Soja: Apesar da disparada em Chicago nesta 3ª, BR tem menores preços dos últimos 3 anos
Os preços da soja no mercado brasileiro, em especial nos portos, tem seus menores níveis dos últimos três anos. O diagnóstico é do consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, que afirma que o período tinha preços acima dos R$ 120,00 em praticamente todo o interior do Brasil. Afinal, nos portos, entre 2021 e 2023, os preços oscilaram entre R$ 167,00 e R$ 186,00, considerando os indicativos para fevereiro, nos terminais de Paranaguá, Rio Grande e Santos. Os cenários de oferta e demanda são distintos, o de câmbio e prêmios também e isso resulta, principalmente, em um cenário de margens muito ajustadas para os sojicultores em, praticamente, todas as regiões produtoras do Brasil.
Nesta terça-feira (30), em que os futuros da soja registraram um respiro em Chicago depois de baixas agressivas - e até mesmo da perda dos US$ 12,00 por bushel no contrato março - os indicativos nos portos chegaram a testar preços mais altos, porém, distantes ainda do que seria o ideal para uma cobertura de custos e margens saudáveis. As cotações, nesta terça, subiram até R$ 4,00 por saca no país, registrando a maior variação positiva do ano no mercado nacional, como explicou o analista de mercado Eduardo Vanin, da Agrinvest Commodities, em entrevista ao Notícias Agrícolas, no fechamento do mercado. Segundo ele, os prêmios também melhoraram e contribuíram para o movimento.
O dia se concluiu com ganhos de mais de 2% - variando entre 19,25 e 24,75 pontos, com o março sendo cotado a US$ 12,18 e o maio com US$ 12,27 por bushel.
Veja a entrevista na íntegra:
Durante o dia, as cotações nos portos orbitaram entre R$ 116,00 para fevereiro/março e para junho - a melhor posição neste momento, ainda segundo Brandalizze - batia nos R$ 126,00. Operando nestes níveis nos portos, no interior, as cotações vão superar ligeiramente os R$ 90,00 ea depender do local e das condições de cada produtor, em especial, logística.
Em relação aos três últimos anos - 2021, 2022 e 2023 - a baixa supera 30% ao se comparar a referência de preço da soja no porto em 30 de janeiro. Nesta data, em 2021, o porto paranaense registrava R$ 172,00 por saca; em 2022, R$ 186,00 e em 2023, R$ 173,50. Apesar das diferenças de um ano para outro neste período, as mudanças não foram tão agressivas como a observada em 2024, e isso mesmo diante de uma diferença considerável entre os futuros da oleaginosa em Chicago. Há três anos, o março tinha US$ 13,70; há dois US$ 14,90 e há um ano, US$ 15,35 por bushel.
Neste quadro, o alerta de Vlamir Brandalizze é claro: os próximos 90 dias ainda serão de dificuldades. O espaço para um respiro das cotações é muito estreito, enquanto novas surpresas desagradáveis ainda podem aparecer. "A colheita está acontecendo aqui no Brasil e o mercado olha para isso. Os prêmios podem bater 150 pontos negativos ainda", explica o consultor. E caso isso se confirme, "estamos falando de uma soja entre R$ 110,00 e R$ 112,00 nos portos, abaixo dos R$ 100,00 no interior e, em alguns locais como Mato Grosso, até levemente abaixo dos R$ 90,00 por saca".
Neste período, alguma mudança pode até surpreender o mercado e a formação de preços no mercado brasileiro, porém, elas ainda aparecem de forma pouco frequente no horizonte. Entre estes fatores podem estar algum avanço mais intenso do dólar - sendo cotado agora a R$ 4,95, contra R$ 5,47 de 2021; R$ 5,35 de 2022 e R$ 5,09 de 2023, nesta mesma época - ou da safra da Argentina, que dá alguns sinais de alerta agora, porém, pouco sérios. "Teríamos que ver uma virada muito forte do clima na Argentina para consolidar um problema mais grave da safra por lá. E mesmo que isso aconteça, traz só um respiro pontual para o mercado", acredita Vlamir Brandalizze. "Mas a economia mundial, a China, e mais problemas assustam os investidores agora", completa.
No mercado futuro norte-americano, estes "investidores assustados" têm sustentado uma grande posição vendida no mercado, apostando em um volume ainda considerável de soja a ser garantido pela América do Sul na safra 2023/24, apesar da quebra no Brasil. "Pelo números de contratos em aberto, podemos analisar que os fundos estão apostando em uma safra de soja muito boa para a América do Sul e uma demanda limitada, onde a China tem manifestado que pretende importar no geral algo como 100 milhões de toneladas de Soja, entre Brasil, Estados Unidos Argentina, Paraguai e outros", acredita o diretor geral do Grupo Labhoro, Ginaldo Sousa.
Como explica a analista internacional de commodities, Karen Braun, os fundos têm registrado mais de 550 mil contratos vendidos até 23 de janeiro - contabilizando soja, milho, trigo e derivados de soja, em Chicago e nas bolsas do Kansas e de Minneapolis, no caso do trigo - marcando "sua posição mais baixista para janeiro entre os grãos e a soja, com uma das maiores posições vendidas de todos os tempos, tendo sido intensificada por vendas fortes de soja e farelo na semana passada".
"O clima que vinha bem na Argentina, principal exportador de farelo, pesou no mercado, assim como o clima melhor para o Brasil, que está nos estágios iniciais da colheita do que se espera ser uma safra de soja suficientemente grande. Nos EUA, as vendas de milho para exportação têm sido médias, embora as de soja estejam lentas, refletindo a queda na demanda na China e a ampla oferta na América do Sul", afirmou Karen em sua análise de movimento dos fundos. O gráfico abaixo mostra o comportamento dos especuladores entre os futuros do farelo.
NEGÓCIOS ESCASSOS NO BRASIL
Diante deste comportamento dos preços - em Chicago e, consequentemente, no Brasil - o comportamentos dos produtores não seria diferente. Eles continuam a segurar suas vendas, evitando novos negócios e apostando em momentos em que suas margens lhes garantam algum fôlego. Há perto de 30% da safra 2023/24 já negociada - aproximadamente 40 milhões de toneladas comprometidas - contra um média plurianual de 35% a 40%.
"Esta é a média, mas em um ano bom ja iniciaríamos fevereiro com algo entre 40% e 45% vendido", afirma Brandalizze. Por semana, o Brasil está negociando algo que varia de 50 mil a 60 mil toneladas, enquanto em um "ano normal", os volumes variam entre 2,5 e 3 milhões de toneladas. "O produtor está colhendo e está entregando, mas não está fazendo novos negócios. Tem produtor que vendeu parte da safra por R$ 145,00 e agora está vendo o preço a R$ 105,00 por saca".
O consultor afirma que, na média brasileira, os indicativos estão de R$ 20,00 a R$ 30,00 por saca menores do que há alguns meses, quando mais negócios aconteciam, mas já em um ritmo mais contido. Afinal, não só os futuros em Chicago estão pressionados e o dólar, como também os prêmios.
Não só pelos preços muito menores é que os negócios não andam no Brasil, mas também pelas incertezas que continuam a assombrar os produtores. As primeiras áreas colhidas no Brasil trazem produtividades abaixo da média e do inicialmente projetado, além de sérios problemas de qualidade dos grãos estarem sendo reportados neste momento. Assim, comprometer volumes elevados da safra é um risco considerável para o sojicultor que vem enfrentando uma safra quebrada e que não conte com estratégias comerciais detalhadas.
NOVAS OPORTUNIDADES
A demanda mais contida, em especial por parte da China é, agora, um problema e uma preocupação para o mercado. As compras da nação asiática têm sido mais distribuídas, depois de boas aquisições feitas nos EUA nos últimos meses do ano passado. No entanto, após o período de festividades do Ano Novo Lunar, o país deverá voltar ao mercado de forma mais frequente e consistente.
"É normal, é tradicional que isso aconteça. E os compradores chineses vão encontrar boas oportunidades aqui, com os prêmios baixos e frete mais barato no Brasil", explica Brandalizze.
Assim, o segundo semestre do ano deverá reservar oportunidades melhores para os produtores brasileiros, apesar dos custos com os quais terão de arcar ao ter que carregar sua soja.
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