Com berço do cacau sofrendo com doenças e calor excessivo, preços avançaram mais de 200% no último ano
Com gargalos na oferta global, o cacau continua sendo o produto que mais avança nas bolsas internacionais. Um levantamento realizado pela base de dados do Notícias Agrícolas mostra que no último ano o contrato mais negociado em Nova York avançou mais de 200%. A quebra na produção da África, principal origem do produto, justificam valores tão significativos.
Segundo Rafael Borges, analista da StoneX Brasil, há algum tempo o mercado trabalha com a projeção de quebra de 18% para a Costa de Marfim e 18% para Gana, os dois principais produtores de cacau do mundo. No contexto global e considerando a produção em outros países, o mercado estima uma queda produtiva de 11% no ciclo atual.
Os fundamentos seguem sólidos, com o mercado preocupado com as altas temperaturas e baixo volume de chuva na região. "Um clima extremo, muito mais extremo em relação aos anos anteriores, mas também a incidência de doenças", afirma.
Além disso, dados mais recentes mostram que até 30% das áreas de cacau nos dois países estão impactados com doenças graves para a planta. "É um vírus transmitido por um pulgão e vai sendo transmitido de árvore em árvore. No primeiro ano essa doença traz queda de produtividade e geralmente depois de três anos essa árvore acaba morrendo. Tem um contexto estrutural para essa queda tão brusca da produção", explica o analista.
Diante deste cenário, o mercado espera uma queda bem acentuada dos estoques. Se confirmado, será o terceira safra com déficit global do produto e com a demanda superando a oferta. "O déficit para essa temporada é esperado é de 374 mil toneladas e isso depois de três safras deve trazer o estoque para mínimas em muitas décadas", complementa.
A demanda tem sido o principal fundamento do mercado. Rafael explica que os dados mais recentes da indústria de processamento esperava uma queda mais significativa, sendo surpreendido pelo setor. "A gente viu uma queda bem menor do que era esperado, de 2,2% para moagem de cacau na Europa, 0,2% na Ásia. Foram dados bem menores do que se estava esperando e isso trouxe toda fundamentação altista para o cacau", afirma.
A volatilidade, de acordo com o especialista, se mantém, mas os fundamentos continuam sólidos e o mercado continuam com suporte na demanda que ainda está suportando valores tão expressivos nos preços.
BRASIL
O primeiro trimestre de 2024 registrou uma queda de 31% no volume recebido de amêndoas nacionais, pela indústria processadora de cacau. Foram 18,7 mil toneladas recebidas no período, em contraste com as 27,2 mil toneladas recebidas nos três primeiros meses de 2023, de acordo com os dados compilados pelo SindiDados – Campos Consultores, e divulgados pela Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC). “No primeiro trimestre de todo ano já é esperado um volume menor de recebimento, mas este ano a queda foi de mais de 30% comparado com 2023, e essa redução se deve principalmente aos impactos do El Niño e de doenças como a vassoura de bruxa e podridão parda”, explica a presidente-executiva da AIPC, Anna Paula Losi.
Recebimento por estado
A Bahia foi responsável por pouco mais de 61% do volume total de amêndoas nacionais recebidas pela indústria processadora no primeiro trimestre de 2024, totalizando 11,4 mil toneladas. Em comparação com o mesmo período do ano anterior, quando o volume fornecido pelo estado foi de 13,9 mil toneladas, houve um recuo de aproximadamente 18%.
O Pará, por sua vez, foi responsável por 32%% do volume recebido, totalizando 5,8 mil toneladas, uma queda de quase 50% em comparação com o mesmo período do ano anterior, quando o recebimento foi de 11,6 mil toneladas.
Espírito Santo (1.273 toneladas) e Rondônia (156 toneladas) foram responsáveis por 7% do volume total recebido no primeiro trimestre do ano de 2024, mantendo-se estáveis frente aos valores de 2023.
Moagem
Já a moagem de cacau no País, teve um recuo de 6%, frente aos números do mesmo período de 2023. O volume industrializado de amêndoas foi de 59,9 mil toneladas nesses três primeiros meses de 2024, frente as 64 mil toneladas do ano anterior. Anna Paula afirma que “a redução na moagem está ligada à queda no recebimento de amêndoas no período. De todo modo, o volume de moagem deste trimestre ainda é superior à média do primeiro trimestre dos últimos 3 anos”.
*Com informações da AIPC
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