Mercado da soja está sem tendência e quem vai defini-la serão Brasil e Argentina, aponta Royal Rural
O mercado da soja segue trabalhando com estabilidade na Bolsa de Chicago, já tendo testado os dois lados da tabela no pregão desta terça-feira (24). Perto de 11h20 (horário de Brasília), as cotações subiam pouco mais de 1 ponto, levando o novembro a US$ 12,88 e o maio a US$ 13,33 por bushel. Os derivados seguem recuando, com as baixas sendo lideradas pelo óleo, que já chegou a perder mais de 1%.
À espera de novas notícias, o mercado segue caminhando de forma bastante lateralizada, sem oscilações muito intensas. Apesar disso, segundo o analista e diretor da Royal Rural, Ronaldo Fernandes, "a vida útil para a soja acima dos US$ 13 (nos contratos mais próximos) tem sido muito curta".
Em foco, permanecem a colheita americana - que já passa de 70%, segundo os últimos números do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) - e o plantio no Brasil, este ganhando cada vez mais espaço na visão dos agentes do mercado.
"32% é o número da área plantada no Brasil. No cenário nacional, se compararamos à média, este número não está muito atrasado não. Mas, se isolarmos algumas regiões e compararmos com o número do ano passado, aí sim dá pra falar de atraso. Então, quando isolamos algumas regiões, vemos algumas irregularidades e certo atraso. No quadro geral, ainda não podemos falar em atraso. E é assim que os estrangeiros olham", explica Fernandes.
Dessa forma, os efeitos dos problemas que são sentidos pelos produtores brasileiros em função de adversidades climáticas ainda não é sentindo no caminhar das cotações da oleaginosa na CBOT. E agora, olhos todos voltados à previsão do tempo e se elas se confirmarão como se mostram nas últimas atualizações.
"Temos chuvas esperadas para 25 a 27, depois para. E voltam as chuvas generalizadas do dia 31 de outubro a 8 de novembro. Está marcado nos mapas e precisamos ver se essas chuvas vão se confirmar de fato. O outro ponto no radar são as altas temperaturas", explica Fernandes. "Então, a produção brasileira não está nada definida, nem em volume, nem em preço. O mercado não consegue criar tendência porque ainda não consegue saber qual volume o Brasil vai conseguir produzir. E é importante deixar isso claro agora", complementa.
E o executivo explica ainda dizendo que essa dificuldade de definição de tendência passa pelo momento que se divide entre "não termos boa janela e bom clima por agora e também não estarmos no pior dos mundos. Temos os dois cenários, pode quebrar, como pode ser uma boa produção. E os mapas é quem estão mostrando isso. Então, o mercado optou por sentar e esperar", diz o diretor da Royal.
O mercado vai dando mais atenção, aos poucos, à nova safra do Brasil, ao passo em que também, logo mais, começará a acompanhar mais de perto a safra 2023/24 da Argentina. O plantio por lá ainda não foi iniciado - como tradicionalmente acontece - e as especulações agora indicam a possibilidade de uma migração de parte da área de soja para milho, o que poderia também mexer com o mercado. Assim, como complementa Fernandes, seja pelo clima ou pelo preço, o futuro da sojicultura argentina será determinante para a definição do caminho dos preços da oleaginosa.
Ainda sobre a Argentina, a determinação política também está em evidência, com o segundo turno das eleições presidenciais acontecendo em pouco menos de um mês, entre Sérgio Massa e Javier Milei, e o desfecho da dispua terá um peso grande sobre o agronegócio do país, em especial por conta da garantia ou não de sua competitividade no mercado internacional.
"Assim, para definir a tendência da soja, temos, em primeiro lugar, o Brasil; segundo a Argentina, a América Latina é quem vai definir a tendência para a soja. E tem a demanda também, mas o chinês vai passar por trancos e barrancos, 100 milhões de toneladas ele precisa comprar e isso está certo, precificado. O que vai definir o preço da soja em 2024, mais do que a demanda, é saber o que virá de oferta. Essa é a dúvida. Porque a demanda vai variar, mas está precificada e consolidada", resume Ronaldo Fernandes.
Assim, as ameaças que ainda se acumulam para a nova oferta não foram precificadas, com espaço para altas, "mas não estão definidas". Brasil e Argentina é quem vão mandar na tendência.
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