Fundamentos atuais já levam mercado a analisar menos etanol do que se previa em 19/20
O momento está exigindo muita atenção dos players brasileiros do setor sucroenergético. O que vinha demonstrando mais uma safra nova de cana, a 19/20, com um mix mais alcooleiro, pode acabar mudando. Não exatamente uma reversão. Mas ao menos um superávit de etanol menor e que não seria nada desprezível.
Na conjuntura nacional e internacional, quando se olha o dólar versus real, preço do petróleo em baixa, e produção mundial menor de açúcar, a situação começou a ficar mais embaralhada. “A hora é de muita sensibilidade para o mercado”, diz Martinho Ono, CEO da SCA Tranding.
A verdade é que se uma safra brasileira estivesse começando agora, a chave de produção estaria sendo virada.
A Organização Internacional do Açúcar (OIA) cortou bem a previsão de excedente global de açúcar, para 2,17 milhões de toneladas, depois do relatório anterior falar em 6,75 mi/t, enquanto também tirou pouco mais de 1 mi/t do superávit da temporada 17/18. Considera-se a safra 18/19 de Índia, Europa, Paquistão e Tailândia, enquanto no Brasil será a 19/20.
Enquanto isso, temos o petróleo hoje abaixo dos US$ 70. Dificilmente os países produtores consigam manter nessas cotações – Ono acredita que o barril vá no mínimo subir para US$ 70 -, tanto pelos seus custos quanto porque também o consumo aumenta no inverno do hemisfério norte. Mas é cedo para prever que volte ao patamar dos US$ 80. Há sempre o fator Donald Trump e sua guerra comercial podendo bagunçar tudo...
Ainda que a Petrobras esteja inibindo indiretamente as importações com a fixação na refinaria, a gasolina vem perdendo fôlego e nessas condições continuará perdendo, talvez menos se o Brent voltar a subir pouco mais. E tira competitividade do etanol.
Em combinação, o “dólar bolsonoro” flutuando na casa dos US$ 3,70 injeta combustível no petróleo mais barato chegando no Brasil.
Há uma régua apontando para mais cana brasileira o ano que vem para algo entre 560 e 570 mi/t, 10, 10 e pouco milhões de toneladas sobre o ciclo atual, em estágio terminal. Só por aí já haveria pouco mais de açúcar, além da expectativa sempre presente, até os últimos dias – frisa-se – de mais um futuro ano bom para o etanol.
Mas contando com a quebra do superávit global, Maurício Muruci, analista da Safras & Mercado, já cautelosamente entende uma possibilidade maior do adoçante sendo produzida, especialmente com Nova York (ICE Futures) acusando o março/19 a caminho ou acima dos 13 c/lp. Alinhado ainda a manutenção do petróleo baixo.
Com as seguintes ressalvas: “Temos que ver uma mudança mais longa do intervalo anterior em US$ 75/80 o barril para o novo entre 65/70. Nisto dependem outros fatores claro, como geopolítica internacional (Trump, Rússia, Arábia Saudita), mas caso no novo intervalo US$ 65/70 se mantenha realmente retemos um mix menor para o etanol”.
Martinho Ono ainda aposta em uma base mínima de 27 mi/t de açúcar no Brasil em 19/20 e o etanol entre 29 e 30 bilhões de litros, mas concorda que a “sensibilidade” que ele está vendo junto ao mercado e seus clientes produtores olha a possibilidade de mudança, considerando quase todos os termos até aqui apontados acima.
Uma coisa é quase certa. Se o prêmio do etanol hidrado sobre o açúcar no físico começar a ficar muito encostado nos 15%, os produtores preferem oferecer mais o segundo, sempre um fator de segurança nessas horas diante do biocombustível que só da opção de negociar no spot (menos o anidro) e está sempre sujeito às interferências de políticas que mexam com a conjuntura.
Outra coisa também é certa: as fixações de açúcar que chegaram a 3 mi/t quando o teto de Nova York passou dos 14 c/lp ao final de outubro, com as notícias de quebra na Índia por praga (que ainda se coloca em dúvida seu tamanho), estão paradas e não apenas porque a commodity caiu bem depois de atingir aquela máxima.
Mas, como admite o CEO da SCA, o mercado está esperando para, se for o caso, fixar se e quando o açúcar começar a se mostrar mais vantajoso (e com sustentação) na tela de março da ICE, consolidando que a abertura da próxima safra, que poderia até ser antecipada para mais etanol (então em alta), vire mais para o adoçante do que se previa. Opinião com aval de Maurício Muruci.
Outra coisa também é mais do que certa: os outros podem ter quebra, mas o Brasil é o único que pode tirar do etanol para mais açúcar.
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