Soja: Nova fase de guerra comercial com Trump II pode tirar de US$ 1,50 a US$ 2/bushel no preço em Chicago e reduzir área nos EUA
O governo Trump II vai trazer a Trade War II? Essa é a pergunta que todos os agentes do mercado se fazem agora, sobre a qual especulam desde que Donald Trump venceu as eleições presidenciais norte-americanas em novembro passado, mas que só trará respostas efetivas e claras a partir do dia 20 de janeiro, que é quando Donald Trump retoma seu posto na Casa Branca como o chefe de estado da maior economia do mundo. Até lá, em mais duas semanas, o que mais o mercado tem é espaço para continuar se perguntando. E no cenário das commodities agrícolas, em especial no complexo soja, os questionamentos são ainda mais frequentes e já geram impactos aos preços há meses.
A imprevisibilidade deverá marcar de forma bastante evidente - e porque não dizer agressiva - o caminhar dos mercados até que as políticas de Trump, em seu novo governo, sejam conhecidas. E não só suas políticas, mas, principalmente, suas relações diplomáticas, geopolíticas, além de todas as questões ligadas à tecnologia - um dos pontos mais sensíveis entre os dois países.
"O mercado da soja já vive uma guerra comercial desde o dia 5 de novembro. Somente a Sinograin tem comprado soja nos EUA e não é muito, porque o programa deles deste ano, de soja, de rodízio de estoques não está com a bola cheia, isso porque no ano passado o programa foi grande. O restante, as crushers privadas, só compram no Brasil, e isso não vai mudar, a não ser que a China já se acerte com os EUA no começo e a chance disso acontecer é quase nula", afirma Eduardo Vanin, analista do complexo soja da Agrinvest Commodities, em entrevista ao Bom Dia Agronegócio, no Notícias Agrícolas.
A principal diferença entre o cenário atual e o vivido na temporada 2018/19 é que o mercado, desta vez, já conhece Donald Trump enquanto presidente dos Estados Unidos e também por isso, entre outros fatores, o impacto de novas tarifas pode ser menos severo, segundo especialistas. Ainda assim, eles acreditam que a retaliação por parte da nação asiática deverá ser imediata ao passo em que novas tarifas americanas sejam impostas sobre seus produtos e que sua mira central deverá estar sobre as commodities, e mais certeira ainda sobre a soja.
Um estudo realizado pelo RaboResearch - um instituto de pesquisa do banco internacional Rabobank - aponta que a chance de que o cenário se desenvolva desta manheira é bastante elevada e que uma nova fase da guerra comercial entre os dois gigantes poderia promover uma baixa de US$ 1,50 a US$ 2,00 por bushel nos preços da soja na Bolsa de Chicago, além de ocasionar ainda uma diminuição de área cultivada com a oleaginosa nos EUA na ordem de pouco mais de 2 milhões de hectares (ou 5 milhões de acres).
Os dados levantados estimam ainda que caso o governo americano traga uma nova rodada de tarifa aos produtos da China, o país de Xi Jinping poderá trazer taxas de até 25% para grãos e oleaginosas dos EUA. Os movimentos de ambos os países podem provocar uma corrida expressiva dos demandadores chineses para o mercado da América do Sul, em especial para a soja do Brasil, que este ano deve contar com a maior safra da história da sojicultura global: algo perto de 170 milhões de toneladas.
"Quando as tarifas chegaram em 2018, elas foram reduzidas por dois anos, já que o comércio agrícola quase parou. O RaboResearch observou que os produtores norte-americanos reduziram a produção de soja em 20% na temporada 2019. Em meados de maio do mesmo ano, os preços da oleaginosa caíram para quase US$ 8,00 por bushel, o menor desde 2008. As exportações para a China não se recuperaram até o ano de comercialização de 2020/21. O governo Trump respondeu pagando aos agricultores US$ 23 bilhões pelas exportações perdidas em 2018 e 2019", mostra o levantamento da instituição.
Em 3 de janeiro deste ano, Trump escreveu em seu perfil na rede social X: "As Tarifas, e somente as Tarifas, criaram essa vasta riqueza para o nosso País. Então mudamos para o Imposto de Renda. Nunca fomos tão ricos quanto durante esse período. As tarifas pagarão nossa dívida e, FAZER A AMÉRICA RICA NOVAMENTE!".
The Tariffs, and Tariffs alone, created this vast wealth for our Country. Then we switched over to Income Tax. We were never so wealthy as during this period. Tariffs will pay off our debt and, MAKE AMERICA WEALTHY AGAIN! https://t.co/ZuAi9qCdai
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) January 3, 2025
Ainda olhando para as estimativas do RaboResearch, o percentual do comércio global de soja que hoje é dominado pelo Brasil de 74% poderia, com uma nova guerra comercial, chegar aos 80%, ou até mesmo superar esta cifra. Paralelamente, estudos feitos pela ASA (American Soybean Association) e pela NCGA (National Corn Growers Association) apontam que um novo momento como este, de disrupção entre as duas maiores economias do mundo, poderia gerar uma perda de valor de US$ 5 bilhões a US$ 8 bilhões para os produtores norte-americanos de soja e milho, com, pelo menos, US$ 1,00 a menos por bushel de soja no preço praticado.
Até este ponto, os programas norte-americanos de exportação têm estado em boa forma, comportando-se melhor do que no mesmo período do ano passado, em especial o de milho. Até a última semana, os EUA já havia comprometido mais de 38,8 milhões de toneladas do cereal 2024/25 -p 30% mais do que há um ano - e, no caso da soja, as vendas acumuladas eram de de 40,17 milhões de toneladas - 11% a mais na comparação anual.
Analistas e consultores de mercado, diante do que se observa, têm atribuído este comportamento forte das exportações não só a uma maior competitividade dos produtos dos Estados Unidos neste momento, mas também a uma certa antecipação dos compradores chineses - neste caso em especial para a soja - garantindo que estejam bem abastecidos nestes primeiros meses do ano, antes que Trump tome posse.
Apesar de todas essas conjecturas possíveis, há um ponto, em especial, que diverge de forma muito expressiva do ocorrido há sete anos. Desta vez, Xi Jinping foi convidado para a cerimônia de posse de Trump e o ato surpreendeu a todos. "E quando o mercado viu isso, viu uma possibilidade de diálogo. Não houve ainda confirmação se Xi vai comparecer, mas se isso acontecer, quer dizer que pode haver uma possibilidade de diálogo e o mercado vai se atentar a isso", explica, em entrevista ao Bom Dia Agronegócio, a analista de mercado da Pátria Agronegócios, Lorrane Ferreira.
"Trump consegue movimentar toda a economia global. Durante toda a corrida eleitoral vimos a China apresentar uma demanda maior, tudo por conta de especulações. E é importante dizer que não é Trump que coloca tarifas sobre essa soja que o chinês compra. As tarifas são impostas em outros produtos e, em retaliação a isso, a China coloca essas tarifas em seu mercado que vai importar essa soja dos EUA. E um ponto interessante é que essas tarifas são pagas ao governo e grande parte das compras realizadas nos EUA são feitas por estatais, ou seja, é o governo pagando para o próprio governo", complementa.
Frente a isso tudo, ainda como explica Eduardo Vanin, a preocupação ainda maior para a formação dos preços da soja é para a temporada 2025/26, o que exige com que o produtor tenha uma gestão ainda mais detalhada de seus negócios nos próximos meses. "As coisas vão piorar porque as compras são só aqui no Brasil, e os prêmios não vão compensar, não estão compensando, porque a safra é muito grande. Pode ser que lá no final do ano a soja se valorize, mas o produtor terá capacidade de segurar toda essa soja até o final do ano? O produtor tem que evitar estas exposições e 2025 pode ser o ano mais complexo que já vivemos".
Assim, embora pareça que o mercado sofra mais com perguntas do que com as poucas repostas que já tem neste momento, elas parecem ser suficientes para indicarem ao produtor brasileiro que os novos negócios precisam ser reflexo de uma boa estratégia, uma vez que a demanda é presente, maior, porém, insuficiente para garantir um colchão alto para os preços. A pressão será inevitável, porém, estar exposto a ela, não.
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