Produtores de algodão demandam celeridade no registro de novas moléculas para combater a ramulária
Considerada a pior doença do algodoeiro, a ramulária é um pesadelo para o produtor, que pode causar perdas de até 40% na produtividade das lavouras. Hoje, ela é um risco real para a cadeia produtiva do algodão no Brasil, pela falta de novas moléculas para o combate do fungo, cada vez mais resistente aos cerca de 70 produtos disponíveis no mercado. Obrigados a fazer em torno de sete aplicações por safra – quando a recomendação técnica é de que não se ultrapassem duas – os cotonicultores demandam ao Governo Federal o registro de novos princípios ativos para o fungo Ramularia aréola, hoje presente em todos os países produtores do mundo. A ramulária sequer faz parte da lista de emergência fitossanitária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), por se tratar de doença específica da cultura de algodão, enquanto a prioridade são as que ocorrem em maior número de culturas. Na última semana, a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) organizou uma reunião de trabalho no âmbito das Câmaras Setoriais do Mapa, com a presença do assessor especial do Ministério, Sérgio De Marco.
Segundo De Marco, essa é uma prioridade para o Mapa. Ele enfatizou os altos preços dos novos produtos. "Sabemos que pesquisa e desenvolvimento de novas moléculas e tecnologias têm custo, mas não adianta ao produtor trocar seis por doze: ter o produto por um preço muitas vezes maior que os que estão no mercado, que vai onerar seu sua produção ainda mais", argumenta. O assessor afirmou que, na gestão de Blairo Maggi, o Mapa constituiu um grupo de especialistas para analisar a lista de prioridades de registro sob o viés do produtor. Os cotonicultores, através da Abrapa e das suas associadas estaduais, acompanham de perto a questão, e, através da Câmara Setorial do Algodão e Derivados e da Câmara Temática de Insumos Agropecuários, ambas do Mapa, têm estudado a fundo o problema e proposto soluções.
"A burocracia é um dos fatores que tiram a competitividade do Brasil no mercado global. É importante destacar que o país é um dos poucos que têm a cadeia produtiva do algodão completa, desde os fornecedores de insumo até o consumidor final, que gera milhares de empregos e contribui significativamente para a geração de riquezas da nação. Então, a sanidade na produção, e a consequente qualidade da fibra, tem de ser uma prioridade de Estado", afirma o presidente da Abrapa, Arlindo Moura, lembrando que, do desenvolvimento até chegar ao mercado, um produto novo leva pelo menos oito anos, enquanto concorrentes, como os Estados Unidos, precisam de apenas três anos para completar o processo, e outros, na América do Sul, como Argentina, demoram em torno de dois anos e meio, segundo o estudo que está sendo elaborado pela Câmara Temática de Insumos Agropecuários.
Encontros de trabalho
A reunião, que aconteceu no auditório da Unidade Operacional da Escola Nacional de Gestão Agropecuária (Enagro), em Brasília, foi convocada pela coordenação geral das Câmaras Temáticas do Mapa e seguiu a linha de outras que vêm sendo realizadas para debater o tema, como a do dia 30 de maio, que a Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa) promoveu no Mato Grosso. Na Enagro, a pauta foi iniciada após o discurso de abertura proferido pelo vice-presidente da Abrapa, Júlio Cézar Busato. Na ocasião, Rafael Gambieri, do Instituto Mato-grossense do Algodão – IMAmt, entidade mantida pela Ampa, apresentou a palestra "Cenário de produção de algodão: desafios no manejo da ramulária". A Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Algodão e Derivados abordou a "Lista de Emergência Fitossanitária" e a "Competitividade do Algodão Brasileiro e a Necessidade da Cadeia", enquanto a Fundação MT discorreu sobre a Performance de controle atual e as implicações para o manejo. Coube à consultoria MBAgro (MB Associados) explanar sobre o Impacto econômico do baixo controle de ramulária. A programação contou ainda com um tour virtual sobre lavouras de algodão (Virtual Field Tour).
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