"Cuba e o desencanto do poeta", por CLOVIS ROSSI, na Folha
Pablo Milanés, 72 anos a completar domingo (22), é uma espécie de Chico Buarque de Holanda cubano. Criou, com Silvio Rodríguez, a Nova Trova Cubana e funcionou na maior parte do tempo como o grande trovador da revolução.
Não o dissuadiu de cantá-la nem o fato de ter passado dois anos (1965/67) pelos campos de concentração da ilha, vítima do que chama de "repressão stalinista".
Agora, em entrevista publicada no sábado (14) por "El País", o poeta se confessa vítima de uma fraude cometida por "uns dirigentes que prometeram um amanhã melhor, com felicidade, com liberdades e com uma prosperidade que nunca chegou em 50 anos", que é, pouco mais ou menos, o tempo de vida da Revolução Cubana.
Milanés é definitivo: "Cuba forma parte do fracasso do socialismo real". Ou, posto de outra forma: é um escapismo achar que o socialismo caribenho é diferente do falecido comunismo da União Soviética e seus satélites. Faliram ambos.
Já faz algum tempo que o trovador, autor de belíssimas canções, vinha ensaiando a crítica que agora faz ao regime que defendeu.
O que surpreende é o fato de que intelectuais e artistas brasileiros, muitos dos quais sonharam sonhos embalados pelas letras de Milanés, não tenham ainda percebido o óbvio por ele exposto tão tranquila e cristalinamente.
Ou perceberam e preferem silenciar, o que é até compreensível. Raras são as pessoas com a coragem de admitir que passaram meio século equivocadas.
Ou, o que seria ainda pior, calam para não perder a boquinha dos convites para viajar a Cuba e louvar depois, nos seus círculos estreitos, o que era revolução e virou apenas mais uma ditadura latino-americana.
Não sei o que esse pessoal teme. Milanés critica o regime cubano sem deixar de "sentir-se revolucionário".
Explica seu fascínio pela revolução com uma descrição que muitíssima gente de sua geração também faria:
"A origem [do fascínio] está no que significou Cuba em 1959 para o mundo. Eu tinha então 15 anos e, quando me aprofundei na realidade social da América Latina, me converti em um revolucionário. (...)Os ideais que professávamos eram os mais puros que se podiam ter naquela época".
Cuba significou à época a liberdade após uma tirania obscena e a possibilidade de cicatrizar as "veias abertas da América Latina", para usar o clássico de Eduardo Galeano.
Se Cuba foi uma fraude, Milanés põe outro idealista no altar: "Para mim, o maior exemplo de revolucionário na América é José Mujica [presidente do Uruguai], preso durante 14 anos e, depois, um homem sem rancor, capaz de criar um Estado livre, soberano, não dependente e próspero".
Mujica tem realmente uma certa aura, mas o seu Uruguai está longe de representar a utopia que Cuba parecia nos anos 60.
Talvez por isso, uma ampla fatia da esquerda prefira não ver ou calar sobre a transformação da ilha caribenha em distopia.
Milanés, o poeta, ao contrário, sente que já não pode dedicar versos a uma Cuba que matou a poesia.
(por Clovis Rossi, na Folha desta terça-feira)
Filho de Bachelet será investigado no Chile
Sebastián Dávalos é acusado de usar influência para obter empréstimo vantajoso; procuradoria abre inquérito
Dinheiro foi usado para comprar terrenos, vendidos depois com lucro de 45% após mudança em legislação
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
Após receber duas denúncias de parlamentares de oposição, a Procuradoria Nacional do Chile decidiu investigar se o filho da presidente do país, Michelle Bachelet, teve acesso privilegiado a um empréstimo bancário, aprovado um dia depois da eleição dela, em dezembro de 2013. Para isso, foi designado o procurador Luis Toledo.
Segundo as denúncias, Sebastián Dávalos e sua mulher, Natalia Compagnon, teriam tido tratamento facilitado ao receber um empréstimo do Banco do Chile, instituição privada, equivalente a R$ 27 milhões. Há suspeita de informação privilegiada.
O dinheiro foi usado pela empresa Caval, de Compagnon, para comprar terras na comuna de Machalí. Mais tarde, elas foram vendidas por cerca de R$ 40 milhões --as terras se valorizaram após um plano diretor encaminhado pelo governo em 2014.
O empréstimo foi concedido à Caval depois que o casal se reuniu com o vice-presidente da instituição, Andrónico Luksic, um dos homens mais ricos do Chile, em 6 de novembro de 2013. A aprovação saiu em dezembro do mesmo ano, um dia após o segundo turno, em que Bachelet se elegeu.
A principal novidade, apenas agora confirmada pelo Banco do Chile, é que Dávalos acompanhou sua mulher durante a reunião. Além de ter um cargo honorário no governo da mãe, Dávalos era gerente de projetos da Caval.
Em 2014, a secretaria do Ministério da Habitação responsável pela região onde foram comprados os terrenos solicitou um novo plano diretor. Isso valorizou as terras. O plano deve ser alterado para desfazer esses efeitos, mas isso só ocorrerá em 2016.
Dávalos disse que o negócio não foi ilegal, mas renunciou na sexta-feira (13) ao cargo de diretor sociocultural da Presidência, reconhecendo que o caso causou danos à presidente e ao governo. "Se eu quisesse ganhar dinheiro fácil, não trabalharia para o Estado", disse, queixando-se por ter sido criticado ao mesmo tempo por ter atividades públicas e particulares.
Osvaldo Andrade, líder do Partido Socialista, de Michelle Bachelet, disse não ver irregularidade na reunião, mas criticou Dávalos por não imaginar as consequências políticas da revelação.
"Foi um tremendo erro político. Esse simplismo de dizer que foi uma reunião entre particulares é um erro", disse o político. "Como pode ser entre particulares quando está envolvida uma pessoa que tem alta conotação política, queiramos ou não? Não é um problema de boas ou más intenções", afirmou.
Os partidos responsáveis pelas duas denúncias foram o partido Renovação Nacional, de centro-direita, e a União Democrática Independente, de direita.
A presidente, que está em férias, ainda não se manifestou a respeito.
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