MT perde oportunidades de exportar carne bovina com a crise nos frigoríficos, diz Acrimat
Nos últimos 12 meses, países consumidores de carne sinalizaram para a retomada ou ampliação das negociações com o Brasil. Estados Unidos, China, Japão, Arábia Saudita, Irã, Iraque, Egito, Rússia e Argentina são países que inspecionam a qualidade da carne brasileira e confirmaram o interesse em comprar mais.
Concomitante a esse movimento de expansão do mercado consumidor internacional, uma nova crise ameaça o setor frigorífico. Com a elevação dos custos de operação das indústrias e a oferta restrita de bovinos, a quantidade de empresas do segmento e que estão paralisadas em Mato Grosso já somam 19 neste mês, sendo que no primeiro semestre de 2015 o total de indústrias paralisadas chegou a 6 unidades, localizadas em São José dos Quatro Marcos (01), Cuiabá (01), Sinop (01), Rondonópolis (02) e Mirassol D’Oeste (01). Isso reforçou o problema do desemprego no Estado, já que foram desligados cerca de 3 mil trabalhadores até agora.
Atualmente Mato Grosso mantém rebanho total de quase 29 milhões de cabeças, mas a disponibilidade de animais jovens para engorda e posterior abate diminuiu em função do elevado abate de fêmeas em 2013, contribuindo para o efeito dominó no fechar das portas dos frigoríficos em 2015.
Diante da expansão do mercado consumidor internacional e inoperância dos frigoríficos, fica a dúvida: Mato Grosso perderá oportunidades de exportar mais e num momento de câmbio favorável, com o dólar equivalente a R$ 3,30? Pela perspectiva da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), a oferta de animais para engorda e abate só restabelecerá aos níveis anteriores em 2017.
Diminuição do rebanho bovino é uma situação vivenciada pelos Estados Unidos, onde o efetivo de rebanho atual é o menor em 50 anos. A situação pesou na retomada das importações de carne bovina brasileira in natura, depois de 15 anos de suspensão.
Para o economista, Vítor Galesso existe um grande risco de Mato Grosso perder a oportunidade de vender nesse processo de abertura de mercado por falta de produto. Para ele, falta reorganizar de forma coordenada a cadeia produtiva da bovinocultura. Essa organização dos processos e evolução da atividade envolve a capacitação dos pecuaristas com o apoio das entidades do setor e do governo. A cadeia produtiva melhor organizada, com logística e planejamento adequado, possibilitaria melhor lucratividade, ganhos com relação à vigilância sanitária e controle aduaneiro, completa. ‘Perdemos tempo, nos últimos 4 anos, para o aprimoramento produtivo, para que nessa etapa que os negócios vão se intensificar, transformar isso em novas receitas tributárias, melhor logística e oferta de emprego, abrindo 2015 com uma perspectiva de crescimento vigoroso’.
O secretário estadual de Desenvolvimento Econômico de Mato Grosso, Seneri Paludo, considera que se houvesse mais oferta de gado, abateria mais cabeças e abriria mais mercado. ‘Mas essa é uma questão básica da oferta e demanda. A pecuária enfrenta essa sazonalidade, com esses ciclos a cada 6 ou 7 anos, com mais ou menos matrizes e bezerros e, consequentemente, boi gordo. É um ciclo natural da pecuária mundial e também de Mato Grosso’. Ele lembra que nos últimos anos houve forte estímulo do governo federal e estadual para abertura de unidades frigoríficas no Estado e no país, mas que não foi acompanhado de incentivo para o aumento da produção.
-- ‘Agora estamos vivendo o momento com muitas unidades em Mato Grosso, mas sem matéria-prima para essas plantas fabris, é lógico que sofremos o impacto’.
Mas para o presidente do Sindicato das Indústrias Frigoríficas de Mato Grosso (Sindifrigo), Luiz Freitas, não haverá dificuldade para suprir os consumidores internacionais. ‘Os que estão ativos têm condição suficiente para atender a demanda’. Freitas acrescenta que as indústrias frigoríficas em operação no Estado têm capacidade para abater 5 milhões de cabeças de bovinos por ano. A capacidade de abate instalada em todo o segmento é de 10 milhões de cabeças por ano no Estado.
-- ‘Tem plantas com condição de abater o dobro do número de animais que abatem hoje’.
(na Gazeta Digital/MT)
Governo de Mato Grosso estuda dar incentivo de 3% para frigorífico; setor já desempregou 4 mil e tamanho do rebanho precisa ser revisto (AgroOlhar)
O governo de Mato Grosso estuda para os frigoríficos um incentivo de 3%. O percentual será único para todas as plantas existentes no estado. Somente com Serviço de Inspeção Federal (SIF) são aproximadamente 43 unidades, destas 19 fecharam nos últimos dois anos por falta de animais para o abate. De acordo com entidades do setor produtivo o rebanho bovino mato-grossense precisa ser revisto diante a atual situação.
Em Mato Grosso, de acordo com dados do Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea), existem cerca de 28 milhões de cabeças de gado. Entre 2010 e 2013 Mato Grosso levou mais fêmeas ao abate. Entre os motivos estava a pastagem e arroba em baixa. A falta de animais a partir de 2014 para serem levados aos frigoríficos já era esperada, visto que os bezerros que deveriam ter nascido naquela época estariam hoje sendo terminados.
No primeiro semestre de 2015 seis plantas frigoríficas fecharam as portas em Mato Grosso, como o Agro Olhar já comentou, levando em torno de 4 mil pessoas ao desemprego. Somente entre meados de junho e o dia 6 de julho três plantas encerraram as atividades.
“Paralelo a isso, você teve um processo de incentivo muito forte tanto do governo federal quanto do governo estadual para a abertura e ampliação de novas unidades frigoríficas dentro do estado e do Brasil. Esse efeito não teve na mesma proporção (incentivo) para o aumento da produção”, comentou ao Agro Olhar o secretário de Desenvolvimento Econômico de Mato Grosso, Seneri Paludo.
Questionado sobre a questão dos incentivos fiscais Seneri Paludo declarou que o governo do Estado já estuda três pontos para a cadeia. Um deles é a implantação de um incentivo único de 3%. O secretário revela que gestões passadas baixaram de 7% para 3,5% a carga mínima, além de através de conceder mais incentivos individuais por meio do Prodeic.
“Hoje, temos frigoríficos pagando 3,5%, frigoríficos pagando 1,8% e frigoríficos que não pagam nada. Então, dá esse desnivelamento da cadeia. Já estamos em conversa com os frigoríficos e vamos criar uma carga única. A nossa proposta nem é os 3,5% e sim 3% para todos”, frisa. Segundo ele, o Sindicato das Indústrias de Frigoríficos do Estado de Mato Grosso (Sindifrigo-MT) solicita 2%. “Eles (industriais) alegam que nos outros estados da região é menor. O que é uma inverdade. Com exceção do Pará e Rondônia, que são estados de economias diferentes da nossa. Temos que comparar com Goiás e Mato Grosso do Sul”. Paludo destaca, ainda, que em Goiás a carga tributária para o setor é de 3%, enquanto para o Mato Grosso do Sul entre 4% e 5%.
Outro ponto estudado pelo governo do Estado para a cadeia pecuária e frigoríficos é a questão da carga tributária do boi em pé para que este não saia de Mato Grosso para ser abatido em outro estado. “O terceiro ponto estudado é um programa de médio e longo prazo para o incentivo ser para o produtor. Para o pecuarista voltar a produzir”.
Onde estão os bois?
Se Mato Grosso possui cerca de 28 milhões de cabeças de bovinos espalhados pelos pastos, à pergunta feita hoje, até mesmo pelas entidades de classe, é onde estão estes animais. “Nós estamos analisando os dados de Mato Grosso sob uma ótica dos números que temos. Esses números que o Indea diz termos cremos que não seja a realidade atual. Esse é o nosso sentimos. O fechamento dos frigoríficos mostra uma realidade de que não temos animais. Eles alegando que o problema é falta de matéria-prima e essa matéria-prima realmente acreditamos que não tem. Esses números (rebanho) precisam ser revistos”, comenta o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária (Famato), Rui Prado.
Segundo o presidente da Famato, o ideal seriam haver em Mato Grosso frigoríficos menores para haver uma maior concorrência no mercado. “Havendo maior competição no mercado essa competição se traduz em um alimento melhor, porque a concorrência faz essa exigência, bem como o consumidor. O que Mato Grosso precisa é de mais empresas trabalhando nesse ramo, mas não com mais capacidade. A capacidade está se mostrando que temos ociosidade”.
A pergunta de “Onde estão os bois?” também é feita pela Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), de acordo com o superintendente Olmir Cividini. “Estamos preocupados com esse tamanho do rebanho e com essa falta, digamos, para a terminação. Talvez seja a hora de rever estes números. A causa da redução se confirma”.
Em entrevista ao Agro Olhar, o superintendente da Acrimat comenta que o elevado abate de fêmeas entre 2010 e 2013 fez também com que o estoque de animais machos fosse o maior dos últimos 9 anos. “Os bezerros que deveriam ter sido gerados naquela época estariam prontos hoje para o abate. Outro ponto para a falta de animais, hoje, é a sazonalidade dentro da cadeia no corrente, ou seja, estamos entrando na seca e o animal que está indo para o confinamento será enviado ao frigorífico a partir de setembro. Além disso, como o bezerro está mais valorizado hoje os pecuaristas estão retendo fêmeas para cria”.
De acordo com dados do Instituo Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), hoje o bezerro em Mato Grosso custa em média R$ 1.346/cabeça, enquanto o ano passado estava avaliado em R$ 975.
Olmir Cividini destaca ainda que ao contrário do que os frigoríficos falam sobre a saída de animais em pé, um estudo encomendado pela Acrimat ao Imea mostrou que a saída é de apenas 2% dos animais destinados ao abate. “Dentro de um mês significaria entre 11 e 12 mil cabeças. É muito pouco para justificar também o fechamento de frigoríficos”.
O Agro Olhar entrou em contato com o Indea quanto à questão do rebanho bovino em Mato Grosso. O número, explica a entidade, é com base no número de animais existentes nas propriedades com base nas comunicações da vacinação da febre aftosa na etapa de novembro e atualizado conforme os pecuaristas emitem as Guias de Trânsito Animal (GTA).
(no Agroolhar)
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