Petróleo em baixa e investimentos menores requerem urgências em demandas, diz IBP
Por Marta Nogueira
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A redução esperada nos investimentos da indústria de petróleo no Brasil, impactada pela operação Lava Jato, e os preços da commodity em baixa vão exigir que algumas demandas do setor privado junto ao governo brasileiro sejam atendidas com mais urgência, sob pena de haver problemas na produção no futuro.
A avaliação é do novo presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), Jorge Camargo, que toma posse na quarta-feira.
Segundo ele, a crise pela qual passa o setor no país é um momento de oportunidades para reflexão sobre o que pode ser modificado para que o setor cresça de forma sustentável.
A Lava Jato, que investiga um esquema de corrupção envolvendo a Petrobras, empreiteiras e políticos, ameaça o desenvolvimento de projetos no país. Enquanto isso, o petróleo perdeu cerca de 50 por cento de seu valor desde meados do ano passado.
"A crise que se instala é muito ruim para o Brasil, para a nossa indústria, mas de certo modo cria uma urgência no sentido de resolver problemas", disse Camargo a jornalistas nesta segunda-feira.
Entre as demandas da indústria ao governo federal citadas como mais urgentes estão a revisão de regras de conteúdo local nos projetos, periodicidade de licitações de blocos exploratórios e aprimoramento de licenciamento ambiental.
Camargo lembrou, por exemplo, que até agora grande parte das empresas que arremataram áreas na 11ª e na 12ª rodadas de licitação de blocos exploratórios de petróleo, em 2013, ainda não conseguiu licenciamentos necessários para a realização de sísmicas nas áreas.
O procedimento é um dos primeiros a serem realizados.
Além disso, o IBP tem defendido junto ao governo que o conteúdo local seja fixado previamente nas próximas licitações de blocos em rodadas de concessão, assim como aconteceu na 1ª Rodada do Pré-Sal, sob regime de partilha.
Dessa forma, as empresas não seriam incentivadas a aumentar o conteúdo local para vencer os lances --nos últimos leilões pelo regime de concessão, o conteúdo local era fator para melhorar a pontuação das ofertas.
INVESTIMENTOS
A indústria de petróleo deverá reduzir seus investimentos nos próximos anos, devido aos desdobramentos da operação Lava Jato e à redução do preço do barril de petróleo, comentou Camargo, reverberando avaliações semelhantes de outras instituições.
"As empresas estão revendo seus planos de investimentos, evidentemente priorizando aqueles que são mais estratégicos e mais robustos", disse Camargo, geólogo que presidiu a Statoil entre 2005 e 2009, hoje com mais de 38 anos de carreira, dos quais mais de 25 anos dedicados à Petrobras.
"Agora, o tamanho dessa diminuição não está definido, depende muito da Petrobras, que ainda vai divulgar seu plano de investimentos, então isso não está muito claro."
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) reduziu em 30 por cento a sua previsão de investimentos do setor de petróleo e gás no Brasil, entre 2015 e 2018, para 360 bilhões de reais.
Novas mudanças ainda podem ocorrer após a publicação dos balanços da Petrobras e de seu plano de negócios.
Para a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), a Lava Jato ameaça investimentos de 424 bilhões de reais programados para serem concluídos no Brasil até 2020.
Camargo substitui João Carlos de Luca, que deixa o cargo após 14 anos na presidência do instituto. Luca será conselheiro emérito do IBP.
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