Por José Roberto Gomes
SÃO PAULO (Reuters) - Os preços do etanol hidratado praticados pelas usinas brasileiras têm até agora o primeiro trimestre mais firme de uma safra de cana no centro-sul em nove anos, embora a perspectiva para o curto prazo seja de retração nas cotações e nenhuma mudança na estratégia das empresas, de acordo com especialistas ouvidos pela Reuters.
Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, mostram que os valores do biocombustível nas usinas de São Paulo, referência para o país, registraram uma média de 1,6491 real por litro na semana passada, estável ante o início do atual ciclo 2018/19, em abril.
Os primeiros três meses de safra no centro-sul são, geralmente, sinônimo de recuo nos preços do etanol, dada a maior produção. Neste ano, os valores até chegaram a cair em maio, para 1,4468 real por litro, mas se recuperaram na esteira da alta da gasolina, seu concorrente direto, nas bombas.
A última vez em que os valores do etanol se mantiveram firmes nas usinas no primeiro trimestre de uma safra foi em 2009/10, quando chegaram a subir quase 8 por cento, segundo a série histórica do Cepea.
"A demanda e os reajustes da Petrobras dão sustentação neste ano, embora tenhamos uma produção maior se comparada à de outras safras... O etanol é uma moeda de troca muito fácil para as usinas", disse a pesquisadora de etanol do Cepea, Ivelise Bragato, referindo-se à geração de caixa mais rápida com a venda de álcool do que com açúcar.
No acumulado da atual safra até 1º de junho, a produção de etanol pelas unidades do centro-sul cresceu mais de 50 por cento na comparação anual, conforme os dados mais recentes da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica). A preferência das usinas pelo biocombustível deve-se a um consumo firme desde o ano passado e à própria remuneração mais atrativa, uma vez que o mercado global do açúcar viverá um período prolongado de excedente, até 2018/19, pelo menos.
Na virada de maio para junho, o valor da gasolina nas bombas atingiu níveis recordes, ajudando a puxar para cima os preços do etanol nos postos e, por tabela, nas usinas.
FIRMEZA CONTINUA?
Embora sigam fortalecidos, a tendência para o curto prazo é de algum enfraquecimento nos preços do etanol, uma vez que julho e agosto são os meses de pico de safra no centro-sul do Brasil.
Mas esse não seria o único fator. O analista João Paulo Botelho, da INTL FCStone, explicou que a demanda está agora mais vacilante após os protestos de caminhoneiros, ao passo que os estoques nos produtores cresceu consideravelmente devido a não retirada do álcool durante as manifestações.
"Há impacto do lado do consumidor, que ainda não se recuperou após a greve, e também do lado do produtor, que está com estoques altos", resumiu o analista.
Conforme ele, as usinas detinham reservas de 1,93 bilhão de litros de etanol ao fim da primeira quinzena de maio, volume que subiu a 2,49 bilhões no término do mês em virtude dos protestos, uma quantidade quase duas vezes maior na comparação anual.
Fora isso, há a própria tendência de redução no preço da gasolina, uma vez que a referência internacional do petróleo vem caindo. Nas refinarias da Petrobras, o combustível fóssil já caiu cerca de 5 por cento neste mês.
Mesmo assim, não se espera que as usinas alterem o mix alcooleiro desta safra --recentemente, a Biosev, a segunda maior processadora de cana do mundo, disse estar "desafiando limites" na produção de etanol.
Lucas Brunetti, analista de commodities da Tropical Research, destaca que o etanol ainda está rendendo 10 por cento a mais que o açúcar para as usinas, uma vez que as cotações do adoçante no mercado internacional beiram mínimas em anos por causa da ampla oferta.
Além disso, a tendência é de que a safra deste ano termine mais cedo, já que há menos cana disponível para moagem. Isso levaria a uma entressafra maior, com preços do álcool em elevação, comentou ele.
"Devemos ter preços nominais mais altos para o etanol na entressafra", disse Brunetti, sem fazer previsões. A entressafra de cana geralmente compreende os meses de janeiro a março.
Dessa forma, ainda que os preços do etanol possam perder força em julho e agosto, é possível que voltem a ficar sustentados, como no primeiro trimestre da safra.
Câmara rejeita urgência para projeto que permite venda direta de etanol de usinas para postos
A Câmara dos Deputados rejeitou, na noite de terça-feira, um pedido de urgência para o projeto que visa permitir a comercialização direta de etanol das usinas para postos de combustível, sem a necessidade de venda a distribuidores.
Apenas 213 deputados votaram favoravelmente à proposta, enquanto são necessários 257 votos para aprovar o regime de urgência para o projeto, de acordo com a Agência Câmara Notícias. Outros 98 deputados votaram contra.
O projeto foi aprovado na terça-feira pelo Senado e enviado à Câmara, e pode retornar aos senadores caso haja qualquer alteração no texto.
A recente crise deflagrada com a greve dos caminhoneiros no final de maio que provocou problemas de abastecimento trouxe à tona questionamentos sobre a necessidade de rediscussão da política de preço dos combustíveis e movimentou projetos legislativos relacionados ao tema.
Rejeição da urgência pela Câmara a projeto de venda direta de etanol teria sido manobra de Maia
A rejeição da Câmara dos Deputados na noite de ontem (21) ao pedido de urgência do projeto de venda direta de etanol não foi sobre o aprovado no Senado na terça-feira, mas sim sobre o projeto do deputado JHC (PSB-AL) de conteúdo semelhante. A rejeição, no entanto, apenas jogou para a próxima semana a votação do pedido de urgência do Projeto de Decreto Legislativo (PDC) do senador Otto Alencar (PSD-BA), e somente ocorreu pelo baixo quórum no Congresso e por “manobra” do presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Segundo fontes que acompanham a movimentação, Maia protelou a votação até que muitos parlamentares tivessem que deixar o plenário para não perder seus voos, pois “ele está a favor das distribuidoras”. E conhecedor do regimento, das rotinas dos parlamentares e, mais ainda, sabendo que a mudança defendida conta com a maioria dos votos da casa, o presidente da Câmara teria agido para colocar em pauta altas horas.
Importante frisar que os PDCs, aprovados, tem aplicação imediata, sem possibilidde alguma de recurso ou até mesmo de sanção da presidência da República. Para o pedido de urgência ser aprovado são necessários 257 votos, sendo que houve 213 deputados favoráveis e 98 contrários.
Alexandre Lima, presidente da Feplana, disse que se o PDC de JHC tivesse a urgência aprovada, encurtaria a tramitação da urgência do projeto aprovado no Senado, que tem prevalência e anexaria os demais que estão na Câmara com o mesmo fim, entre eles o do ex-ministro Mendonça Filho (DEM-PE).
“Além do quórum baixo, o peso das distribuidoras presentes, fazendo pressão sobre os deputados, foi pesado”, explicou Lima, citando a presença de diretores da Unica, Raízen, BR Distribuidora, Ipiranga, entre outras.
A coalização de produtores sob a liderança de Renato Cunha, do Sindaçúcar PE, e de Alexandre Lima não duvida que com ou sem urgência, o mérito do projeto do Senado, onde a aprovação foi esmagadora (42 X 2), vai ter que chegar ao plenário da Câmara e “vamos ganhar”.
Antonio José Nogueira de Andrade Guaranesia - MG
Até quando vamos ficar à merce da vontades e caprichos desses "DEPUTADOS"!