Mercado do Boi Gordo fecha primeiro semestre com valorização
Por Gabriel Zylberlicht
Analista de BI da Nutricorp
Analisando o mercado do boi gordo houve uma valorização nunca observada anteriormente no setor. A arroba do boi gordo, segundo o indicador CEPEA, principal referência de preço à vista do setor, fechou o primeiro semestre de 2020 com uma média próxima dos R$ 200,00, uma valorização de 15,2% em relação ao segundo semestre de 2019, que por sua vez, estava em forte alta por conta da expansão do mercado China e consumo aquecido no mercado interno. Em contrapartida, quando comparamos a cotação atual com o mesmo período do ano passado, a arroba apresentou uma valorização ainda maior (31,2%).
Um dos pontos que podem justificar esse aumento nos preços foi a dificuldade dos frigoríficos em comprar a matéria-prima no primeiro semestre, dada a baixa disponibilidade de animais prontos para o abate, principalmente no período da entressafra, e a maior porcentagem de retenção de fêmeas nos plantéis. Os dados da Agriffato Consultoria trazem o cenário de abate do primeiro semestre que apresentou um dos menores valores da história. Dessa maneira, a estimativa de abate para 2020 é de 36,77 milhões de cabeças vs. 41,55 milhões no início do ano (Farmnews).
Há rumores no mercado que durante esse período, o primeiro giro do confinamento apresentou redução de produção por conta das incertezas do período devido ao novo coronavírus e, também, da dificuldade em aquisição do boi magro. Ambos os cenários causaram ao pecuarista a redução nas margens, levando em conta a análise da relação de troca do período. Este indicador busca, através do preço CEPEA da reposição (bezerro) e indicador boi gordo, encontrar quantos animais jovens o produtor consegue comprar com a venda de um animal pronto para o abate. O resultado desse indicador, também, toma como referência um rendimento de carcaça médio de 55%.
No primeiro semestre de 2020, o indicador já se apresentava abaixo de sua média histórica e o cenário ficou pior por conta do viés altista da reposição não sustentado pelo viés altista do boi gordo.
Somado a isso, o confinador também observou um aumento do custo da diária puxado pelo aumento dos insumos da dieta. Segundo o indicador milho ESALQ/BM&F-BOVESPA, houve uma valorização de R$ 13,68/sc em relação ao mesmo período do ano passado. Para a soja o indicador Paranaguá é ainda maior, atingindo um aumento de R$ 20,45/sc. Isso se deve pela exportação de grãos puxada pela valorização cambial que vem se mantendo acima da casa dos R$ 5,00/dólar e a forte demanda externa por conta da guerra comercial entre EUA e China que alavancou a compra das commodities brasileiras. Dessa maneira, está cada vez mais difícil a compra desses produtos no setor, principalmente o processamento e produção do farelo de soja. Segundo os dados divulgados pelo CEPEA no dia 28/07/2020, apenas 5% da soja está disponível para o mercado interno.
O reflexo desse aumento dos preços das commodities e do boi magro foi reportado pelos dados do Laboratório de Análise Socioeconômicas e Ciência Animal da USP Pirassununga. Os custos da diária para um confinamento grande em SP e GO apresentaram, respectivamente, um aumento de 13% e 27% em relação ao mesmo período do ano passado.
Fazendo uma analogia com a aviação, onde não é apenas um fator o responsável por um acidente, no mercado do boi é o mesmo cenário. A soma de cada um dos fatores apresentados acima são elos de uma corrente igualmente responsáveis pelo cenário atual de incertezas e grandes desafios para a pecuária brasileira. Dessa maneira, o pecuarista utilizar estratégias convencionais, o “arroz com feijão”, em protocolos, manejo e nutrição será muito difícil ter margens lucrativas, principalmente na ótica do fechamento do ciclo. É em momentos como esse que o pecuarista deve buscar tecnologias na sua produção que gerem retorno de capital e maior rentabilidade dos seus investimentos, trazendo uma maior segurança para a operação.
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