Chuvas irregulares, mosca-branca, replantio recorde e grãos ardidos: Quanta soja vem de MT?
Os relatos de produtores rurais de Mato Grosso dão conta de uma perda na safra de soja em proporções jamais registradas no estado. Enquanto os problemas ainda estão sendo contabilizados no campo, a formação dos preços e, principalmente, o cumprimento de compromissos financeiros vai se tornando algo cada vez mais custoso e desafiador. "Com o corte no rendimento da safra 23/24, a preocupação em quitar as despesas aumentou em Mato Grosso", afirmou o Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária) em seu boletim semanal de mercado. O ponto de equilíbrio para o sojicultor mato-grossense está estimado em 54,73 sacas por hectare, enquanto a média de produtividade da soja estimada pelo instituto é de 53,59 scs/ha.
"A situação para alguns produtores no estado é ainda pior, visto que parte destes não travaram os custos e não realizaram nenhuma venda da produção, e outros podem colher uma produtividade menor que a média MT", apontam os especialistas do Imea em seu reporte semanal.
A colheita da soja está em andamento em todo o país e Mato Grosso lidera os trabalhos de campo. Até a última sexta-feira (19), 12,90% da área do estado já havia sido colhida, de acordo com dados da Pátria Agronegócios, contra 5,9% do mesmo período do ano passado e acima da média pluarianual de 9,11%. E em praticamente todas as regiões onde o processo avança, os índices de produtividade se apresentam aquém das expectativas iniciais, o que também reflete o avanço tão acelerado da colheita.
O vídeo abaixo mostra os impactos em uma lavoura de Canarana que sofreu, inicialmente, com a falta de chuvas e agora sente os impactos do excesso de umidade.
"O ritmo semanal de colheita se mantém acelerado, apesar de uma temporada de plantio lenta nesta safra. Os relatos desta semana continuam apontando decepções. Aparecem poucos resultados regulares, com reduções de produtividade de 5% a 10% sobre o potencial produtivo", afirma a consultoria. E em Mato Grosso não é diferente.
Em entrevista ao Notícias Agrícolas nesta quarta-feira (24), o presidente do Sindicato Rural de Claúdia, Sérgio Ferreira, afirmou que o município começou a colher a soja 2023/24 com estimativa de uma perda de produtividade de, pelo menos, 10% das projeções iniciais. A diminuição é menos agressiva do que em outros pontos do estado por conta de condições melhores de chuvas recebida em fases importantes de de desenvolvimento das lavouras.
"Aqui eu acredito que foi o único município do estado em que não faltou muita chuva. Teve chuva razoável, bastante pancadas pra lá e pra cá, mas graças a Deus ainda está bom em vista de outros municípios", relatou Ferreira.
Veja a íntegra da entrevista:
Já em Tapurah, de acordo com o produtor local Silvésio de Oliveira, a média produtiva esperada é de 40 sacas por hectare, abaixo da média do município, com cerca de 30% da área já colhida. No entanto, as preocupações são as chuvas que faltaram no desenvolvimento e chegaram agora, comprometendo os trabalhos de campo. "Tivemos chuvas boas em setembro e um início de plantio, relativamente, cedo neste ano e agora começa a se intensificar a colheita", disse. "Só que agora que estamos com o forte da colheita, está chovendo muito, com produtores já relatando grãos avariados e esse excesso de chuvas já está causando prejuízos".
No último dia 10, o Notícias Agrícolas já havia adiantado sobre a preocupação da qualidade pelos produtores não só de Mato Grosso, mas de todo o Brasil com a diminuição da qualidade da soja. Relembre:
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Na região, os preços têm estado ligeiramente acima dos R$ 90,00 por saca, livre ao produtor, o que não cobre custos de produção e, consequentemente, não estimulam novos negócios. Desse modo, assim como em todo o estado, Tapurah também sua comercialização atrasada. "É impossível vender neste preço".
Reveja a entrevista completa:
O Imea informa que Mato Grosso já vendeu 37,51% de sua produção estimada, um aumento que não chega a um ponto percentual em relação ao levantamento de novembro de 2023. Em janeiro de 2023, o estado já havia comercializado cerca de 98% de sua produção de oleaginosa.
"Cabe destacar que apesar de ocorrer negociações pontuais durante o mês, a queda no preço da oleaginosa de 0,29% em dez/23 ante nov/23 ficando em R$ 111,05/sc, somada com a incerteza quanto à produção aguardada para o ciclo limitaram novas vendas no estado", traz o reporte. E assim, o instituto complementa dizendo que o preço médio da soja no estado foi de R$ 100,15 por saca na última semana, apresentando uma queda de 8,94%.
REPLANTIO RECORDE
Mato Grosso ainda registrou nesta temporada um recorde de área de replantio na soja que chegou a 1 milhão de hectares, representando 8,5% da área estimada, segundo dados levantados pela Agroconsult em seu Rally da Safra.
“O replantio acaba gerando prejuízo não apenas à safra de soja, pois incorre em novos custos e parte de um potencial produtivo menor, como também à segunda safra de milho, pois compromete a janela ideal para a semeadura”, explica o coordenador da expedição, André Debastiani. Ele complementa relatando que, ao visitar as lavouras do estado, foi possível registrar que o baixo volume de chuvas, aliado às altas temperaturas em outubro e dezembro do ano passado, acarretou perdas de estande e abortamento de vagens, afetando seriamente as lavouras mais precoces.
O clima favoreceu também a incidência de pragas e alguns dos registros mais frequentes e mais graves são os da incidência de mosca-branca.
"As lavouras que estão sendo colhidas agora são as piores e as mais afetadas pela seca. As áreas com variedades de ciclo médio e tardio, apesar de também terem sofrido, apresentam melhores condições, pois receberam chuvas após a segunda quinzena de dezembro. O receio agora recai sobre o possível excesso de chuvas durante a colheita nas próximas semanas", diz Bastiani.
COM A PALAVRA, A APROSOJA MT
A Aprosoja Mato Grosso estima que a quebra na safra de soja 2023/24 é a que registra a maior quebra percentual de produtividade nos últimos 30 anos, com a projeção de uma perda de nove milhões de toneladas no resultado final. O presidente da associação, Lucas Beber, relata preocupações com lavouras em diversos estágios, com problemas de todos os tipos.
"Estamos preocupados não só com as chuvas, mas também com a questão de pragas, porque sabemos que essas lavouras, no final, tendem a ficar ilhadas. Se chover demais, há chance de ter alta incidência de ferrugem asiática e se continuar seco, a mosca-branca - que está aumentando bastante - em anos secos como foi 2016 se prolifera mais - então o gasto é maior e é difícil de controlar. O prejuízo vem, mesmo com o produtor gastando muito para controlar ela", detalha, após uma visita da instituição a mais de 1000 de propriedades, em uma área de 1,8 milhão de hectares, rodando mais de 8 mil quilômetros no estado.
Caso os números levantados pela pesquisa feita pela Aprosoja MT se confirmem, a safra do estado seria de menos de 36,5 milhões de toneladas de soja, quase 10 milhões a menos do que os 45 milhões colhidos na temporada anterior, tirando aproximadamente R$ 17 bilhões da economia mato-grossense.
Confira a entrevista do presidente da instituição ao Notícias Agrícolas:
MOSCA-BRANCA
Com as altas temperaturas, a proliferação e a incidência de mosca-branca nas lavouras de Mato Grosso também têm sido problemas graves, tirando boa parte da produtividade da soja. Todo o estado vem sofrendo com a presença muito forte da praga e a dificuldade severa de controle. Além disso, é um inseto sugador, retirando seiva de planta, além de poder transmitir virose - provocando doenças - e depois de se alimentar libera uma substância açucarada, que vai favorece o surgimento de uma camada de fungo - a fumagina -, tirando capacidade fotossintética do pé de soja, resultando em menor produtividade.
"A mosca-branca foi uma praga que apareceu mais cedo do que o normal neste ano, em altas populações. É uma praga de difícil controle, os adultos são bastante ativos, há migração de uma área para outra", explica a entomologista da Fitolab, Gabriela Vieira Silva. "A mosca-branca é uma praga que tem um ciclo muito rápido. Se faz uma aplicação em uma área e no dia seguinte há novos adultos, porque eles podem estar vindo de uma área que, de repente, não teve aplicação. Então, não é uma praga tão simples assim, em que se consegue ver um resultado tão imediato, assim como se vê para percevejo ou lagarta quando bem feito o controle".
Dessa forma, a orientação de Gabriela é de que o produtor mantenha as aplicações em dia, sempre evitando deixar as populações muito elevadas, com o auxílio de técnicos e profissionais que auxiliem na tecnologia de aplicação. "É uma praga em que a maior parte das ninfas e dos ovos estão na parte de baixo da folha. Então, é preciso cuidar de todos esses detalhes, ou não conseguimos eficiência e eficácia de controle. O momento de aplicação é muito importante, a escolha do produto correto, a associação de ativos, a associação de químicos e biológicos, tecnologia de aplicação", afirma a especialista.
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