Com mercado aquecido, indústria de produtos biológicos deve viver novos ciclos de inovação
“Estamos vivendo um novo momento. O controle biológico deixou de ser agricultura alternativa. Evoluiu em conceitos e abordagens e está cada vez mais integrado às estratégias de gestão produtiva. Isso demanda cada vez mais profissionalização na área”. A avaliação é do pesquisador e professor da Escola Superior Luiz de Queiroz (Esalq/USP), José Roberto Postali Parra, que apresentou a conferência de abertura do 16º Simpósio de Controle Biológico (Siconbiol), em Londrina, PR. O evento é promovido pela Sociedade Entomológica do Brasil, Embrapa Soja e Universidade Estadual de Londrina.
Durante a conferência, Parra mostrou a evolução do mercado de biológicos no Brasil e no mundo, apontando mitos, mudanças e oportunidades de inovação na área. O professor destacou que há uma mudança de cultura do produtor, o que torna o mercado mais favorável, embora exija também maior profissionalização da indústria. De acordo com o professor, o conceito de controle biológico se ampliou nos últimos anos. Não se trata apenas de controlar um inseto como ocorria nos primeiros anos. O conceito hoje também abrange outras abordagens de manejo, com os biofertilizantes, bioestimulantes e bioagentes. “É um mercado que está aumentando na ordem de 10 a 15% ao ano no mundo”, destaca.
Como a agricultura brasileira é muito complexa e há pressão da sociedade por formas mais sustentáveis de produzir, os sistemas de produção demandam novas abordagens. “Nosso desafio é consolidar um modelo de controle biológico para a agricultura tropical. Não se pode simplesmente comparar com modelo europeu de agricultura, onde se trabalha em condições controladas, como casas de vegetação, com a agricultura brasileira que é realizada em campos abertos e extensos. O controle biológico não resolve nada isoladamente. É um componente das estratégias que compõem o Manejo Integrado de Praga”, explica.
O pesquisador destaca que houve uma grande mudança entre o primeiro ciclo de produtos biológicos, conhecido por controle biológico clássico e os procedimentos que vêm sendo adotados atualmente. “Conhecimentos multidisciplinares estão permitindo formar nova massa crítica para soluções biológicas”, avalia. De acordo com Parra, a agregação de conhecimentos de outras áreas, além da biológica, está permitindo uma revolução no segmento. Anteriormente, por exemplo, a liberação de insetos era feita em pequenas quantidades e as populações de inimigos naturais aumentavam lentamente. As culturas agrícolas tinham que ser perenes ou semi-perenes.
Hoje, o volume de produção de insetos produzidos nas biofábricas, associado às novas tecnologias de liberação, como uso de drones e técnicas de georeferenciamento, permite uma ação muito mais rápida, precisa e com resultados reais. “A tecnologia permite adotar o que chamamos de New Aproach, ou seja, novas abordagens, como o caso do manejo externo à lavoura”, explica o pesquisador. O controle biológico passa a integrar uma estratégia que reduz a pressão no ambiente, ampliando inimigos naturais em regiões com forte presença de hospedeiros da praga. O caso do greening do Citrus é um exemplo de como o manejo externo pode contribuir decisivamente para produção com sustentabilidade.
De acordo com o professor, é preciso quebrar mitos do controle biológico. Um dos aspectos é cultural: as gerações de produtores vêm de uma tradição de uso de químicos e resiste em incorporar novas estratégias. Outro mito apontado pelo pesquisador é de que a tecnologia é fácil de produzir e seu custo deveria ser menor do que o químico, sem se observar outros aspectos sociais e biológicos envolvidos, além dos econômicos. “É preciso técnica e treinamento adequado para utilizar o controle biológico”, afirma.
De acordo com Parra, a entrada de grandes players no segmento confirma a tendência de crescimento da área. Além do alto custo de desenvolvimento de novas moléculas químicas e da pressão da sociedade contra o uso de produtos de alto impacto ambiental, a resistência a princípios ativos e maiores exigências de mercados internacionais em relação à redução de resíduos, criam o novo momento dos biológicos. “O desenvolvimento de novos químicos custa cerca de US$ 350 milhões e há desconhecimento para sínteses de novas moléculas que atendam as exigências de mercado”.
O mundo está olhando para o potencial de inovação dos biológicos. “A China, por exemplo, anunciou investimentos da ordem de US$ 340 milhões em produtos biológicos”, aponta. No Brasil, os investimentos também estão crescendo, com projetos financiados pela Embrapii e pela Fundação Fapesp junto às empresas privadas, assim como maior incentivo às startups. Além disso, a associação do conhecimento agronômico e biológico com as novas tecnologias habilitadoras da agricultura 4.0 devem propiciar avanços rápidos.
“O uso de drones já é realidade na liberação dos inimigos naturais. Mas temos que avançar mais”, entusiasma-se. “Estamos evoluindo em indicadores de monitoramento e sistemas de zoneamento climático de pragas e inimigos naturais, que irão facilitar ainda mais o processo de tomada de decisão por parte de técnicos e produtores”. Novas formas de amostragem de pragas, uso de sensores e métodos de reflectância, logística de armazenamento de insetos e inimigos naturais e métodos mais eficientes de transporte em um país com dimensões continentais são exemplos de áreas com grandes oportunidades de inovação e alto potencial no mercado. “Há conhecimento sobre inimigos naturais com potencial de aplicação em grandes culturas. E temos inúmeros desafios de ajustes de escala da produção em laboratório para a produção industrial. Também há demandas de automatização de etapas e rotinas das biofábricas”, explica.
O pesquisador mostra-se bastante otimista com a evolução do mercado. “Há uma abertura maior por parte do setor produtivo para incorporar novas tecnologias e um ambiente bastante propício para novos saltos de inovação, com a aproximação entre universidade, grandes empresas e startups”. Um avanço e tanto, considerando que o mercado mundial saltará de US$3 bilhões em 2019, para a US$5 bilhões nos próximos anos.
0 comentário

Preços futuros da soja passam a trabalhar com ganhos nesta 5ª feira na CBOT

Colheita da soja avança para 88% da área total cultivada no RS

Clima favorável no EUA, guerra comercial e boa comercialização no BR pesam sobre a soja em Chicago nesta 4ª feira

Soja intensifica baixas em Chicago nesta tarde de 4ª feira, pressionada pelo clima favorável nos EUA

Famato apresenta proposta de padronização do processo de classificação da soja na Câmara Setorial do Mapa

Soja tem novo recuo em Chicago nesta 4ª feira, ainda pressionada pela guerra comercial e safra americana