Coronavírus pode custar mais de US$ 2 tri para economia global, diz Bloomberg. Petróleo despenca 8%

Publicado em 06/03/2020 17:09

Coronavírus petróleo


Trader do Kuwait usando uma máscara de proteção acompanha o mercado na bolsa de valores Boursa Kuwait, na cidade do Kuwait, em 1º de março de 2020. Foto : Yasser al-Zayyat / AFP
 

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A semana vai terminando com todas as commodities no vermelho mais uma vez. Lideradas pelo petróleo - que perdia mais de 8% na tarde desta sexta-feira (8) - recuavam energéticas, metálicas e agrícolas. De ponta a ponta o mercado operava no vermelho, e levava ainda os principais índices acionários. 

"Há muita volatilidade nos mercados financeiros, muita instabilidade e todos se contaminam. A tendência segue negativa para todos os financeiros agora", explicou o analista da Safras & Mercado, Luiz Fernando Gutierrez. 

Segundo ele, a reação mais agressiva dos ativos se deu diante do agravamento do quadro, com as tensões crescendo, principalmente, na Europa e nos Estados Unidos, onde estão as mais importantes economias do mundo ao lado da chinesa. 

"Qualquer leve recuperação ou movimento positivo agora é meramente especulativo, porque ainda não há notícias fortes ou amplas o suficientes sobre tratamentos efetivos, ou uma vacina que já esteja valendo", explica Gutierrez. 

Com o recuo extremamente forte, o petróleo WTI em Nova York já trabalhava no patamar dos US$ 42,00 por barril, quase o deixando para trás, enquanto o brent tinha pouco mais de US$ 46,00 na Bolsa de Londres. Durante a sessão, os futuros da commodity chegaram a perder até 10%. 

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PETRÓLEO - OPEP X RÚSSIA

No mercado do petróleo, o recuo é agravado pela notícia de que o acordo entre a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e a Rússia, em andamento há três anos, foi ameaçado pelas informações de que Moscou não concorda em fazer cortes mais amplos na produção diante da epidemia de coronavírus. 

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Ao seu lado, o gás natural cedia 3%, a prata mais de 1% e o cobre, 0,62%. Como tradicionalmente acontece, o ouro buscava garantir certa estabilidade - já que costuma ser um porto seguro para os investidores - e tinha perda de apenas 0,05% no mesmo momento. 

Entre as agrícolas, quem encabeçava as perdas, mais uma vez, era o café, que despenca mais de 3% na Bolsa de Nova York, ao lado do açúcar, que registra baixas superiores a 2% e do algodão, de 1%. Já na Bolsa de Chicago, as perdas mais agressivas são vistas no milho, onde os futuros do cereal perdem mais de 1,5%, seguidos pela soja e pelo trigo. 

O MUNDO CONTRA O CORONAVÍRUS

O sentimento de necessidade de proteção entre os investidores é globalizado. As notícias ligadas ao coronavírus ainda dominam as manchetes e as mesas de negociação e a cautela determina, portanto, o rumo dos negócios mundo a fora neste momento. Os principais índices acionários recuam - e recuaram - no mundo todo nesta sexta-feira. 

O surto já se tornou mundial, com mais de 90 mil pessoas infectadas em todos os cinco continenntes e paralisou a produtividade global. Temendo o vírus, há milhões de pessoas evitando ruas, escolas, supermercados, lugares turísticos, e o contato com mais pessoas. 

A demanda entre serviços e produtos está muito mais lenta do que o normal, a mobilidade e a logística seguem severamente comprometidas e limitadas e as análises entre especialistas continuam indicando para uma recessão da economia mundial. As opiniões divergem, apenas, entre a intensidade e período em que pode ocorrer. 

"O coronavírus pode custar US$ 2,7 trilhões á economia global", diz uma manchete da agência internacional de notícias Bloomberg nesta sexta-feira.

CHINA x DEMAIS ECONOMIAS

Números levantados pela agência mostram ainda que as vendas de automóveis na China caíram 80%, o tráfego de pessoas foi reduzido em 85% e a produção de manufaturados caiu significativemente para índices históricamente baixos. O gráfico a seguir mostra o comportamento do setor na nação asiática. 

Produção manufatureira na China

Gráfico: Bloomberg

Os analistas e economistas ouvidos pela Bloomberg avaliam cenários distintos em que a China se recupera rapidamente ou levando mais tempo. Em ambos os casos, as demais economias do mundo - especialmente as mais frágeis - sentirão os efeitos negativos, somente com intensidades diferentes. 

"Se a China conseguir rapidamente controlar o surto e a fábrica do mundo voltar à vida no segundo trimestre, o impacto no restante da economia global poderá ser contido", acreditam os especialistas. Se o cenário piorar, a recuperação pode ser mais lenta, com a retomada das atividades também mais lentas. 

"Mesmo quando as fábricas estão de volta ao trabalho, nem todos os problemas estão resolvidos. Muitas fábricas não têm estoque suficiente, os obstáculos da cadeia de suprimentos limitam a capacidade de produção", disse Li Lei, gerente da Made-in-China.com, empresa que fez a pesquisa sobre o atual quadro da economia chinesa. 

A Bloomberg mostra um quadro ainda oinde "Coréia do Sul, a Itália, o Japão, a França e a Alemanha - as principais economias, além da China, que mais tiveram casos - também tenham sido atingidas. Em nossos cálculos, isso leva o crescimento global para 2020 a 2,3% - um pouco abaixo da previsão de consenso pré-vírus de 3,1%".

Todavia, caso o surto se torne uma pandemia e todos os países sofram proporcionalmente, dentro de suas realidades, o crescimento da economia global vem a zero. 

O gráfico a seguir mostra as projeções para o PIB da China semestre a semestre com a linha preta representando o quadro atual, a linha azul mais escura o que pode acontecer caso a situação alcance o pior cenário projetado, o azul médio com um alcance médio e o azul mais claro, os efeitos podendo ser contidos. 

PIB China

Gráfico: Bloomberg

PÂNICO X BOM SENSO

Como resumiu o consultor em agronegócio Ênio Fernandes, da Terra Agronegócios, "o bom senso é mais lento do que o pânico". E é por isso que se espera que a recuperação aconteça de forma lenta. E Fernandes complementa dizendo que o mercado agrícola está completamente focado no ambiente financeiro, deixando de lado seus próprios fundamentos, ao menos por enquanto. 

"É só observarmos o que aconteceu com soja, milho e DowJones nos últimos 10 dias. Caía DowJones, caía soja e milho, subia um, subia os três", disse. "Está tudo anormal. Já se esperava uma realização nas bolsas de valores - que estavam muito altas - veio o motivo, veio a realização. Mas, eles perderam a base", completa. 

O consultor cita ainda as notícias que na Itália os alunos só retomarão as aulas depois do dia 16, a Apple determinando home office para seus funcionários, além de notícias de empresas ainda paradas, quebrando. "É um cenário caótico, mas acredito que em mais algumas semanas o mercado começa a se acalmar".

E AS RECUPERAÇÕES?

Para Eduardo Lima Porto, diretor da LucrodoAgro, a comunicação também faz parte deste processo, principalmente quando as notícias são mais frequentes sobre as contaminações e mortes do que aquelas referentes aos casos de recuperação ou sobre a baixa taxa de letalidade do coronavírus. 

"Se a incubação é de 14 dias e a taxa de mortalidade está ao redor de 2%, significa que a cura é extremamente eficaz. É uma gripe como outra qualquer. Morrem por ano muito mais pessoas de paludismo (malária) em Angola do que isso e não causa nenhuma conturbação", diz. 

Assim, Porto completa dizendo que a conta para o mercado financeiro, certa hora, portanto, vai chegar.

"Em um mundo dominado pela indústria dos derivativos e dos colaterais superinflados, uma hora a conta ficará descasada dos ativos reais e os ajustes precisarão ser feitos, e no modo automático caótico, porque a supervisão foi incompetente para impedir a formação do contágio. Pior que o médico que proporcionou o meio de cultivo para multiplicar a metástase, será escolhido como o mais habilitado para administrar a cura", conclui. 

Com informações adicionais da Bloomberg. 

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Por:
Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte:
Notícias Agrícolas

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