AIPC: Mesmo diante de volatilidade, setor do cacau mantém resiliência e encontrará equilíbrio de preços nas leis de mercado
Diante de um mercado cada vez mais complexo para o setor do cacau, o Notícias Agrícolas abordou sobre as perspectivas dessa commodity para o ano de 2025. Os desafios são muitos e os valores altos, acima de US$10 mil, criam um ambiente instável para produtores, indústrias e consumidores. A seguir, você acompanha o posicionamento da Associação das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC) sobre esse momento tão delicado pelo qual passa a cacauicultura:
Notícias Agrícolas: O cacau foi a commodity que mais se valorizou em 2024, o que isso representa para o mercado? Como os atores da cadeia reagem a uma alta tão expressiva e inédita como essa?
Associação das Indústrias Processadoras de Cacau: A valorização do cacau, em 2024, foi impulsionada por uma relação desigual entre oferta e demanda. A crise de produção na principal região produtora – a África - em razão dos extremos climáticos aliados ao envelhecimento das áreas produtivas, que ficaram ainda mais suscetíveis a perdas de produtividade e até mesmo de plantas, são os principais motivadores deste cenário. O mercado global tem buscado alternativas para superar a crise na África, além da diversificação da produção em outras regiões. A cadeia global do cacau tem demonstrado resiliência para garantir que este mercado não entre em colapso diante deste cenário de incertezas e oscilações de preço.
NA: Há risco de preços insustentáveis? O mercado possui mecanismos suficientes para se autorregular, considerando os fatores que compõem o cenário atual?
AIPC: É muito difícil prever, atualmente, o patamar de preço para o mercado do cacau. De todo modo, este mercado tem mostrado grande resiliência, mesmo em cenários de alta volatilidade. Embora preços elevados possam trazer desafios, como o risco de desestimular o consumo globalmente, os mecanismos naturais de autorregulação, como ajustes na oferta e demanda, tendem a equilibrar o setor. Existe um esforço global para aumentar a produção de cacau nas diferentes origens, mas leva-se tempo para isso.Dessa forma, o mercado deverá ser ajustado pela demanda, que já demonstra sinais de queda. Além disso, a união entre os elos da cadeia produtiva, aliada a estratégias bem alinhadas, é essencial para minimizar impactos, garantindo um mercado mais sustentável e competitivo, com benefícios em longo prazo para todos os envolvidos.
NA: Qual é o panorama atual da safra africana? Há informações sobre embarques de cacau para o Brasil?
AIPC: A safra africana enfrenta desafios com quedas de produtividade, mesmo que o clima não seja um problema para a próxima safra, os estoques globais de amêndoas de cacau estão muito baixos, e isso traz bastante incerteza. Ainda não está claro como será o resultado da próxima safra da Costa do Marfim e Gana, os dois principais países produtores. Como a safra brasileira de 2024 deve ficar muito abaixo do esperado (os dados devem ser divulgados depois do dia 10/01), existe uma necessidade maior de importação para atender os clientes internacionais. Em geral, as importações acontecem entre janeiro e março.
NA: E a safra brasileira? Podemos considerá-la satisfatória? Com a colheita sendo finalizada, alguns relatos apontam preocupações com a florada. Esse já é um tema para colocar no radar?
AIPC: Os números finais de 2024 ainda não estão disponíveis, mas é muito provável que sejam menores do que o que foi recebido em 2023. Infelizmente, este ano a produção brasileira sofreu também com os extremos climáticos, e algumas regiões tiveram muitos problemas com pragas, como a Vassoura de Bruxa e a Podridão Parda. O Brasil ainda não produz o suficiente para atender a necessidade da indústria instalada no País e, por isso, dependemos de importação. Acreditamos que este cenário mudará em breve, mas que ainda leva uns cinco anos para que isso se concretize de forma consistente e sustentável. Quanto à próxima safra, ainda é cedo para saber, mas o que temos de informação é que o clima tem ajudado e que, a partir de abril, se não houver nenhum problema, as entradas de cacau serão muito boas. Além disso, existem novas áreas produtivas, que devem começar a se consolidar a partir deste ano, o que pode nos surpreender positivamente até o final de 2025.
NA: O produtor brasileiro de cacau inicia o ano capitalizado? Como os produtores estão se preparando para 2025? Já adquiriram insumos? Com o dólar em alta, os custos operacionais merecem atenção?
AIPC: Os preços de cacau começaram a subir em meados de fevereiro de 2024 e, desde então, têm se mantido em valores bem acima das médias dos últimos cinco anos. Produtores com boa produtividade e planejamento com certeza entram em 2025 capitalizados e investindo. Escutamos de muitos produtores que estão aproveitando este momento para melhorar o trato da terra, investir em mão de obra qualificada e tecnologia.
NA: Relatos sobre deságio nos preços internos e mudança de vencimentos para contratos futuros mais baixos. Essa prática pode gerar desgaste na cadeia produtiva? O mercado nacional perde competitividade com isso?
AIPC: A AIPC não discute preço praticado no mercado interno, pois trata-se de práticas concorrenciais, e cada operador atua conforme suas estratégias de negócio. Entendemos que o mercado é de livre concorrência e que produtor e indústria podem negociar da melhor forma e no momento mais adequado. Além da indústria, tanto as associadas da AIPC, como outras existentes no mercado, o produtor pode vender seu produto no mercado internacional ou ainda utilizar no mercado bean to bar ou tree to bar. A indústria brasileira tem garantido a compra de quase 100% da produção nacional, permitindo que esta cadeia seja uma das que mais tem liquidez no País, independentemente dos valores praticados no mercado.
NA: Algum comentário adicional?
AIPC: Todos os elos da cadeia produtiva do cacau precisam trabalhar juntos para superar os desafios e construir um mercado mais forte. A cacauicultura brasileira está mudando, se modernizando, e essa transformação exige união entre produtores, indústria, terceiro setor e governos, permitindo decisões mais significativas, promovendo não apenas o desenvolvimento do cacau, mas também um impacto positivo na economia brasileira e na sociedade como um todo. Trata-se de investir, persistir e acreditar no futuro, juntos, com propósito e dedicação.
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