Outra guerra comercial EUA-China pode derrubar preço da soja norte-americana abaixo de US$9/bushel, diz Rabobank
Por Karl Plume
CHICAGO (Reuters) - Os preços da soja dos EUA podem cair para menos de 9 dólares por bushel, bem abaixo do custo de produção dos agricultores e o patamar mais baixo desde 2020, se as ameaças de tarifas do presidente eleito Donald Trump desencadearem outra guerra comercial com a China, disseram analistas do Rabobank.
A guerra comercial pode permitir que o Brasil domine ainda mais as importações de sementes oleaginosas pela China e forneça até o recorde de 80% das necessidades totais de importação de Pequim, disseram os analistas em relatório interno do RaboResearch que se tornou público nesta segunda-feira.
A China é o maior comprador de soja do mundo e um mercado crucial para os agricultores dos EUA e do Brasil, que fornecem a maior parte das importações chinesas. Cerca de 74% das importações de soja da China vieram do Brasil no ano comercial de 2023-2024.
Trump prometeu impor tarifas de 10% sobre as importações globais, juntamente com uma tarifa de 60% sobre os produtos chineses, gerando preocupações de que Pequim retaliaria com tarifas próprias sobre produtos agrícolas, como a soja. As tarifas de Trump em 2018 deram início à última guerra comercial entre os países.
"Se forem impostas tarifas adicionais, espera-se que a China retalie imediatamente, visando grãos e sementes oleaginosas, especialmente a soja", disseram os analistas.
Outra guerra comercial entre os EUA e a China representaria um duro golpe para os agricultores norte-americanos, que viram a renda agrícola líquida cair quase 23% desde 2022, de acordo com os dados mais recentes do Departamento de Agricultura dos EUA.
Os preços de referência da soja, a maior exportação agrícola dos EUA em valor, e de outras grandes culturas, como o milho, estão oscilando perto das mínimas de quatro anos, devido à ampla oferta global, incluindo a expectativa de grandes safras no Brasil. Os futuros da soja nos EUA ficaram em torno de 9,98 dólares por bushel na segunda-feira.
Se houver uma nova guerra comercial entre as duas potências globais, os agricultores dos EUA, que semearam 35,2 milhões de hectares (87,1 milhões de acres) da oleaginosa no ano passado, poderão reduzir o plantio em até 5 milhões de acres nesta primavera, segundo analistas.
Essa queda pode reduzir a matéria-prima doméstica necessária para os fornecedores de biocombustíveis dos EUA.
A dependência de Pequim em relação às importações dos EUA diminuiu desde o primeiro mandato de Trump, pois a China expandiu as importações do Brasil e reforçou suas reservas estatais de soja, além de ajustar as rações de alimentação do gado para depender menos da soja importada.
"Esses três fatores criam um cenário em que a soja dos EUA poderia ser completamente excluída do mercado chinês em uma possível nova guerra comercial", disseram os analistas do Rabobank.
(Reportagem de Karl Plume em Chicago)
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