Soja 2015/16: Custos de produção mais altos devem inviabilizar investimentos
O aumento dos custos de produção da próxima safra de soja em todo o Brasil e o retorno financeiro que será garantido pelo produtor na temporada 2015/16 está no foco dos negócios do país e já transparece e atual preocupação do setor. Diante de uma instabilidade econômica aliada à incertezas sobre os recursos e condições que terá na próxima safra, a cultura da oleaginosa já exige um planejamento mais detalhado e criterioso.
Segundo um levantamento feito pela Agrinvest Commodities, em alguns estados, os atuais preços praticados na Bolsa de Chicago, aliados aos prêmios e mais um dólar futuro na casa de R$ 3,30 já resultam em prejuízos em algumas regiões importantes de produção, principalmente no estado de Mato Grosso.
"Esse ano requer, por parte do produtor, um gerenciamento da questão do risco de preço mais focado do que nos últimos anos", afirma Marcos Araújo. Segundo explica o analista de mercado da Agrinvest, com preços apresentando referências menores no mercado internacional, a saída para a garantia de preços melhores para a soja brasileira da nova safra seria o dólar, principalmente em suas cotações futuras.
Em um cenário de preços da soja na casa de US$ 9,46 e US$ 9,51 por bushel em Chicago, mais prêmios variando entre 50 e 70 cents de dólar sobre os valores da CBOT nos principais portos do país e mais um dólar de R$ 3,32 em março/16 e R$ 3,37 em maio/16, há um retorno positivo, em reais, para os estados do Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás e a região Sul de Mato Grosso. No mesmo quadro, Mato Grosso do Sul e o Oeste, Sudeste, Nordeste e Norte de Mato Grosso amargariam prejuízos.
Cenário atual negociado para a Safra 2015/2016:
Soja Março/2016 cotada a 946.50 centavos por bushel
Soja Maio/2016 cotada a 951.25 centavos por bushel
Basis Março Paranaguá +50 / Março Santos +70 e Maio Rio Grande +70
Dólar Futuro Março/16 a 3,324 e Maio/16 a 3,379
Preço Sobre Rodas – R$ por saca:
Paranaguá R$ 70,79 / Santos R$ 71,74 / Rio Grande R$ 73,97
Preço Sobre Rodas – US$ por saca:
Paranaguá $ 21,30 / Santos $ 21,58 / Rio Grande $ 21,89
"Em um cenário de dólar futuro a R$ 3,32 faz com que o ponto de equilíbrio para o sojicultor no norte do Paraná fique em US$ 8,60 por bushel. Caso esse cenário não se confirme e o dólar permaneça a R$ 3,04 fará com que o ponto de equilíbrio do sojicultor do Paraná salte para US$ 9,06/bushel um aumento de US$ 46 cents por bushel com o efeito do dólar", explica Araújo.
Já em Mato Grosso, esse ponto de equilíbrio passa a ser de US$ 11,03, com sua alta justificada, principalmente, por conta dos maiores custos logísticos para a soja produzida neste estado, ainda de acordo com o analista.
E é essa necessidade de preços melhores e extremo planejamento que faz com que o produtor brasileiro se mostre, neste momento, mais retraído nas compras dos insumos para a próxima safra. Afinal, o sojicultor ainda não conhece o volume de recursos que será destinado à agricultura na próxima temporada ou trabalha com a certeza sobre as novas taxas de juros que serão praticadas.
Insumos
De acordo com os últimos números da Andav (Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários), as vendas de insumos no Brasil já estão mais de 20% atrasadas em relação ao mesmo período do ano passado. E para o presidente executivo da instituição, Henrique Mazotini, esse atraso já pode resultar em problemas não só para esse setor, mas uma reação em cadeia, como dificuldades de logística e abastecimento.
Entre os fertilizantes, somente em abril, as vendas no Brasil recuaram 21% e, no acumulado do ano, as baixas passam de 8%, como mostra um levantamento da AMA Brasil (Associação dos Misturadores de Adubos). A maior parte do produto utilizada no país é oriundas das exportações e, por isso, lastreada em dólar. Com a valorização da moeda norte-americana, apesar de sua volatilidade mais acentuada nas últimas semanas, o resultado, portanto, acaba sendo de preços mais elevados e, consequentemente, compradores mais retraídos.
"Em termos de fertilizantes e logística, poderemos ter uma retirada muito grande de no segundo semestre, então teremos um gargalo complicado. Para o agricultor, é importante que ele antecipe alguma coisa para não sofrer consequências desse estrangulamento no segundo período", explica o diretor executivo da AMA, Carlos Eduardo Florence.
No setor de sementes, a ABRASS (Associação Brasileiras dos Produtores de Sementes de Soja) informa que as compras para a próxima safra também estão bastante lentas e, até agora, apenas metade do total previsto a ser comercializado somente a metade já foi adquirida, contra algo entre 80 e 90% registrado no mesmo período do ano anterior.
Dados do Banco Central mostraram, no final da última semana, que houve uma redução de quase 20% nas concessões de crédito para o chamado pré-custeio no primeiro quadrimestre deste ano. E a linha de crédito R$ 7 bilhões disponibilizada pelo Banco do Brasil traz uma taxa de juros de 9,5%, o que dificulta ainda mais o acesso dos produtores.
"É um tombo forte que leva a retração no número de recursos para a aquisição de insumos básicos, principalmente fertilizantes e defensivos. E as agências que tem o recurso disponível oferecem isso a juros de mercado que está em torno dos 15% a 16% ao ano, e é proibitivo em termos de agricultura para ser tomado como pré-custeio", explica o consultor de mercado Carlos Cogo.
Custos de Produção - Expectativa das Federações
Em uma série de entrevistas, o Notícias Agrícolas apurou ainda que os custos de produção mais elevados são motivo de preocupação em todos os principais estados produtores, especialmente para as federações de agricultura. E a orientação foi comum entre todos os especialistas: a mínima exposição possível ao risco. O que mais deve pesar no bolso do produtor brasileiro são fertilizantes e sementes.
As elevações mais expressivas deverão ocorrer na região Centro-Oeste. Em Mato Grosso, os custos para a soja devem subir de 12 a 15% na safra 2015/16, de acordo com o diretor financeiro da Famato, Nelson Piccoli. As altas são próximas às esperadas para Goiás - de 10 a 12% - estimadas pela Faeg, de acordo com o analista de mercado Pedro Arantes, que afirma ainda que podem passar de 52,5 sacas por hectare. Já em Mato Grosso do Sul, o aumento esperado é de algo próximo a 7%, podendo passar de R$ 2300,00 por hectare.
No Sul, destaque para o Rio Grande do Sul, onde, de acordo com o economista da Farsul, os custos devem subir de 49 para 54 sacas de soja por hectare, mesmo com a dificuldade de se aumentar a produtividade diante da impossibilidade de novos investimentos. Em Santa Catarina, o aumento deve ser de 15 a 16% nos custos totais e, para o vice-presidente da Faesc, podem a alta pode ser ainda mais severa frente à inflação de mais de 8% vigorando no país. No Paraná, os gastos maiores já estão sendo sentidos até mesmo na atual safra de inverno, principalmente no trigo.
Na Bahia e em Minas Gerais, tanto a Faeb quanto a Faemg chamaram atenção para custos maiores com energia elétrica, combustíveis e mão-de-obra, fatores que devem pesar também nos demais estados.
3 comentários
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ANTERO CIOCCARI Água Boa - MT
Há muitos anos no Mato Grosso, vindo do Rio Grande do Sul, sempre ouvi falar que a soja de Mato Grosso teria num futuro próximo melhores preços se comparados com os preços dos estados do Sul do Brasil, visto que estaríamos mais próximos dos portos do norte do país. O "futuro" daqueles anos chegou e me parece que cada vez mais os estados do sul vendem melhor sua soja.
Lucros são voláteis e imprevisíveis custos são possíveis de controle, ( custo /beneficio ) mas a tecnologia sempre num vetor altista, só aumento de produção sem margem de remuneração indica que teremos em pouco tempo repensar a cadeia toda, se bem que para bancos, intermediários e para as multinacionais a cadeia produtiva começa e acaba no bolso do produtor ou na porteira, quando o bicho pega. Esta meio desigual a coisa ainda mais com a politica PT desestabilizando toda a economia, debiloides no poder, nossa fraqueza politica, com sindicatos acomodados fazendo festa com nosso imposto sindical, e uma CNA só para fins pessoal e politico, o horizonte é negro.
Caro Antero CIOCARI...afirmo que a Soja no MT tem ainda um futuro ´promissor...mas para isto voces tem que fazer uma limpa na pelegada que defende a classe política e classe do estado...além de promover uma limpa en técnicos do governo que atuam no estado engessando as atividades do setor em nome de falsas definições de problemas fitosanitários que dão uma dimensão maior do que deveriam,,,feita esta peneira aí sim o destino será próspero...caso contrário vai longe..
A renda per capita do brasileiro e' suficiente para nao passar fome----Em 2019
quando a renda per capita cinesa alcançar a brasileira, a SOJA COMEÇARA" A
PERDER DE VALOR----2019---
Domingos de Souza Medeiros Dourados - MS
Plantar ou arrendar as terras no sul do MS?
Hoje quem arrenda as terras, faz melhor negocio, do que tentar toca-la. Não sei o seu caso, mas em minha região em goiás, o arrendamento esta por volta de 6 a 12 sacas por há, isso quando não cobra mais alguns sacos de milho e sorgo na safrinha.
A dura realidade é que estou vendo companheiros de profissão (agricultores) vendendo suas terras pra poderem quitar com bancos e empresas, infelizmente muitos irão sair da atividade, não sobrando nem as terras pra arrendar pra outros...
depende de muito fatores, plantar as terras demanda estrutura, know-how, capital e escala de produção que permita diluir muito bem os custos fixos inerentes a atividade.
caso nao tenha essas qualificações, o melhor é arrendar para quem tenha.
Agradeco ao Elcio e Guilherme suas valiosas ponderacoes. Ate breve!
Com um milhao de reais investido em maquinarios voce consegue um retorno vinte vezes superior a um milhao de reais investido em terras-----So' que na vida aquele que quer andar rapido tem 20 vezes mais chance de tropeçar----
Saulo cemin cruz alta - RS
A palavra agora devera ser passada para as multinacionais: vão mesmo, nesse quadro, praticar recomposição de lucro? Não estão matando a galinha de ovos de ouro, ganancia ou burrice de nosso amestrados executivos? Como vai ser?