Leilões de títulos não buscam controlar dólar ou juro e mercado está funcionando, diz coordenador do Tesouro
BRASÍLIA (Reuters) - O coordenador-geral de Operações da Dívida Pública substituto do Tesouro Nacional, Roberto Lobarinhas, afirmou nesta quinta-feira que os leilões extraordinários de compra e venda de títulos públicos realizados na semana passada não buscavam controlar os níveis de câmbio e juros, com o resultado dos certames mostrando que o mercado está funcionando normalmente.
Em um período de forte volatilidade, com alta do dólar e da curva de juros em meio à desconfiança de agentes econômicos no cenário fiscal e após o Banco Central acelerar seu aperto monetário, o Tesouro fez leilões extraordinários sob o argumento de que buscava assegurar o bom funcionamento do mercado de títulos públicos e mercados correlatos.
Em entrevista à imprensa, Lobarinhas explicou que a procura do mercado ficou bem abaixo do volume ofertado pelo Tesouro para recompra de títulos. Em um dos leilões, na quarta-feira, o Tesouro comprou apenas 100 mil papeis, ante a oferta de 1 milhão. Em outra operação, na quinta, foram comprados 103 mil papeis, ante oferta de 3 milhões.
O técnico do Tesouro argumentou ainda que a remuneração definida nos leilões ficou muito próxima das taxas pagas pelos papeis no mercado secundário.
Para Lobarinhas, esses fatores indicam que não havia demanda exacerbada ou distorção na referência de preços.
“O resultado dessa atuação fala por si só e mostra que o mercado tem referência de preços e está funcionando dentro da normalidade”, disse.
“A atuação do Tesouro não visa frear a alta do dólar, controlar o câmbio ou coisa que o valha, tampouco controlar a curva de juros. É para balizar, devolver a funcionalidade em algumas circunstâncias.”
O mercado reagiu com nervosismo ao pacote fiscal após o governo surpreender e anunciar, em conjunto com iniciativas de contenção de gastos, proposta para aumentar a desoneração do imposto da renda da pessoa física.
As taxas futuras ganharam fôlego adicional depois que o BC elevou neste mês a taxa básica de juros em 1 ponto percentual, comunicando que pretende promover mais dois aumentos da mesma magnitude em suas próximas reuniões, em janeiro e março, levando a Selic a 14,25%.
Apontando disfuncionalidades no mercado por conta de um fluxo maior de saída de recursos do país neste fim de ano, o BC tem atuado no câmbio nas últimas semanas, também argumentando que busca eficiência das negociações de mercado, e não um patamar para o dólar.
Os leilões simultâneos de compra e venda de títulos são uma alternativa do Tesouro para tentar ajustar o mercado em momentos de grande volatilidade, quando há a avaliação de que os investidores estão sem parâmetros de preços e taxas. Isso se deu, por exemplo, em 2020, com a turbulência econômica gerada pela crise da Covid-19.
(Por Bernardo Caram)
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