Usinas do Brasil aceleram colheita de cana, mas temem rendimento menor ao fim da safra
Por Marcelo Teixeira
BEBEDOURO, São Paulo (Reuters) - As usinas de cana no centro-sul do Brasil estão relatando uma rápida taxa de processamento na safra 2018/19, ao fecharem o primeiro mês de colheita ajudadas pelo clima mais seco do que o normal, o que contribui para acelerar os trabalhos no campo.
Algumas usinas da região de Ribeirão Preto (SP) colheram até 10 por cento mais cana do que o esperado para o mês de abril, dificilmente perdendo turnos de 24 horas de atividades por causa de chuvas.
Mas a falta de umidade está aumentando as preocupações com o rendimento agrícola no final da safra, uma vez que a cana ainda em desenvolvimento não está obtendo condições necessárias para crescer.
O centro-sul do Brasil é a maior região produtora de açúcar do mundo, respondendo por cerca de um terço do comércio global do adoçante. Espera-se que a região produza uma safra de cana menor neste ano, vista pelo governo em 580 milhões de toneladas, em meio ao envelhecimento dos canaviais e tratos culturais aquém do ideal.
A Reuters visitou canaviais na semana passada na região de Ribeirão Preto e conversou com supervisores de colheita e diretores de usinas para ter uma noção do desenvolvimento dos trabalhos de campo.
"Eu não me lembro de termos parado a colheita em nenhum momento até agora", disse Paulo de Andrade Barbosa, supervisor de colheita na Tietê Agroindustrial, empresa controlada pela norte-americana Proterra Investment Partners LP.
Ele liderava duas frentes de colheita no município de Bebedouro, com três equipes de homens e máquinas trabalhando em turnos de oito horas cada. Uma vez iniciada a safra, as usinas costumam colher ininterruptamente, dia e noite, parando apenas quando chove.
Ele disse que o trabalho estava à frente de uma meta estabelecida pela empresa de atingir uma média de 12 mil toneladas de cana por períodos de 24 horas de operação em abril, observando que "estamos atualmente em 12,3 mil toneladas".
De acordo com o serviço de informações climáticas do terminal Eikon da Thomson Reuters, a região de Ribeirão Preto não registrou chuvas generalizadas desde 4 de abril. A precipitação acumulada para a região do início de março até o final de abril foi de 164 milímetros, abaixo da média de 219 milímetros para o período.
Odair Marambello, que lidera frentes de colheita da usina Viralcool, em Pitangueiras, disse que a empresa decidiu até suspender o plantio de cana que seria destinado para a safra do ano que vem até que condições climáticas mais favorávies apareçam.
"Se não chover logo, a parte final da safra ficará menor", disse ele, referindo-se à cana a ser colhida por volta de setembro.
A Viralcool está associada à Copersucar, a cooperativa brasileira que faz parceria com a Cargill na joint venture de comercialização de açúcar Alvean.
Gerson Ferreira, diretor da Usina Itajobi, em Marapoama, confirmou essa visão para o último terço da safra, dizendo que a usina já projeta uma queda de 10 por cento no volume total.
O trabalho de campo no centro-sul do Brasil normalmente vai de abril até o final de novembro, mas sob o ritmo atual, Ferreira diz que pode terminar mais cedo.
O executivo ressaltou que as chuvas são necessárias para impulsionar a brotação de cana após a colheita. Plantas de cana geralmente duram cinco ou seis anos. Elas brotam após o corte e crescem para estarem prontas para outra colheita no ano seguinte.
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