Cadeia de aves e suínos vê cenário positivo para o abastecimento de milho nos próximos meses
O setor de aves e suínos comemorou a decisão da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), - órgão do governo vinculado ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação -, que aprovou na tarde de quinta (6) a importação de três variedades de milho transgênico dos EUA.
Na avaliação da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) o sinal verde para importação das variedades transgênicas trará mais equilíbrio ao mercado interno brasileiro.
Com estoques ajustados, a compra dos Estados Unidos trará "reequilíbrio da oferta interna do insumo, melhorando as condições de competitividade. Desde janeiro sofríamos com uma alta especulativa decorrente das fortes exportações e de outros fatores, o que deixou diversas empresas em estado de atenção. Todos estavam pagando o preço por isto, tanto produtores e agroindústrias, quanto os consumidores”, declara o presidente da Instituição, Francisco Turra.
"Não significa, porém, que vamos importar quantidades que comprometam a demanda da próxima safra do Brasil", acrescentou Turra em entrevista à Reuters.
A perspectiva positiva sobre o abastecimento de milho também é influenciada pela oferta do cereal nos silos paraguaios e argentinos. Segundo dados da Ministério da Indústria e Comércio Exterior (MDIC), as importações brasileiras de milho saltaram para 295 mil toneladas em agosto, maior volume do ano e uma alta 1800% ante o mesmo mês de 2015.
Além disso, há projeção de bom desempenho da primeira safra, especialmente nos estados do Sul, que concentram 70% da produção de carne de frango e 80% da produção de carne suína. "Com isto, a escassez que enfrentamos no primeiro semestre não deverá se repetir”, afirma o presidente da ABPA.
Em entrevista ao Notícias Agrícolas, o analista Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, foi mais cauteloso na avaliação. Para ele embora o efeito psicológico seja grande, os volumes embarcados não serão expressivos a ponto de trazer grandes quedas no preço interno do cereal.
Já para o presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), Losivanio Luiz de Lorenzi, os volumes efetivados para a importação não devem ser realmente altos, porém, somente o fator psicológico da medida já poderá “promover uma movimento de venda de milho que ainda está estocado no país.”
Mas, para que esses efeitos sejam realmente sentido aos produtores de aves e suínos, Lorenzi, ressalta a necessidade de efetivação dessas compras nos próximos meses. Em nota, o Ministério da Agricultura declarou que “a CTNBio deu prazo de 30 dias para que qualquer interessado recorra da medida. Caso haja contestação, a decisão vai para o Conselho de Ministros. Se em 30 dias não houver recurso, a importação poderá liberada.”
O analista da Granoeste Corretora, Camilo Motter, lembra que o tramite completo - da negociação à internação do produto -, demora entre 60 e 90 dias.
Historicamente, a indústria de rações demanda mensalmente cerca de 5 milhões de toneladas de milho. Neste ano, com o recuo na produção em consequência da restrição econômica do país, a expectativa do Sindirações (Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal) é que o setor consuma 43 milhões de toneladas do cereal, totalizando aproximadamente 3,5 milhões t/mês.
Após a desaceleração da produção de carne de frango e de carne suína "calculamos queda de 1 milhão de toneladas frente a estimativa inicial de 44 milhões de toneladas", explica o CEO do Sindirações, Ariovaldo Zani.
De acordo com levantamento da ABPA a produção de carne de frango em 2016 deverá ficar em 13 milhões de toneladas (4% menor que as 13,5 milhões de toneladas previstas no início deste ano) e a de carne suína, em 3,64 milhões de toneladas (inferior à previsão de 3,76 milhões apresentadas em janeiro). Esta perspectiva parte das estratégias adotadas por diversas empresas para diminuir o ritmo da produção – como a suspensão de turnos de trabalho, encerramento de atividades de plantas e outras decisões no âmbito produtivo.
A perspectiva do setor para os próximos meses é que a oferta do cereal se equilibre possibilitando queda nos custos de produção. "No último trimestre temos um incremento da demanda com o pagamento dos décimos terceiros salários e as festas de final de ano, e a possibilidade de elevação na produção com a perspectiva de custo menor", destaca Zani.
O sentimento positivo da população em relação à recuperação da economia também deverá favorecer a demanda no período. Neste sentido, "precisaríamos ter um equilíbrio nos preços do milho a níveis que estimulassem a produção de granjeiros", acrescenta CEO do Sindirações.
Segundo analistas, o milho americano chegaria ao Brasil a um custo na casa dos R$ 30 por saca, abaixo das atuais cotações, que segundo Brandalizze está sendo negociado entre R$ 40 a R$ 42 a saca para entrega em dezembro e janeiro, da safra de verão.
2017
No longo prazo as expectativas do setor também são positivas à produção de aves e suínos. Para o CEO do Sindirações, Ariovaldo Zani, sem projeção de problemas climáticos na primeira safra; o câmbio tornando o produto brasileiro menos competitivo no mercado internacional; e a safra recorde nos EUA mantém mais milho no mercado interno.
A área destinada ao plantio do cereal na temporada 2016/17 poderá registrar um incremento de até 10% no Brasil, segundo levantamento do analista Vlamir Brandalizze. Neste sentido, com clima favorável, a produção deverá totalizar 30 milhões de toneladas.
No cenário internacional as projeções de safra recorde nos EUA podem reduzir a competitividade do produto nacional no mercado internacional. No relatório mais recente do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, sigla em inglês) foi divulgado uma projeção de produção do cereal norte-americano em 380,36 milhões de toneladas, superior as 345,48 milhões de toneladas produzidas na safra anterior. As expectativas indicam ainda os estoques finais de milho entre 50,45 milhões a 68,33 milhões de toneladas, com a média de 58,98 milhões.
No início deste mês a China também autorizou a concessão para pelo menos duas empresas exportarem milho, disseram fontes do mercado à Reuters. A medida foi considerada radical em uma tentativa de reduzir os estoques do segundo maior produtor mundial, em um momento que o mercado global está saturado.
Mesmo que os volumes exportados sejam limitados, o movimento deve assustar grandes exportadores, como o Brasil e os Estados Unidos, elevando a competição em tempos de colheitas recordes.
E, com a possibilidade de recuo do real frente ao dólar, caso medidas importantes como a PEC dos gastos públicos e a reforma da Previdência sejam aprovados, também poderá restringir a vendas externas do Brasil.
Para o Turra a tendência nesta temporada é de que a “oferta internacional seja superior à demanda, por isso esperamos uma condição melhor de abastecimento no Brasil”, afirma.
2 comentários
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Fernando Tatemoto Tietê - SP
Sem os transgênicos o mundo já estaria em guerra pelos alimentos. Como bem observou o Paulo Roberto Rensi, nas gondolas dos supermercados, principal fornecedor da nossa alimentação diária, tudo, praticamente tudo, é derivado dos transgênicos. Só lembrando que a China é a segunda maior produtora mundial de milho. Transgênicos, com certeza!
Pedro A Philippsen nova santa rosa - PR
É necessario divulgar o nome das empresas consumidoras desse produto para que as demais esportadoras de carne não tenham problemas na exportação, pois, pelo que se sabe, a China não quer esse milho.
Sr. Pedro, o Sr. sabe o percentual de plantio de milho transgênico no Brasil ? Até o fermento usado para bolo tem o "T" da transgenia, pois usa o amido de milho em sua composição. Nas gondolas dos supermercados não se acha mais produto sucedâneo de milho livre do "T". Todas as proteínas animais brasileiras, aves, suínos e bovinos, há um bom tempo são produzidas com a alimentação de milho transgênico.