Direto da Austrália: Seca trazida pelo El Niño castiga agropecuária local
Pecuaristas e agricultores australianos estão sofrendo os efeitos do EL Niño 2015-16, considerado um dos três mais fortes eventos dos últimos 50 anos, de acordo com o Escritório de Meteorologia (BoM - Bureau of Meteorology) da Austrália. Temperaturas acima do normal e seca em diversas partes do país estão causando incêndios florestais, trazendo prejuízos para a pecuária, e fazendo com que muitos agricultores desistam do plantio deste ano. Frente a crise, associações e governo dão exemplo de união e enviam ajudas financeiras e até apoio psicológico para produtores passando por situações extremas. Apesar dos esforços, o clima extremo não deverá dar trégua tão cedo, de acordo com Agata Imielska, climatologista do BoM, que deu entrevista exclusiva ao Notícias Agrícolas.
Ovelhas magras correm para se alimentar em propriedade atingida pela seca em Tasmânia, ilha ao Sul da Austrália
Incêndio florestal em Melbourne, Victoria, no dia 11 de Janeiro. DFES (Department of Fire & Emergency Services)
“Os efeitos do El Niño estarão em seu ápice no primeiro trimestre de 2016, e podemos registrar um clima mais ameno no segundo trimestre, porém, há previsão da chegada do evento La Niña, que deverá aumentar as chuvas e trazer mais eventos extremos”.
Imielska também garante que O El Niño 2015-16 é um dos 3 mais fortes eventos climáticos dos últimos 50 anos. “Nós apenas tivemos eventos climáticos tão fortes quanto esse em 1982-83 e em 1997-98”.
A Austrália registrou o final do ano mais quente de sua história em 2015, sob efeito do El Niño. A temperaturas em todo o país ficaram em média 0.36 C acima da média.
Áreas em amarelo e laranja registraram temperaturas recordes ou muito acima da média em 2015. (BoM)
Em todo o país, a ocorrência de chuvas ficou 5% abaixo da média em 2015. (BoM)
Temperaturas deve continuar acima da média no norte da Austrália, até março de 2016. (BoM)
Apesar da seca recorde na maior parte do país, algumas regiões tiveram chuvas acima da média sob influência de um aquecimento recorde no Oceano Índico, provocando o aumento da umidade.
La Niña pode trazer ciclones tropicais
Os efeitos do El Niño – temperaturas acima da média, falta de chuvas – devem cessar no outono de 2016, para dar lugar a La Niña. “Veremos o El Niño amenizar durante o outono, que é a estação de transição climática do *ENSO. Esta será uma época para ficar de olho no clima. A La Niña trará um clima mais chuvoso, com riscos de ciclones tropicais”. A climatologista afirma também que “Eventos extremos” de El Niño tendem a ser seguidos por eventos extremos de La Niña.
O último evento de La Niña registrado começou em 2010 e seus efeitos foram sentidos até 2012. Geralmente, o fenômeno dura de 9 a 12 meses, mas existe chances de persistir por até dois anos.
Pecuaristas sofrem prejuízos na Tasmânia
No estado de Tasmânia, ilha que fica ao Sul do país, pecuaristas enfrentaram a primavera mais seca dos últimos 140 anos e continuam sofrendo os efeitos da falta de chuvas e as altas temperaturas no verão. Ao verem seu rebanho sucumbir, eles pressionam o governo para declarar estado de seca.
“A umidade do subsolo foi completamente esgotada e qualquer vento leva todo o pasto embora, não há nada para reter a vegetação”, afirma o produtor Richard Bowden, em Tasmânia.
O chefe executivo da Associação de Agricultores e Pecuaristas da Tasmânia (TFGA - Tasmanian Farmers and Graziers Association), Peter Skillern, afirmou que está em discussão com o governo do estado para achar maneiras de ajudar os produtores.
Muitos são obrigados a recorrer a irrigação constante, o que aumenta muito os custos. “A falta de pasto também é uma grande preocupação. A venda de animais está crescendo muito, porque os pecuaristas não conseguem alimentar seu rebanho”.
Reservas de água estão abaixo da média no sul e sudoeste da Austrália. (BoM)
O ministro de Serviços Primários da Tasmânia, Jeremy Rockliff, informou que o governo do estado já destinou mais de 2,5 milhões de dólares australianos para subsidiar sistemas de irrigação. “Nós vamos continuar monitorando os impactos sociais e econômicos na área rural e iremos enviar mais ajudas, se necessário”.
Prejuízos a longo prazo
Mesmo que os efeitos do El Niño diminuam no outono, as consequências de uma seca prolongada irão continuar a afetar a agricultura e pecuária australiana. Climatologistas do BoM afirma que o país continuará sentido os impactos do evento climático, como o maior risco de geadas no inverno, devido ao solo seco e a diminuição de nuvens e maiores riscos de enchente durante as chuvas.
Pecuaristas de Victoria pedem ajuda ao governo
A Federação de Agricultores de Victoria (VFF – Victorian Farmers Federation) lançou um comunicado à imprensa informando que está pedindo “ajuda urgente” ao governo do estado, que fica ao Sul do país, para construir áreas de contenção de gado.
“O governo do estado já destinou AU$ 500 mil para ajudar a fazer as áreas de contenção já foram enviados aos produtores... Agora, mandamos um pedido formal para um segundo pacote de ajuda, já que não estamos vendo nenhum sinal de alívio nas áreas atingidas pela seca”, afirmou o presidente do setor de pecuária da VFF, Ian Feldtmann.
Reservatório de água seca na área rural do estado de Victoria. (foto Danielle Grindlay)
As áreas de contenção permitem que pecuaristas restrinjam seus animais a uma pequena área na propriedade, onde conseguem alimentá-los e acelerar a recuperação do pasto. Esta é considerada uma medida extrema tomada por pecuaristas australianos em casos de estiagem
ou depois de incêndios florestais.
Mídia australiana dá espaço para produtores em situação de risco
O site australiano ABC News criou uma página especial, chamada “Living through drought” – Sobrevivendo à seca - onde produtores falam sobre como a seca tem prejudicado sua produção. Dezenas de depoimentos dramáticos mostram que alguns pensam em deixar as atividades.
Veja mais depoimentos de produtores australianos enfrentando seca:
https://www.abc.net.au/news/interactives/your-say-living-through-drought/
União: como os australianos conseguem dar a volta por cima?
Apesar de ter registrado uma média boa de chuvas no final de dezembro, o extremo norte de Queensland – estado que produz a maior parte do gado australiano – ainda sofre as consequências de uma seca extrema. Em 2015, 80,35% do estado foi declarado em situação de estiagem.
Mas diante de tudo isso, como seguir em frente? Como um país que tem a maior parte de seu território coberto por deserto pode ser um dos mais ricos e prósperos do mundo?
Orgulho de ser australiano
O povo australiano valoriza seu país, sua produção e sua cultura. Alimentos produzidos na Austrália tem a preferência absoluta da população por serem considerados de qualidade superior, mesmo que sejam mais caros que seus concorrentes asiáticos. O governo australiano criou dois selos para, certificar produtos feitos no país. Eles carregam frases como “Orgulhosamente feito na Austrália”.
Baixa desigualdade social
A Austrália não só é um países mais ricos do mundo, mas é também tem uma das mais igualitárias distribuições de renda. O baixo índice populacional faz com que todos que queiram trabalhar tenham emprego e ganham salários acima da média mundial, mesmo em trabalhos que não exigem qualificações.
Baixo nível de corrupção
Em 2014, Barry O’Farrell, governador do estado de New South Wales, cuja capital é Sydney, foi pressionado a renunciar seu cargo político devido a uma acusação de corrupção: ele teria aceitado uma garrafa de vinho de um executivo da Australian Water Holdings, empresa responsável pelo fornecimento de água para o estado. O presente, avaliado em 3 mil dólares australianos, seria uma indicação de que o Este foi um dos maiores escândalos políticos dos últimos tempos no país.
Apoio governamental a agricultura
A mineração é a principal fonte de renda da Austrália, mas a agricultura também tem seu lugar de destaque. O Ministério da Agricultura do país informou que irá destinar 4 bilhões de dólares australianos para fortalecer o setor e aumentar a competitividade dos agricultores australianos. “Produtores mais fortes representam mais força para a economia Australiana” anuncia o documento do ministério.
Um dos principais alvos de investimento do ministério será justamente o combate a seca. Milhões de dólares serão investidos em centros de pesquisas para ajudar os produtores a se prepararem melhor para as mudanças do clima.
Outro investimento curioso é o programa de apoio psicológico para produtores atingidos pela seca. Uma pesquisa mostrou que o índice de suicídio é maior em áreas rurais de estados como Queensland. O governo do estado informa que 2,9 milhões de dólares australianos serão destinados ao programa de apoio psicológico.
Doação de feno
A Austrália tem inúmeras associações de apoio financeiro e social para pessoas em estado de risco. A Aussie Helpers é dedicada especialmente a ajudar produtores rurais. Este ano, a associação que conta com voluntários em todo o país doou toneladas de feno, avaliadas em 1 milhão de dólares, para pecuaristas atingidos pela seca.
Feno doado a produtor de Queensland pela associação Aussie Helpers
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