Índia e é maior produtor mundial, como mostram dados do USDA. Enquanto que a produção indiana na safra 2023/24 foi de 34 milhões de toneladas, a brasileira chegou a 45,54 milhões de toneladas, 25% do total mundial. De acordo com dados da Safras & Mercado, a expectativa é de que esse total fique em 45,08 milhões de toneladas em 2024/25 e chegue a 46,10 milhões de toneladas em 2025/26.
Ao Notícias Agrícolas, a Tereos, uma das principais produtoras de açúcar e etanol do Brasil, afirmou que a introdução de novas tecnologias e o foco em inovação têm sido fundamentais para a transformação do setor sucroenergético. “Acreditamos que a modernização de processos produtivos, desde o plantio até a produção, eleva a eficiência operacional, a competitividade e a sustentabilidade das usinas”
Além disso, a empresa destaca também que o investimento em sustentabilidade garante que o setor continue relevante no cenário global. “Práticas como o uso de biomassa para geração de energia, a redução das emissões de carbono e o reaproveitamento de resíduos agrícolas transformam o modelo produtivo em um ciclo mais limpo e sustentável. Isso não só melhora a viabilidade ambiental do negócio, mas também atende à crescente demanda por produtos com menor impacto ambiental, agregando valor ao mercado e aos consumidores”.
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