Com menos exportações, Brasil tem déficit comercial de US$3,174 bi em janeiro
Por Nestor Rabello
BRASÍLIA (Reuters) - A balança comercial brasileira começou 2015 no vermelho, ao registrar déficit de 3,174 bilhões de dólares em janeiro, com destaque para os menores embarques de produtos básicos.
No mês passado, as exportações somaram 13,704 bilhões de dólares. Pela média diária, que ficou em 652,6 milhões de dólares, houve queda de 17,9 por cento ante dezembro e de 10,4 por cento sobre um ano antes, informou o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Esta foi a menor média diária para janeiro desde 2010.
As exportações de produtos básicos caíram 19,7 por cento pela média diária em janeiro sobre dezembro, com destaque para carnes e minério de ferro --cujos preços recuaram 3,6 por cento na comparação mensal mas, em 12 meses, já caíram 49 por cento.
Já as importações somaram 16,878 bilhões de dólares em janeiro, ainda segundo o ministério. Neste caso, a média diária ficou em 803,7 milhões de dólares, alta de 2,8 por cento sobre o mês anterior e queda de 12 por cento sobre um ano antes.
Segundo o secretário de Comércio Exterior da pasta, Daniel Godinho, o crescimento das importações ocorreu porque as empresas começaram a repor os estoques. Pela média diária, as importações de bens de capital subiram 17,8 por cento em janeiro sobre dezembro.
"Janeiro é um mês tradicionalmente deficitário, em função da fraca atividade econômica do período", afirmou Godinho a jornalistas.
O resultado de janeiro veio em linha ao esperado pela mediana dos especialistas consultados pela Reuters, com projeção de déficit de 3 bilhões de dólares.
Em janeiro de 2014, o Brasil havia registrado déficit comercial recorde da ordem de 4 bilhões de dólares, com forte aumento das importações de bens de consumo.
POR ENQUANTO
Segundo o secretário, "por enquanto" há a expectativa de que a balança comercial encerre 2015 com saldo positivo, sem revelar números, e que não haverá meta de exportações neste ano. Existem desafios no cenário externo, com fraca atividade, baixos preços de commodities e devido ao comportamento da atividade de países importantes para a balança comercial brasileira, como a China, acrescentou Godinho.
"Os fatores que podem afetar positivamente a balança são o câmbio num patamar acima do registrado nos últimos anos e o crescimento da economia norte-americana, que pode puxar as exportações brasileiras de manufaturados", acrescentou.
Em 2014, o país registrou déficit comercial de 3,93 bilhões de dólares, o primeiro saldo negativo desde 2000, por conta dos baixos preços de commodities e cenário externo menos favorável.
A ausência de superávits na balança comercial foi uma das principais causas do rombo recorde de 90,948 bilhões de dólares nas transações correntes do país no ano passado, um dos pontos de vulnerabilidade do país.
Pesquisa Focus do Banco Central mostra que, pela mediana dos economistas consultados, a expectativa é de que a balança comercial encerre este ano com superávit de 5 bilhões de dólares.
Não somos Joaquim Levy
Por Rubem de Freitas Novaes*, publicado no Instituto Liberal
Segundo relato da imprensa, Joaquim Levy, o “Chicago-boy”, passou a ser o queridinho de Davos e do “mercado financeiro”. Aqui no Brasil, economistas representativos de nossa esquerda desenvolvimentista já se insurgem contra a adoção, pelo PT, de um projeto considerado neoliberal, antecipando uma posição de oposição ao segundo governo Dilma. Cabem, portanto, alguns esclarecimentos sobre a Escola de Chicago, onde Levy conquistou o seu PhD em Economia, e sobre o pensamento liberal, em geral.
Nestes 45 anos que se passaram desde a criação do Prêmio Nobel para economistas, nada menos que 30 professores laureados eram de alguma forma associados à Universidade de Chicago, campeã do liberalismo. Milton Friedman e Friedrich Von Hayek, ex professores da Escola, só ficam atrás de Karl Marx, Adam Smith e John Maynard Keynes nas citações na literatura, o que os coloca entre os cinco economistas mais influentes da História. Milton Friedman é considerado por muitos como “o economista do século XX”. Chicago influenciou a revolução liberal da segunda metade do século passado, ajudando a moldar a política econômica de Reagan e Thatcher e dando as bases para o processo de globalização que viria atingir inclusive a China. Aqui, na América Latina, colegas de Levy, orientados por professores de Chicago, transformaram o Chile, de um país apenas mediano na década de 70, na economia mais rica da região em termos per capita e no país menos corrupto, já que a redução com simplificação do Estado é a melhor receita para o combate da corrupção.
Não podem restar dúvidas de que as propostas até agora apresentadas por Levy representam um expressivo avanço sobre a balbúrdia em que se transformou a nossa política econômica depois de estabelecida a “nova matriz” dos heterodoxos instalados no poder. Afinal, para onde quer que olhássemos, o quadro era preocupante. Até nas reservas externas, área onde dispomos de razoável grau de liberdade, passamos a correr riscos, caso não se alterasse a percepção das agências de “rating” em relação ao Brasil. Levy, sem dúvidas, pelo menos no mundo das expectativas, mudou o quadro para melhor. Mas, será que age como um legítimo Chicago-boy?
O ministro, na verdade, torna-se criticável nas hostes liberais por ter aceito um papel secundário: o de fiscalista apenas, que lhe impedirá de comandar medidas de base capazes de realmente resolver sérios problemas econômicos, segundo o que aprendeu e parece acreditar. Levy transmite a impressão de ter ficado num pragmático meio termo, que permite sobrevivência num ambiente político hostil, mas que impede a confiança em dias gloriosos no futuro.
Que a redução de subsídios via crédito, a eliminação da contabilidade criativa, o respeito maior ao sistema de preços livres como sinalizador de produção, investimento e consumo etc. representam importante progresso em relação ao passado recente, não restam dúvidas. Mas, o que dizer do aumento de impostos num país em que a carga tributária já atinge 37% e as despesas públicas 40% do PIB, quando muitas outras medidas de redução de gastos e de privatização poderiam ser tomadas, quando menos para oferecer o bom exemplo?
Como justificar o dreno de mais recursos do setor privado quando temos 39 ministérios, diversas agências públicas inchadas e/ou desnecessárias, funcionários públicos em excesso e com remuneração acima da realidade de mercado, oportunidades várias de venda de ativos e de barateamento de obras públicas etc. etc.? Queremos propostas realmente estruturais como uma reforma da previdência nos moldes do Chile, mudanças nas regras que regem e emperram o setor de petróleo e de energia em geral, maior liberalização do comércio, com abertura de novas frentes no exterior e a flexibilização da legislação trabalhista, mas parece que, de Levy, deixado de fora do núcleo duro palaciano, o que se espera é um simples papel fiscalista, mais para “mão de gato” que “mão de tesoura”. E sabemos que uma obra incompleta, um meio-termo cinzento, pouco fará por nosso futuro. Mais sério: permitirá mais uma vez que se debite, a uma política liberal nunca implantada, o insucesso que provavelmente virá.
Em suma, Levy, dentro das limitações que lhe são impostas, tem se mostrado um profissional diligente e competente, mas está longe de defender e bem representar os ideais liberais. Quem sabe um dia seja capaz de fazê-lo? Mas, enquanto isso, “não somos Joaquim Levy!”.
*O autor, 69 anos, é PhD em economia pela Universidade de Chicago e colaborador do Instituto Liberal-RJ. Foi professor da EPGE/FGV, diretor do BNDES e presidente do SEBRAE.
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