Por Roberto Samora
PALMAS, Tocantins (Reuters) - As produtividades das lavouras de soja verificadas pelo Rally da Safra no Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia (Matopiba) surpreenderam os especialistas da expedição técnica na última semana, o que pode indicar um viés de alta para a estimativa de produção do Brasil, o maior exportador global da oleaginosa.
A consultoria Agroconsult, que realiza o Rally pela décima quinta vez na temporada 2017/18, já tem uma estimativa preliminar de safra recorde para o Brasil de 117,4 milhões de hectares.
O volume de colheita pós-expedição, porém, será revisado com as últimas informações obtidas a campo, especialmente do Matopiba, região que responde por cerca de 10 por cento da produção nacional e que tem colheita mais tardia em relação à maioria das outras áreas. A Agroconsult divulga os números finais do Rally na terça-feira.
O último número da produção nacional publicado pela Agroconsult já representa um aumento de cerca de cerca de 3 milhões de toneladas na comparação com a temporada passada (2016/17), a maior já registrada até o ciclo atual.
"Foi um ano atípico para o Piauí, a melhor safra que já tiveram, produtores estão dando risada e comprando maquinário", afirmou o analista da Agroconsult Gildomar Lindemann, um dos que percorreram lavouras nos Estados do Nordeste e Norte do país.
O comentário dá a tônica do que foi visto na região do Matopiba, em que há muitas áreas novas que produziram bem em função do tempo favorável. Além disso, muitos agricultores capricharam nos investimentos, o que ajuda a elevar a média de produtividade.
Segundo técnicos da Agroconsult, é possível que as produtividades de soja do Matopiba sejam revisadas para cima.
"O Maranhão está um pouco pior do que o Piauí. Normalmente o Piauí é melhor... Mas ambos melhoraram em relação ao ano passado", uma temporada que já foi boa após vários anos de seca, comentou o analista da consultoria Smyllei Curcio, que participou de sete das nove equipes do Rally.
Desde o início do ano, ele visitou áreas de Mato Grosso, Maranhão, Piauí, Bahia, Tocantins, Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul --esses dois últimos Estados, disse Curcio, foram os destaques negativos.
Uma das poucas preocupações climáticas no Matopiba nesta temporada são as chuvas, que têm atrasado a colheita, contou o analista Pablo Reveles, também da Agroconsult.
"Nós pegamos muita chuva. De imediato não atrapalha. Mas, se persistir, aí pode acarretar perda. Seria muito estranho o Piauí e o Maranhão perdendo por chuva", afirmou ele em relação à umidade, que foi boa para o desenvolvimento das lavouras, mas que na soja madura não é uma condição desejável.
Perdas por chuva, no entanto, são localizadas e menos expressivas, em geral.
Os últimos números de produtividade do Matopiba divulgados pela Agroconsult já indicam volumes maiores que os registrados no ano passado, com todos os Estados registrando médias de rendimento superiores a 3 toneladas por hectare, o que se traduz em rentabilidades superiores, ainda mais que muitos produtores estavam com vendas mais lentas antes dos picos de preços recentes e aproveitaram as oportunidades.
Em 2017/18, a produção só não deve ser ainda maior devido a alguns problemas climáticos no Paraná e Rio Grande do Sul, como chuvas excessivas e seca, uma vez que a área plantada do país cresceu 1 milhão de hectares, para 35 milhões de hectares. Na temporada passada, os Estados do Sul tiveram ótimas colheitas.
O Rally, organizado pela Agroconsult, rodou quase 100 mil quilômetros desde o início do ano apurando as produtividades e as condições das lavouras em análises técnicas e conversas com produtores.
A equipe do Matopiba, acompanhada pela Reuters, foi a última da safra verão e deve definir um aumento da previsão de safra, caso as produtividades no Paraná e Rio Grande do Sul (segundo e terceiro produtores do Brasil) não caiam muito mais do que o esperado.