O mercado de açúcar deve se preocupar com uma recessão? Confira análises da hEDGEpoint Global Markets
A macroeconomia tem sido responsável por algumas mudanças no mercado de commodities recentemente. Com a quebra de alguns bancos norte-americanos e tensões em relação às instituições europeias, o mercado atravessou um período de forte aversão ao risco, seguido de uma certa acomodação com sentimentos mistos. O aumento das taxas de juros em meio à inflação persistente levou a questionamentos sobre se estamos à beira de outra recessão. Neste relatório, pretendemos discutir como se comportou o mercado de açúcar e, assim, tentar esboçar o que pode acontecer em mais um ano de recessão -- se isso acontecer.
Claramente, a cautela do mercado não é infundada: o spread entre os títulos do Tesouro dos EUA de 10 e 2 anos geralmente sinaliza uma recessão chegando quando entra na faixa negativa: e aqui estamos nós novamente. Os períodos destacados em cinza no Gráfico 01 são períodos de recessão, que se seguiram a essas reversões.
Antes de analisar o comportamento do açúcar a cada recessão, é importante destacar que seu consumo é altamente inelástico, portanto, mudanças na oferta tendem a adicionar mais volatilidade aos seus preços quando se trata de fundamentos.
A primeira recessão a ser discutida ocorreu há mais de 40 anos, durante as safras 81/82 e 82/83. Ambas as temporadas foram marcadas por excesso de produção (5,9Mt e 5,6Mt respectivamente), o que significa que não havia fundamento que pudesse impedir o sentimento de risco de afetar o açúcar, e seus preços caíram 71%, de aproximadamente 37 USc/ lb a 10,5 USc/lb. Além disso, a desaceleração econômica teve seu início com a crise energética de 1979 e foi potencializada pela política de “stop-go” praticada naquele período. Por acreditar que poderia reduzir o desemprego por meio do aumento da inflação, o FED levou a economia a uma situação instável e, quando o aperto monetário foi adotado, a recessão se instaurou. Logo a crise se espalhou e os países emergentes, como o México, sofreram mais. Entre eles, muitos produtores de açúcar.
Indo para a segunda ocorrência, nos anos noventa, não só o excedente de açúcar não estava tão garantido (2,6Mt), como a recessão não foi tão longa e profunda quanto a anterior. Com isso, os preços do açúcar foram afetados, mas de forma mais suave do que antes -- caindo apenas 8%. Associado à incerteza geopolítica -- Guerra do Golfo -- o mundo assistiu a um forte aumento dos preços do petróleo. A fraqueza do mercado financeiro herdada dos anos 80 não ajudou, e vários países ocidentais enfrentaram dificuldades, especialmente na América do Norte e na Europa.
No início dos anos 2000, o mundo enfrentou outra crise conhecida como a “dotcom bubble”. Depois de uma década de mercado em alta com baixa inflação e taxa de desemprego, deu-se início a uma correção. A recessão afetou principalmente os países industrializados e não foi tão relevante quanto as duas anteriores. No entanto, durante seu pico (2002), o mercado de açúcar estava em baixa: cerca de 4,2Mt de excedente. Os preços que já eram reduzidos caíram de 6,8 USc/lb para 5 USc/lb, uma correção de 25%. Na sequência, entretanto, o mercado do adoçante entrou em tendência de alta devido a três anos de déficits consecutivos, atingindo 10,85 USc/lb no final da safra 05/06, tendo atingido 19 USc/lb no início de 2006.
A grande recessão veio um ano depois quando, ainda em 2007, a economia norte-americana começou a apresentar queda na atividade econômica -- principalmente no mercado imobiliário. O período entre 2007 e 2009 é considerado a recessão mais significativa desde a Grande Depressão dos anos 30. Durante esse período, o clima não ajudou muito, pois desacelerou a colheita brasileira e penalizou a produção de cana na América Central e nos EUA. Além disso, naquele ano-safra, a Índia passou de exportadora a importadora, pressionando os estoques nas origens. Portanto, embora o contexto global não fosse favorável, os preços subiram 90% durante a recessão, de 13,7 USc/lb para 26,2 USc/lb, tendo atingido a marca de 30 USc/lb.
Por último, mas não menos importante, em 2021 a economia global enfrentou a recessão do Covid-19. Embora de curta duração, foi um ano de desaceleração econômica: crescimento tímido e baixo consumo impulsionado por lockdowns. Nesse período, o Brasil enfrentou sua mais recente quebra de safra. A cana-de-açúcar não só já havia sido penalizada pela falta de chuvas, como também foi atingida por geadas e incêndios, decorrentes da ocorrência do La Niña. Isso levou a uma queda no teor de sacarose e na produtividade agrícola. Esta última foi a mais afetada, pois as usinas tiveram que mudar a logística e antecipar a moagem. A safra 21/22 do Centro-Sul viu o volume de cana cair de 605Mt para 523Mt -- uma quebra de quase 14%. Assim, o açúcar encontrou suporte nos fundamentos e, embora a macroeconomia tenha impulsionado uma tendência de baixa, os preços do adoçante subiram cerca de 8%, fechando 2021 em cerca de 19 USc/lb.
Fica claro que os fundamentos são uma grande parte da equação de preço. Mesmo na pior recessão recente, o adoçante encontrou suporte no aperto do mercado -- claro que em meio à alta volatilidade. Portanto, pode-se esperar que, se uma nova desaceleração econômica se confirmar, o atual mercado altista ainda pode encontrar suporte no hiato da produção de açúcar.
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