Como o pré e pós eleições presidenciais podem influenciar a formação dos preços agropecuários no BR?
Desde o resultado do primeiro turno das eleições de 2022, o questionamento que mais tem sido feita pela audiência do Notícias Agrícolas ao seu time é sobre qual será o impacto do resultado final da corrida presencial para os preços da soja, do milho, do trigo, do boi...de tudo! Do impacto para os preços dos produtos agropecuários brasileiros. Ao questionar especialistas, a resposta é unânime: a análise tem que ser muito mais profunda e os impactos podem ser os mais diferentes possíveis nos mais distintos - e ao menos por agora, a nove dias da segunda etapa do voto - e inimagináveis cenários.
Apesar disso, os mesmos especialistas orientam os produtores brasileiros a não empregarem toda sua energia na política agora - embora o momento exija e estimule - e não desviem o foco de seus negócios, sua gestão e, principalmente, as oportunidades que o mercado ainda oferece em tempos muito desafiadores. Afinal, apesar de a safra mais cara estar sendo colocada na terra agora pelos produtores brasileiros - rumo a mais de 300 milhões de toneladas de grãos - os números apontam para aumento de área, aumento de investimentos, porém, comercialização atrasada da temporada 2022/23.
Os negócios pouco caminham no Brasil diante de margens menores de renda para o produtor, mas ainda assim, são números positivos. No entanto, além da volatilidade assumida das commodities agrícolas - acentuada nos últimos oito meses com o início da guerra entre Rússia e Ucrânia iniciada em 24 de fevereiro - a movimentação drástica do dólar frente ao real deixou os produtores ainda mais cautelosos e na defensiva à espera de definições. Assim, entender somente se Jair Bolsonaro ou Luís Inácio Lula da Silva será o próximo a governar o Brasil pelos próximos quatro anos será insuficiente para bons resultados.
"O produtor tem que olhar a comercialização dele. Custo de produção, produtividade esperada e o preço de venda. Ano bom é ano que tem lucro. Este ano temos uma questão importantíssima que é o dólar. Portanto, Várias oportunidades da soja para o ano que vem, R$ 20 acima do que está hoje, preço futuro, produtor só está assistindo o mercado e pouca gente está tomando atitude de venda", relata o analista de mercado Marcos Araújo, da Agrinvest Commodities. "As condições normais de inflação mundial, e tudo mais, favorecem uma alta das commodities, mas é verdade. Na contramão, um aumento mundial de juros está forçando uma crise para diminuir demanda".
Araújo citou os exemplos do Egito e do Quênia com falta de dólares para pagar navios de grãos parados nos países, o que pode se repetir em outras nações, em outras ocasiões.
"Portanto, o produtor tem que saber onde o calo aperta", conclui o analista. No último dia 13, o Notícias Agrícolas divulgou uma análise de Marcos Araújo alertando para uma queda de até 50% no retorno financeiro tanto da soja, quanto do milho, mas ainda assim apontando lucro.
Reveja:
Desde o dia 3 de outubro, o dia seguinte do primeiro turno, a volatilidade do dólar ficou ainda mais forte e somente na segunda-feira a moeda americana despencou mais de 4%. De lá pra cá, altas e baixas fortes e uma queda, somente nesta sexta-feira (21) de 1,7% para R$ 5,16.
Neste intervalo - de 3 a 21 de outubro - o dólar registra uma baixa de 0,96%. Enquanto isso, o contrato maio/23 - referência para a nova safra do Brasil - subiu 1,43% e o preço da soja no porto de Paranguá subiu 2,76%. Já o milho março/23, na B3, caiu 1,61% e, no porto paranaense, registrou uma queda de 4,26%.
As influências, neste momento, são muito efêmeras. E ainda mudarão muito até que os resultados sejam definidos e os caminhos tomados.
Compondo uma análise ainda mais detalhada do atual momento - com orientações que podem ser aplicadas em todas as safras, de todas as culturas - o diretor da LucrodoAgro, Eduardo Lima Porto, afirma que o produtor ainda precisar conhecer mais a fundo seus custos. "As preocupações parecem estar distantes, desconectadas de suas realidades. Onde tiver visualização de lucro tem que haver realização de lucros. O problema é o produtor só olhar preço, e não entende as variáveis que compõem o preço e seus resultados. Toda vez que há uma projeção de juros elevados de um lado, você tem uma projeção de deslocamento do capital para aplicações livres de risco. Como a operação agrícola não é uma operação considerada livre de risco, por sua própria natureza, teremos fatores que irão represar, invariavelmente, a demanda", explica.
Do mesmo modo, o diretor da Pátria Agronegócios, Matheus Pereira, relata que os produtores brasileiros estão mais avessos a avançar com novas vendas da safra 2022/23 - dada a conjuntura dos custos muito altos e das margens muito apertadas. Assim, nesta próxima semana, este movimento tende a continuar, com o agricultor brasileiro ainda muito focado nos trabalhos de plantio da nova temporada e nas expectativas políticas.
"Então, o produtor, neste período pré-eleições, antes do dia 30 de outubro, vai seguir reticente em avançar com qualquer tipo de comercialização 2023, também porque está focado no campo. Este é um momento do ano que, normalmente, o produtor não vem a mercado. Ele está concentrado em colocar a semente no chão e ter um bom estande inicial nas culturas de verão, tanto soja, quanto milho. Neste ano não é diferente, salvo pela questão da eleição e todo o risco que envolve, principalmente, a questão cambial", diz o especialista.
Assim, mais uma semana vai se encerrando com escassos negócios com a soja 2022/23 no Brasil, bem como para a safrinha 2023 de milho, porém, e menos de 20% da nova safra da oleaginosa vendida, de acordo com a apuração de Vlamir Brandalizze, consultor de mercado da Brandalizze Consulting. O atraso é considerável, tido que a média de comercialização para esta época, em outros anos, é de cerca de 40%.
Todavia, apesar de uma semana de dólar e prêmios em baixa, além de poucas flutuações em Chicago e dos futuros da soja ainda orbitando próximos dos US$$ 14,00, o Brasil negociou perto de 350 mil toneladas de soja - a maior parte de produto disponível e sendo o volume maior destinado à exportação. O que mostra que o produtor vai dividindo suas atenções e movimentando mais de uma temporada que também ainda tem bastante soja para entregar.
"O Brasil tem ainda bastante soja disponível para negociar, tendo já vendido menos de 70%. No ano passado tínhamos mais de 75%, já caminhando para os 80% nesta época", relata o consultor. "Então há um atraso na nossa comercialização".
E DEPOIS DAS ELEIÇÕES?
Tanto Matheus Pereira, quanto Vlamir Brandalizze, explicam e reforçam que não só o agronegócio, mas o mercado de uma forma geral tem uma preferência - quase uníssona - sobre a continuidade de Jair Bolsonaro e sua equipe à frente do Brasil pelos próximos quatro anos.
"Os méritos estão aí, comprovados com todos os dados da nossa macroeconomia, que está se mostrando muito sólida. O Brasil é referência em controle de inflação, em reaquecimento econômico pós pandemia, e estamos, de fato, no G10, G20, batendo grandes potências do planeta. O Brasil tem hoje uma projeção de PIB maior do que a da China e uma inflação menor do que a norte-americana. Já falávamos disso em meados de julho, quando tivemos o primeiro mês de deflação no país, e agora esta mensagem está escoando", diz Pereira.
Assim, a expectativa é de que o mercado recebendo a notícia de que Bolsonaro e seu time ministerial seguem no governo gere uma "onda de otimismo que vai incentivar, cada vez mais, esse fluxo de investimentos no setor privado brasileiro, como temos visto agora", ainda como explica o diretor da Pátria. Com essa onda, o dólar poderia ceder de forma um pouco mais intensa e, ao menos no curto prazo, gerar alguma pressão sobre a formação dos preços de produtos brasileiros - como a soja e o milho.
"Porém, isso é muito favorável a longo prazo, porque esse movimento reduziria a alavancagem do setor. Um hectare de soja que custava de R$ 2500,00 a R$ 3000,00, está custando até R$ 7000,00 nos casos mais extremos de elevados custos de produção, arrendamento. Então, essa alavancagem tem que ser reduzida. E com a estabilidade sido mantida, com o dólar voltando abaixo dos R$ 5,00, teremos também uma redução de custo e o produtor vai ficar menos sensível ao custo da cultura em campo", complementa.
Brandalizze cita também o sentimento dos investidores e a linha de crescimento econômico que o Brasil vem apresentando para justificar a predileção pelo governo de Bolsonaro, bem como o controle da inflação. "Isso dá ânimo aos investidores para trazerem seus dólares de fora, temos muita gente querendo investir no agro, mas esperando um sinal verde, com segurança jurídica porque na linha da esquerda não se sabe o que vai acontecer. A questão da segurança do investimento. Isso já foi mostrado no passado e vimos que não funciona", explica.
Mais do que isso, o consultor não acredita em uma baixa constante e muito agressiva ainda do dólar frente ao real, uma vez que afirma que a divisa já estaria chegando perto de um ponto de equilíbrio, perto dos R$ 5,00. "O que precisamos agora é uma segurança para continuar".
RELAÇÕES DE TROCA EM TEMPOS DE ELEIÇÃO
"O produtor aproveitou os momentos de pico, pegou o momento em que o dólar estava em R$ 5,30, prêmios melhores, e produtor está aproveitando as janelas de negociações, as oportunides, está havendo muitas oportunidades de relações de troca de produto físico - tanto soja, como milho - por insumos com boas relações de troca, com as revendas precisam girar produto. Então, o produtor ali com suas contas vê que está sendo vantajoso e está fazendo. Os negócios não pararam", complementa o líder da Brandalizze Consulting.
O movimento é confirmado também por Jeferson Souza, analista de fertilizantes da Agrinvest Commodities, que também relatou uma semana de bons negócios entre as principais matérias-primas, em especial pelo Mato Grosso com fertilizantes para a soja 2023/24. "O estado de Mato Grosso está sempre um passo a frente", diz. Os preços dos principais itens têm mostrado um movimento consistente de baixa e têm estimulado os negócios.
"Terminamos a semana com queda para os fertilizantes no Brasil. Até mesmo os nitrogenados, que ainda são uma incógnita para mundo, estão mostrando sinais de arrefecimento", relata. No entanto, diz ainda "que continuamos atrasados nas compras para o milho safrinha 23, mas para a soja 2023/24 o mercado está aquecido". E este aquecimento mais expressivo na soja, ainda segundo o especialista, acontece "porque o barter do produtor brasileiro voltou para a média".
Souza explica, portanto, que apesar de todos os temores que cercam o segundo turno das eleições, bem como os impactos sobre os mercados e matérias-primas - sem contabilizar o câmbio - os tímidos negócios que se apresentam para os fertilizantes estão mais atrelados a esta trajetória de baixa dos preços, que faz com que o produtor entenda que possa pagar ainda menos pelos fertilizantes, principalmente depois dos elevados valores que despendeu para fazer a safra 2022/23.
O analista da Agrinvest, entretanto, afirma: "nosso programa está atrasado". Há um atraso nas compras de fertilizantes tanto em relação ao ano passado, quanto à média dos últimos anos.
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