Quanto o Brasil tem de arroz? O suficiente para não aumentar importação ou zerar a TEC, afirmam especialistas
Quanto arroz tem o Brasil neste momento? Seria mesmo necessário importar ou zerar a TEC (Tarifa Externa Comum) sem cotas para produtos de fora do Mercosul neste momento? As respostas para estas perguntas são claras para representantes do setor, analistas e consultores de mercado, porém, divergem das medidas adotadas pelo Governo Federal. Mais do que isso, as medidas são duramente criticadas.
"A decisão foi equivocada, inoportuna e desastrosa no longo prazo ao se zerar o imposto de importação de arroz de países de fora do Mercosul até 31 de dezembro de 2024", afirma Carlos Cogo, sócio-diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio. E complementa dizendo ainda que "o zeramento de TEC sem cotas e a manutenção da intenção de compra de arroz importado pela Conab é um tiro duplo no ânimo dos produtores. O governo impôs uma grande derrota ao setor produtivo".
Cogo afirma que esta é uma medida ainda pior do que o governo importar arroz, já que o setor privado é bastante organizado e poderia trazer grandes volumes do grão da Ásia, sem a TEC, aumentando o volume de produto no país e atingindo diretamente a rentabilidade do produtor brasileiro.
"Temos um histórico de importações exageradas, feitas por governos no passado, que desestimularam plantios futuros. E o pior, os agricultores atingidos são, em grande maioria, pequenos e médios produtores rurais", diz.
Já a diretora executiva da Abiarroz (Associação Brasileira da Indústria), Andressa Silva, acredita que a retirada da TEC, dentre todas as medidas avaliadas pelo governo para o atual momento, é a mais coerente. "Ela permite que a própria indústria, o setor privado, vá buscar o arroz em terceiros mercados. A importação de arroz pelo governo, além de onerosa, ela pode desregular toda a comercialização. Só o anúncio da importação de um milhão de toneladas já aqueceu os preços internacionais, então é um movimento muito delicado, que tem que ser muito bem pensado", diz.
Andressa explica também que, ao mesmo tempo, essa "retirada da TEC favorece o aumento da oferta de arroz no mercado interno, ao mesmo tempo em que estabelece um teto de preços. Então, é um medida extrema, mas, dentro das medidas propostas, é a mais acertada. Em relação aos leilões da Conab, que foram suspensos, o posicionamento da indústria é de que o melhor caminho seria o cancelamento destes leilões e a retirada da TEC, como foi feito (com a tarifa)".
De fato, é difícil mensurar, de forma assertiva, depois de tudo o que tem acontecido no Rio Grande do Sul - maior estado produtor do grão - com quanto arroz o Brasil pode contar agora, todavia, o setor segue afirmando é que há o bastante para abastecer o país com segurança. A Federarroz informa, com dados também do IRGA (Instituto Rio Grandense do Arroz), que a atual safra gaúcha é estimada em 7,149,691 milhões de toneladas de arroz e ao se confirmar, seria apenas 1,24% menor do que a anterior. Apesar de perdas de produtividade, a área plantada foi 7,2% maior, saindo de 839,972 mil para 900,203 mil hectares.
"Essa produção, somada a dos demais estados produtores de arroz, garante o abastecimento da produção brasileira", afirma a federação. O informe aponta ainda que mais de 6,44 milhões de toneladas do grão já haviam sido colhidas, e que - ao menos até este momento - a estimativa de colheita remanescente nas áreas não atingidas pelas cheias é de 709,163 mil toneladas. "Restam 142,137 mil hectares no total para colher, sendo 22,952 mil estando totalmente perdidos e 17,903 parcialmente submersos pelas águas".
Os números, naturalmente, ainda serão ajustados em todas as esferas, já que muitas regiões ainda estão com os níveis das águas muito elevados, o que impede o acesso a propriedades ou a silos. "Obviamente, ainda temos que contabilizar algum prejuízo que tivemos em infraestrutura de armazenamento, mas, de início, se conta entre 6,4 e 6,5 milhões de toneladas (...) A safra gaúcha deve ficar bem parecida com a do ano passado, na casa de 6,8 a 7 milhões de toneladas. Com isso, somando todos os estados que tiveram um bom aumento de área, a produção nacional deve ficar entre 10 e 10,2 milhões de toneladas, uma produção bastante ajustada ao consumo", que também gira em torno de 10,2 a 10,4 milhões de toneladas", explica o analista da Safras & Mercado, Evandro Oliveira.
Neste quadro, os atuais estoques de arroz do Brasil poderiam ser alguns dos mais apertados em quase duas décadas, ainda segundo ele, estimando em torno de 500 mil toneladas nas mãos de produtores e indústrias no início do mês de março. Este número já sinalizava que a temporada seria de aperto na oferta, o que também era mais uma justificativa para que este fosse um novo ano de aumento das importações, estimadas entre 1,7 e 1,9 milhões. Ao mesmo tempo, porém, as exportações do Brasil deveriam também ser menores em função dos preços pouco atrativos para os compradores internacionais.
"Com estes números, chegaríamos na próxima temporada ainda com estoques apertados, mas uma temporada de novo aumento da área plantada com arroz, uma temporada que será de La Niña, com grandes chances de uma produção mais favorável. Então, por isso projetávamos um 2025 de equilíbrio na cadeia de arroz, com maior produção e estoques mais confortáveis", complementa Oliveira.
O analista afirma ainda que diante dos números atuais que contabilizam:
1,550 mi de hectares de área;
6,800 kg/ha de produtividade;
550 mil t de estoques iniciais;
10 mi de t de produção;
1,9 mi de t de importação;
a oferta total chegaria a 12,45 milhões de toneladas.
Já do lado da demanda são:
1 mi de t de exportações;
de 10,2 a 10,4 mi de t de consumo total;
levando a demanda a 11,4 milhões de toneladas. "E isso levaria os estoques finais, em 28 de fevereiro de 2025, a algo como um milhão de toneladas, uma relação de estoque x consumo ao redor de 10%. E ainda assim, teríamos um avanço já que em 2022 foi de mais de 11%, em 2023 caiu para 7% e na temporada 2024/25 teríamos um novo avanço. Assim, com base nos números que temos neste momento, reduzindo a produção do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, e considerando a boa produtividade de demais estados que tiveram bom avanço de área, estes seriam os números para esta temporada".
Em entrevista ao programa Conexão Campo Cidade, do Notícias Agrícolas, o diretor executivo e jurídico da Federarroz, Anderson Belloli, explicou que das seis regiões arrozeiras no Rio Grande do Sul - Fronteira Oeste, Campanha, Central, Zona Sul, Planície Casteira Interna (PCI) e Planície Casteira Externa (PCE) - apenas uma foi gravemente atingida pelas enchentes, a Central. E assim, traz mais uma justificativa sobre a condição de abastecimento do país.
Belloli explica também que "os rizicultores gaúchos mais afetados, da região Central, têm como característica áreas menores de produção. Os maiores plantam em cerca de 80 hectares. O governo prejudica dois nichos vuneráveis: o pequeno produtor e o consumidor".
Na mesma edição, o economista chefe da Farsul (Federação de Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul), Antônio da Luz, reforçou que o problema mais grave do estado, neste âmbito, é o logístico, dadas as proporções das enchentes. "A cheia em Porto Alegre foi tão mais calamitosa do que as pessoas pensam que a água chegou aos centros de processamento de dados do governo, ficamos sem os sites do governo e sem capacidade de emitir notas. Enquanto isso não se resolve ficamos com dificuldade de escoamento por uma questão burocrático. É muito mais fácil e rápido resolver isso do que trazer produto de fora", diz.
Da Luz complementa dizendo que as intenções do governo de intervir nos preços e realizar leilões já vinham ventilando desde o ano passado. "As enchentes são mera desculpa para fazer o que já estava programado", declarou.
Reveja a íntegra do programa:
Talvez por tantas incongruências e pela especulação sobre as compras externas brasileiras terem promovido uma alta de 30% nos preços do arroz entre os países produtores do Mercosul, a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) suspendeu o leilão que estava previsto para este 21 de maio e disse, em nota, que "a data de realização será publicada oportunamente".
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