Bolsonaro: na semana que vem, se não começar volta a emprego, vou tomar decisão

Publicado em 02/04/2020 21:03
Bolsonaro diz que coronavírus não é tudo que pintam; Mandetta fala em eficácia do isolamento

O presidente Jair Bolsonaro reforçou que as questões do "vírus e desemprego não podem ser tratadas de forma dissociada" no Brasil e defendeu o afrouxamento das regras de quarentena. Segundo o presidente, se a partir da próxima semana "não começar a voltar o emprego, vou ter de tomar uma decisão".

Entre as alternativas, Bolsonaro, em entrevista à rádio Jovem Pan sugeriu "numa canetada" autorizar o retorno às atividades dos comerciantes, que, segundo o presidente, "levaram uma paulada no meio da testa com as medidas tomadas por alguns governadores". "Eu tenho um projeto de decreto pronto para ser assinado, se for preciso, que considera como atividade essencial toda aquela indispensável para levar o pão para casa todo dia", afirmou o presidente.

Segundo o presidente, "enquanto o Supremo ou o Legislativo não suspender os efeitos do meu decreto, o comércio vai ser aberto. É assim que funciona". Bolsonaro ainda disse que não montou um Ministério "colado" ao Legislativo e descartou que os militares possam atuar na reabertura do comércio.

O presidente voltou a pedir que os governadores e prefeitos revejam as posições sobre o isolamento. "Mais prudente seria abrir de forma paulatina o comércio a partir da próxima semana", disse o presidente.

Bolsonaro defendeu que as políticas de isolamento podem levar ao aumento do número de mortes por causa das políticas de quarentena. "Quando você isola e leva ao desemprego, junto do desemprego vem a subnutrição, o organismo fica mais debilitado. Essa pessoa vai ficar mais propensa a contrair um vírus - esse próprio aí, o coronavírus -, que terá uma letalidade até maior", defendeu o presidente. "Entre morrer de vírus e uma parcela maior que poderá morrer de fome, depressão e suicídio, há uma diferença muito grande", disse. (Estadão Conteúdo).

Bolsonaro diz que coronavírus não é tudo que pintam; Mandetta fala em eficácia do isolamento

BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira que desconhece qualquer hospital no Brasil que esteja lotado por conta do coronavírus, e que a epidemia “não é tudo isso que estão pintando”, mais uma vez minimizando o avanço da doença que já deixou quase 300 mortos no país.

"O vírus é uma coisa que 60% ou 70% vai ter. Não vai fugir disso. A tentativa é de atrasar a infecção para os hospitais poderem atender. Eu desconheço qualquer hospital que esteja lotado. Desconheço. Muito pelo contrário", disse Bolsonaro a pastores que o esperavam em frente ao Palácio da Alvorada.

O presidente citou um hospital do Rio de Janeiro, o Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, que afirmou ter 200 leitos e apenas 12 ocupados até agora.

"Então, não é isso tudo que estão pintando, até porque, no Brasil, a temperatura é diferente, tem muita coisa diferente aqui", afirmou.

Defensor do isolamento social ao contrário do presidente, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse que a declaração de Bolsonaro sobre os hospitais é um reconhecimento de que "as medidas estão conseguindo evitar uma espiral de casos" e a superlotação dos leitos.

"O presidente está constatando uma coisa muito boa, que nós estamos conseguindo evitar que eles (hospitais) estejam superlotados", afirmou. "A gente espera que eles fiquem assim durante todo o período".

"MEDINHO?"

Apesar de ter mostrado um tom mais moderado e proposto um pacto entre Poderes e com os governadores em pronunciamento na terça-feira, Bolsonaro voltou a atacar não apenas os governadores, mas também outras autoridades que teriam criticado sua postura.

O presidente tem se manifestado contrário às medidas de isolamento social recomendadas pelas autoridades de saúde e decretadas em diversos Estados para combater o coronavírus, afirmando que os impactos econômicos são piores do que a própria doença.

"Duvido que um cara desses, um governador desses, um Doria da vida (João Doria, governador de São Paulo), um Moisés (Carlos Moisés, governador de Santa Catarina), vai no meio do povo. Não vai. Algumas outras autoridades que me criticam, vai lá conversar com o povo. A justificativa é 'não vou porque posso pegar...'. Tá com medinho de pegar vírus? Tá de brincadeira", ironizou.

Bolsonaro reclamou que o governador de Santa Catarina, que é do PSL, partido pelo qual Bolsonaro foi eleito mas com o qual rompeu posteriormente, ganhou a eleição por sua causa, e que agora é um dos governadores que insistem em medidas de isolamento social.

"Tem uma ponte que foi destruída, que é a roda da economia, que é o desemprego proporcionado por alguns governadores. Deixar bem claro: alguns governadores. Porque daqui a pouco vai a imprensa falar que eu estou atacando governador. Em especial de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina. Se eu não me engano, Rio Grande do Sul também prorrogou por mais 30 dias", reclamou.

Bolsonaro repetiu ainda que sua posição é de que não se pode parar de trabalhar, contrariando mais uma vez as orientações que o Ministério da Saúde tem dado, de que se mantenha o isolamento social. Segundo ele, depois da epidemia virá uma "segunda onda terrível", que é o desemprego.

"Temos que convencer governadores a não ser tão radicais", disse.

Segundo Bolsonaro, os governadores estão cobrando ajuda financeira do governo federal para compensar a queda da arrecadação do ICMS, ocorrida porque comércio e empresas estão fechadas devido à epidemia.

"É aquela história: o corpo está doente, vamos dar o remédio. Se der três ou quatro doses a mais, é veneno. É o que o governador fez em São Paulo: um veneno", disse, afirmando que com a falta de ICMS São Paulo teria dificuldades para pagar a folha de servidores.

"Ele quer agora vir para cima de mim. Ele tem que ter uma fórmula agora de começar a desfazer o que ele fez de excesso há pouco tempo. Não vai cair no meu colo essa responsabilidade. Desde o começo eu estou apanhando dele e mais alguns exatamente por falar isso", afirmou.

Bolsonaro diz que não pretende demitir Mandetta "durante a guerra"

BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira que não pretende demitir o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, durante a "guerra", numa referência à atuação dele durante a pandemia do novo coronavírus, mas admitiu publicamente que tem tido problemas com o auxiliar.

"Não pretendo demiti-lo durante a guerra", disse Bolsonaro, em entrevista ao programa Pingo nos Is, da Rádio Jovem Pan, ao não garantir a permanência dele à frente da pasta após a pandemia.

Na entrevista, o presidente reconheceu já saber que ele e Mandetta estão se "bicando há um bom tempo". Para ele, o ministro da Saúde em algum momento "extrapolou" e tem tido falta de "humildade".

"Espero que ele dê conta do recado", disse o presidente.

Os dois têm protagonizado embates sobre a atuação do governo federal para conter o avanço do coronavírus. Bolsonaro tem defendido relaxamento de medidas de isolamento social para evitar o agravamento da crise econômica. Mandetta, por sua vez, tem respaldado ações de contenção de governos estaduais e municipais para evitar uma maior propagação do vírus.

Bolsonaro disse que nenhum ministro do seu governo é indemissível e considerou que, em alguns momentos, Mandetta deveria ouvir um pouco mais o presidente. Destacou que Mandetta cuida da Saúde, o ministro Paulo Guedes da economia e ele atua no meio. Avaliou que não tem nenhum problema com Guedes, mas Mandetta quer fazer valer a sua posição.

"Tem faltado um pouco de humildade ao Mandetta", disse. Para Bolsonaro, o clima de histeria e pânico contagiou parte dos profissionais do Ministério da Saúde.

"É igual numa guerra. Numa guerra, a gente vai perder soldados", disse. "Boa sorte ao Mandetta, espero que ele prossiga na sua missão com um pouco mais de humildade", reforçou.

Brasil pode colaborar com EUA em produção de máscaras para coronavírus, diz Mandetta

Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, usa máscara de proteção antes de entrevista coletiva

  • Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, usa máscara de proteção antes de entrevista coletiva 18/03/2020 REUTERS/Adriano Machado

BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou nesta quinta-feira ter se reunido com o novo embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Todd Chapman, para discutir parcerias entre os dois países no combate ao avanço do novo coronavírus, e citou a produção de máscaras por empresas brasileiras para atender os mercados de ambos os países.

Em entrevista coletiva no Palácio do Planalto, Mandetta disse que tanto o Brasil quanto os Estados Unidos estão com o mesmo grau de dificuldade para adquirir equipamentos de proteção individual, mas o ministro avaliou que os EUA começaram "mais tarde" a adotar medidas de contenção social em relação ao Covid-19, e por isso estão com muitos mais casos confirmados.

O ministro da Saúde afirmou que o Brasil poderia colaborar com os norte-americanos em especial na produção de máscaras, que seriam disponibilizadas para ambos os países.

"Eles estão realmente com muita dificuldade em Nova York, na Califórnia e em outros Estados, então o Brasil pode colaborar com eles com alguma coisas", disse Mandetta.

"A gente deve trabalhar alguma coisa conjunta para organizar uma ampliação de, trazendo matéria-prima, as nossas fábricas poderem produzir, como é o caso dá mascara N-95, que eles têm muita carência lá e nós temos carência aqui", acrescentou.

Mandetta participou do encontro com o embaixador norte-americano e o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, um dia após o presidente Jair Bolsonaro ter falado por telefone com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre colaborações no combate ao coronavírus.

O fornecimento de equipamentos de proteção individual se tornou uma questão central no combate ao coronavírus em vários países devido à escassez no mercado provocada pela paralisação das exportações pela China quando o surto começou no país.

Segundo Mandetta, uma compra enorme realizada pelos Estados Unidos no país asiático derrubou encomendas feitas pelo Brasil. O ministro garantiu que o atual estoque brasileiro está dentro dos padrões normais, mas sua pasta tem demonstrado nos últimos dias preocupação com uma eventual diminuição dos equipamentos e demais insumos no caso de uma elevação aguda do contágio do vírus no país.

Segundo o ministro, na quarta-feira foi assinada a promessa de entrega de 8 mil respiradores ao Brasil, com entrega prevista em 30 dias. O Brasil também aguarda 200 milhões de itens de proteção. Mandetta observou que agora o mercado chinês voltou a produzir, mas precisa repor o estoque que deixou de ser abastecido por 45 dias.

Diante do cenário da dificuldade em se obter os equipamentos, Mandetta mais uma vez fez a defesa da necessidade de as pessoas continuarem a adotar medidas de isolamento social, voltando a contrariar a posição do presidente Jair Bolsonaro. O ministro justificou que ela impedirá um maior contágio de pessoas e, consequentemente, aumento do uso de insumos por profissionais de saúde em casos de internações.

Para o ministro, toda decisão sobre manter ou reduzir ações de isolamento social será tomada com base em planejamento técnico. "Faremos todo o possível dentro do planejamento técnico para encontrar um equilíbrio entre a economia e a saúde das pessoas", considerou.

Na coletiva, Mandetta disse ainda que o governo começou a realizar um cadastro com profissionais de saúde que tenham disponibilidade de querer enfrentar a pandemia de "peito aberto". Segundo ele, por ora, o ministério quer que médicos e demais profissionais participem voluntariamente. Mas ressalvou que eles podem ser convocados, citando que há previsão legal para isso.

"Se tiver necessidade, nós iremos convocar sim, mas por enquanto não há necessidade", disse. "A gente prefere trabalhar com aqueles que podem e se predispõem a trabalhar, não convocar", afirmou.

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Fonte:
Reuters

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