Dólar recua ante o real com percepção de Copom "firme" e ajuste no exterior
Por Fernando Cardoso
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar recuava frente ao real nesta quinta-feira, ampliando as perdas da véspera, à medida que investidores continuam se ajustando à vitória de Donald Trump na eleição presidencial dos Estados Unidos e à perspectiva de um Copom mais "rígido" em seu ciclo de aperto monetário, após o colegiado ter elevado a Selic na véspera.
Às 10h59, o dólar à vista caía 0,58%, a 5,6446 reais na venda. Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento tinha baixa de 1,34%, a 5,650 reais na venda.
Esta sessão marcava a primeira reação dos investidores à decisão do Copom de elevar a taxa de juros em 50 pontos-base, no início da noite de quarta, para 11,25%, com um comunicado visto como "mais firme" por analistas.
No comunicado, os membros do BC não indicaram seus próximos passos, mas defenderam que o governo adote medidas fiscais estruturais que gerem impactos para a política monetária, afirmando que a percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal tem afetado os preços de ativos e as expectativas.
"Esse comunicado mais firme consolida uma visão de que o Copom vai adotar um ciclo rígido de altas de juros daqui para frente... Essa perspectiva contribui na atração de investidores estrangeiros e é um fator baixista para a taxa de câmbio", disse Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.
Investidores também mostravam algum otimismo com a cena fiscal, à medida que esperam o anúncio de prometidas medidas de contenção de gastos pelo governo.
Na quarta-feira, comentários do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já haviam ajudado a aliviar a pressão sobre a moeda brasileira, com o dólar recuando 1,21%, a 5,6774 reais.
Ele afirmou que o governo terá na manhã desta quinta-feira uma reunião para fechar o pacote de medidas fiscais, ressaltando que ainda há dois "detalhes" a serem discutidos.
A curva de juros brasileira não tinha uma direção única, com as taxas de DIs de curto prazo mostrando leve alta, o que refletia a perspectiva sobre o ciclo de altas de juros, enquanto os vencimentos de longo prazo recuavam de forma acentuada, em movimento semelhante ao da véspera.
O real também se beneficiava dos movimentos do dólar no exterior, que cedia parte dos enormes ganhos acumulados na véspera, impulsionados pela vitória de Donald Trump na eleição presidencial dos Estados Unidos.
O índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- caía 0,54%, a 104,540.
A percepção dos investidores e economistas é de que as promessas do republicano para a economia, como tarifas comerciais e cortes de impostos, serão inflacionárias, o que fará com que a taxa de juros permaneça alta, algo favorável para o dólar.
"O mercado ainda está se ajustando à eleição de Trump. Queda hoje é generalizada depois da turbulência de ontem", disse diretor de operações da FB Capital.
Ele também chamou a atenção para um movimento de realização de lucros que estaria ocorrendo desde quarta-feira, uma vez que a moeda norte-americana continua em patamares elevados no Brasil.
As atenções estarão voltadas nesta sessão para o anúncio da decisão de juros do Federal Reserve, em que se espera amplamente que os membros reduzam os custos dos empréstimos em 25 pontos-base.
Com o movimento completamente precificado, o foco estará na declaração de política monetária, em que os mercados analisarão possíveis comentários sobre a trajetória futura dos juros e alguma sinalização sobre como o banco central norte-americano enxerga o cenário econômico à frente com o retorno de Trump à Presidência.
0 comentário
Dólar tem leve alta na abertura em meio à escalada de tensões entre Ucrânia e Rússia
China anuncia medidas para impulsionar comércio em meio a preocupações com tarifas de Trump
Expectativa é de que redação do pacote fiscal seja finalizada nesta semana, diz Rui Costa
Presidente do Fed de Richmond diz que EUA estão mais vulneráveis a choques de inflação, informa FT
Minério de ferro sobe enquanto traders avaliam demanda ante estoques portuários elevados
Conselheiros da China pedem meta de crescimento de 5% para 2025 e estímulo mais forte