Estrangeiro volta à bolsa paulista e assegura alta do Ibovespa em julho
Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - Principal referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa deve fechar o mês de julho com performance positiva, apoiada principalmente nas compras de investidores estrangeiros em meio a um movimento global de rotação de ações na esteira de expectativas relacionadas ao banco central dos Estados Unidos.
Até o momento, o Ibovespa acumula alta em julho de 1,8%, caminhando para o segundo ganho mensal seguido e reduzindo a perda no ano a 6%. Em junho, o índice havia contabilizado um acréscimo de 1,48%. Antes disso, o sinal positivo em 2024 havia sido visto apenas em fevereiro (+0,99%).
Dados da B3 mostram um saldo de capital externo no mercado secundário de ações de 3,4 bilhões de reais em julho até o dia 26, marcando o primeiro mês com entrada líquida de estrangeiros em 2024. No ano, as vendas ainda prevalecem, com saída líquida de 36,7 bilhões de reais.
"Isso é explicado pela rotação do mercado de equities (ações) global reduzindo posições em momentum/crescimento -- no setor de tecnologia -- e colocando em mercado/setores de valor, no qual a bolsa brasileira tem um peso relevante", acrescentou o estrategista-chefe do Itaú BBA, Daniel Gewehr.
De acordo com Gewehr, foi mais um movimento global do que propriamente um interesse no Brasil, uma vez que o fluxo ainda ficou negativo para os fundos de bolsa no país, com saídas próximas a 3 bilhões de reais em fundos ativos, além do câmbio próximo das máximas e a curva longa de juros acima de 12%.
"Se dependêssemos das variáveis domésticas, não teríamos essa performance", acrescentou.
No exterior, o noticiário norte-americano ajudou, com dados divulgados durante o mês mostrando melhora na inflação e alguma desaceleração na atividade econômica.
"Isso aumentou a probabilidade de o Federal Reserve começar a cortar (os juros) em setembro", observou a chefe de estratégia e ações da Santander Corretora, Aline Cardoso, destacando a forte queda do rendimento do título de 10 anos do Tesouro norte-americano, usado como referência para investimentos em todo o mundo.
No final de junho, o yield do Treasury de 10 anos estava em 4,3430%. Na véspera, fechou a pontos. Em abril, chegara a 4,7390% -- máxima intradia do ano.
Nesse contexto, reforçou Cardoso, em que houve essa migração de ações de crescimento para papéis de valor, o Brasil acabou se beneficiando uma vez que é visto como um "play" de valor porque tem o seu principal índice com forte participação de papéis de empresas de commodities e bancos.
As cinco ações com maior peso na carteira teórica do Ibovespa em vigor são Vale ON, Petrobras PN e ON, Itaú Unibanco PN e Banco do Brasil ON, representando no total uma fatia de cerca de 37% de um índice composto por 86 papéis de 83 empresas.
Entre os setores, as maiores participações são petróleo (18,83%), financeiro (17,52%) e materiais básico e mineração (13,81%), de acordo com os dados da B3.
A combinação desse movimento de rotação entre ações no mundo e o viés mais construtivo em razão da perspectiva quanto aos juros nos EUA, na visão do responsável pela mesa de ações do BTG Pactual, Jerson Zanlorenzi, vem de encontro com o cenário em que a bolsa brasileira está barata.
O movimento recente, avaliou Zanlorenzi, "fortalece bastante a tese de que o mercado meio que está pronto para ter uma alta", esperando apenas um gatilho para o fluxo. E nesse mês, acrescentou, "teve um 'trigger' de fluxo importante que é a questão da rotação".
E DEPOIS?
Do ponto de vista externo, os estrategistas avaliam que o cenário corrobora uma expectativa mais favorável de continuidade desse fluxo, necessário para a manutenção do viés de alta das ações brasileiras, diante de um esperado corte de juros pelo banco central dos EUA em setembro.
"Acho que o movimento continua sim, partindo do princípio que os dados de atividade e inflação continuem desacelerando", afirmou a chefe de estratégia e ações da Santander Corretora.
Na quarta-feira, o Fed anuncia decisão de política monetária, com expectativa de manutenção da taxa de juros na faixa de 5,25% a 5,50%. O foco estará no comunicado e também na coletiva de imprensa do chair do Fed, Jerome Powell, na sequência, com agentes em busca de sinais sobre os próximos passos.
A eleição presidencial norte-americana foi citada como um evento a ser acompanhado, uma vez que, conforme destacou Zanlorenzi, do BTG Pactual, "movimenta bastante o mercado". A China também segue no radar, embora o movimento de rotação que vem ocorrendo amenizou o efeito da frustração com estímulos econômicos anunciados por Pequim.
Mas a manutenção do viés positivo no pregão brasileiro depende também de algumas variáveis macro locais, principalmente no ponto de vista fiscal.
Citando o aumento na curva de juros no Brasil, o diretor de renda variável para a América Latina do Goldman Sachs, Juliano Arruda, afirmou que é muito difícil ter um movimento sustentável de alta na bolsa se o mercado continuar com dúvidas sobre o rumo dívida pública e o equilíbrio fiscal.
"É muito melhor um cenário em que o custo de capital ao redor do mundo está caindo do que um ao contrário, então (o cenário de queda de juros nos EUA) sabemos que ajuda", ponderou.
"Mas um movimento sustentável de apreciação, que seja virtuoso, que continue, ele é muito difícil de ocorrer se não existe uma percepção de uma âncora fiscal, de algum tipo de posição das autoridades em ter um orçamento equilibrado... o prêmio na curva de juros não sai", acrescentou Arruda.
Na mesa direção, o estrategista-chefe do Itaú BBA avaliou que continuidade do fluxo de estrangeiros pode se beneficiar do potencial corte de juros do Fed em setembro e um sentimento de "risk-on" se o mercado continuar com a combinação de dados que sinalizam um "pouso suave" da economia norte-americana.
Mas também citou que "sinalizações mais fortes de disciplina fiscal domésticas podem ajudar também".
Na semana passada, os Ministérios do Planejamento e da Fazenda confirmaram a necessidade de contenção de 15 bilhões de reais em verbas de ministérios para levar a projeção de déficit primário do governo central em 2024 a 28,8 bilhões de reais, o limite inferior da margem de tolerância da meta de déficit zero.
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