Café: Clima e exportações brasileiras movimentam a semana; confira análise da Hedgepoint
- Os preços futuros dos cafés arábica e robusta oscilaram nos últimos dias, refletindo à passagem de uma frente fria no Brasil, que trouxe geadas em regiões como o Sul de Minas, Cerrado e Mogiana.
- No entanto, acredita-se que os impactos foram muito inferiores à 2021, dado que as geadas ocorreram de forma localizada (especialmente em baixadas). A condição vegetativa das lavouras até julho – medida pelo índice NDVI – também é mais positivo que em 2021, o que pode minimizar os prejuízos trazidos pelo frio.
- Outro fator que influenciou as cotações ao longo da semana foram os dados brasileiros de exportação de julho. Os embarques totais atingiram 3,77 M de scs no mês, alta de 25,7% frente à jul/23. O volume acumulado de 2024 já soma 28,1 M scs, novo recorde para o período.
- Enquanto as exportações do arábica atingiram 2,49 M scs, 13% maior que jul/23, os embarques de conilon foram de 900,81 mil scs, aumento de 82,2% frente ao ano passado e o segundo maior volume mensal da história.
- Os embarques do conilon seguem sendo beneficiados pela restrição de oferta no Sudeste Asiático, visto que mesmo países como o Vietnã e Indonésia têm importado os grãos brasileiros, reforçando a perspectiva de menor oferta de robusta neste ano.
Na última semana, os preços futuros do café apresentaram alta volatilidade refletindo tanto as preocupações quanto ao clima no Brasil, quanto os dados recentes de exportação do país.
O avanço de uma frente fria no Brasil durante o final de semana dos dias 10 e 11 de agosto trouxe geadas para algumas regiões do Sul de Minas, Cerrado e Mogiana, impulsionando os contratos em NY e LN na segunda-feira, 12.
“Apesar do recuo dos contratos no dia seguinte, diante dos dados das exportações brasileiras – que será discutido mais adiante – geadas foram relatadas ao longo da semana, dando suporte aos preços do café”, diz Laleska Moda, analista de Café da Hedgepoint Global Markets.
“Entretanto, ainda que não tenhamos dimensões precisas do impacto, os relatos são de que foram atingidas principalmente áreas de baixadas, com possível menor dano às lavouras. Em comparação com 2021, as geadas foram muito mais localizadas e de menor intensidade, podendo não se traduzir em perda de potencial produtivo para 25/26”, acredita.
Além disso, o índice de vegetação por diferença normalizada (NDVI), usado para quantificar a saúde e a densidade da vegetação, está mais positivo em 2024 do que no mesmo período de 2021, quando os cafezais foram atingidos pelas geadas, podendo auxiliar na mitigação de possíveis danos causados pelas baixas temperaturas.
Nos estados de São Paulo e Minas Gerais, por exemplo, a média mensal do índice NDVI está acima da observada em 2021, ainda que em São Paulo, esteja abaixo da média de 5 anos.
“O monitoramento do índice nas próximas semanas, assim como as primeiras floradas da safra 25/26 trarão um melhor dimensionamento de possíveis danos causados nas lavouras e do potencial produtivo para o próximo ciclo. É valido lembrar que a frente fria também trouxe chuvas em boa parte das regiões cafeeiras o que pode induzir à floradas – já há relatos, inclusive, da abertura de flores no ES”, observa a analista.
Fora as preocupações quanto ao clima, as exportações brasileiras de julho também entraram em foco nestes últimos dias. Segundo dados da Cecafé liberados na última terça (13), as exportações totais de café atingiram a marca de 3,77 M de sacas em julho, alta de 25,7% frente ao mesmo período de 2023. O volume acumulado de 2024 já soma 28,1 M scs, novo recorde para o período.
Os embarques do arábica atingiram 2,49 M scs em julho, 13% maior que julho/23, sendo que no acumulado do ano, esse volume foi de 20,65 M scs, alta de 31,1% frente ao mesmo período de 2023.
“Porém, o grande destaque foi para as exportações do conilon/robusta, que atingiram a marca de 900,81 mil scs em julho, aumento de 82,2% comparado ao ano passado e o segundo maior volume mensal da história, atras apenas de nov/23. No acumulado de 2024, as exportações da variedade já somam 5,17 M scs, mais de quatro vezes (ou+ 313,7%) acima do acumulado de 2023 até julho e o maior volume acumulado até julho em toda a séries histórica do Cecafé”, destaca.
“Os dados dão suporte para nossas expectativas de aumento das exportações em 24/25, mesmo com uma produção menor esperada (confira nossos números completos no relatório anterior), devido tanto aos diferenciais atrativos e também à crescente demanda pelos cafés brasileiros, em especial ao conilon/robusta”, destaca.
“Quando analisamos as exportações pelos destinos para cada variedade também se torna aparente a demanda pelo conilon brasileiro. Ainda que o café arábica também tenha registrado aumento nos embarques em 2024 – em especial para a Ásia e UE – as exportações do conilon tiveram um salto significativo”, pontua.
Na União Europeia, por exemplo, a média das exportações acumuladas até julho dos últimos 5 anos foi em torno de 500 mil scs, enquanto em 2024, o volume já se aproxima de 2,5 M scs.
“Esse cenário foi reflexo especialmente da oferta restrita no Sudeste Asiático desde 2023, mas espera-se que a UE siga importando uma maior quantidade café brasileiro neste ano, dado às expectativas de oferta ainda restrita no Vietnã e os estoques europeus ainda abaixo das medias históricas (confira nosso relatório sobre o mercado europeu para mais informações)”, acredita.
Porém essa tendência de maiores importações brasileiras de robusta também foram presenciadas em outros mercados, especialmente na Ásia. Assim como na EU, observa-se um aumento das exportações brasileiras do conilon em 2024 inclusive para o Vietnã e Indonésia, produtores de robusta, reforçando o cenário de oferta da variedade restrita no médio prazo e dando suporte ao preço do café.
“A importação do grão brasileiro por outros países produtores tem reforçado que a demanda segue resiliente globalmente”, conclui.
Em resumo, as incertezas climáticas trouxeram volatilidade para o mercado dos cafés arábica e robusta nos últimos dias. A passagem de uma frente fira pelo Brasil no último final de semana ocasionou na formação de geadas em algumas regiões cafeeiras elevando os preços da commodity. No entanto, os relatos iniciais apontam que os impactos foram muitos inferiores à 2021, visto que as geadas ocorreram sobretudo em regiões de baixadas e a condição das lavouras – conforme o índice NDVI – se apresenta melhor do naquele ano.
Por outro lado, melhores estimativas no potencial produtivo de 25/26 poderão ser feitas nas próximas semanas, à medida que se iniciem as floradas da próxima temporada.
Do lado baixista, os dados de exportação do Brasil em julho apontam para um aumento dos embarques, especialmente do café conilon/robusta, que vem atingindo máximas históricas. A continuação do bom desempenho das exportações brasileiras pode trazer alguma pressão baixista para o mercado no curto prazo – assim como as exportações da Indonésia trouxeram em julho.
No entanto, é importante lembrar que os fundamentos ainda apontam para suporte das cotações no médio prazo. Mesmo com possível redução em alguns destinos, a demanda se mantém resiliente de forma geral e a perspectiva segue sendo de déficit global em 24/25 em meio a estoques (tanto nas origens quanto nos destinos) em níveis mais baixos.
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