Os efeitos da flexibilização monetária dos EUA sobre as commodities
- Depois de uma frustrante primeira metade do ano à espera de um corte na taxa de juros dos EUA, o FOMC realizou o afrouxamento da política monetária americana em setembro com um corte agressivo de 50 pontos-base.
- Devido às taxas de juros mais baixas, o dólar norte-americano se enfraqueceu, o que representa um fundamento de alta para as commodities, já que a maioria das matérias-primas são cotadas em dólares, que agora estão mais baratas para os detentores de outras moedas.
- Além disso, após a queda nas taxas de juros dos EUA, as economias asiáticas estão encontrando espaço para afrouxar suas políticas monetárias restritivas, gerando perspectivas de maior crescimento no continente em 2025.
- Entretanto, alguns riscos significativos permanecem no mercado e merecem atenção, como questões estruturais na economia chinesa e no mercado de trabalho dos EUA.
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Nos últimos anos, devido à alta inflação global, vários bancos centrais foram forçados a aumentar as taxas de juros para conter os aumentos de preços, o que afetou mercados voláteis, como o de ações e o de matérias-primas.
Segundo Victor Arduin, analista de Macroeconomia e Energia da Hedgepoint Global Markets, “no contexto de políticas monetárias mais rígidas, os custos de empréstimos nos EUA se destacaram como um dos principais fatores que limitaram um mercado mais altista para commodities, especialmente para ativos de grãos e softs. Isso ocorre porque a maioria desses produtos são negociados em dólares, e a moeda norte-americana tende a se valorizar quando as taxas de juros dos EUA são altas”.
Entretanto, com o início do ciclo de corte de juros em setembro na maior economia do mundo, já estamos observando reflexos de alta no mercado, conforme demonstrado pelo Índice BBG, que subiu 2,97 pontos (+3,06%) desde a decisão do Fed.
Devido a esses acontecimentos, a Hedgepoint aborda, em análise, alguns cenários que podem beneficiar as commodities nos próximos meses.
As economias asiáticas podem aumentar a demanda por commodities agrícolas
Depois de frustradas as expectativas de um corte na taxa de juros nos EUA no primeiro semestre de 2024, o FOMC (Federal Open Market Committee) realizou o tão esperado afrouxamento da política monetária americana. Além disso, implementou um corte agressivo de 50 pontos-base, surpreendendo parte do mercado que esperava que as autoridades monetárias fossem mais conservadoras em sua decisão.
“Como a maioria das commodities é negociada em dólares, o enfraquecimento da moeda americana torna essas matérias-primas mais baratas para os detentores de outras moedas, resultando em aumento da demanda no mercado. Alguns contratos futuros já estavam apresentando uma tendência de alta devido a fatores relacionados à oferta, como o café, que apresentou um déficit maior do que o esperado na safra 2024/25”, explica o analista.
“Agora, novos fundamentos de alta estão se desenvolvendo para outras commodities, como os grãos, que podem se beneficiar de um ambiente de crescimento mais favorável nas economias emergentes. A flexibilização monetária nos EUA criou espaço para que os bancos centrais asiáticos reduzissem as taxas de juros, o que, juntamente com a valorização de suas moedas, pode resultar no aumento da demanda por commodities agrícolas em 2025”, destaca.
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O mercado ainda apresenta riscos significativos
Recentemente, a China anunciou um novo pacote de estímulo para fortalecer sua economia, que está perigosamente perto da deflação e pode enfrentar dificuldades para atingir sua meta de crescimento de 5%.
“Embora alguns setores do país, como as exportações e a produção industrial, estejam apresentando bom desempenho, o setor imobiliário chinês continua a desacelerar e apresenta riscos significativos para o mercado de commodities, especialmente para produtos de energia, como o petróleo bruto”, observa.
“Enquanto no Oriente o vetor de risco mais significativo para o mercado de commodities vem da China e dos desdobramentos do conflito entre Israel-Hamas, no Ocidente, os sinais do mercado de trabalho dos EUA também são preocupantes”, pontua.
Os efeitos das taxas de juros americanas ainda estão repercutindo na economia, o que pode elevar a taxa de desemprego no país para quase 5% em 2025.
Embora a probabilidade seja baixa, o risco de uma recessão não pode ser completamente descartado. Além disso, o crescimento do emprego em tempo parcial e o declínio dos cargos em tempo integral são sinais de alerta.
“Nesse contexto, podemos observar gradualmente melhorias no mercado de commodities em meio ao fortalecimento dos fundamentos da demanda da Ásia, enquanto os dados macroeconômicos dos EUA podem levar a correções nos próximos meses”, conclui Victor.
Em resumo, a política monetária dos EUA tem um amplo impacto no mercado de commodities, pois influencia diretamente o valor do dólar e afeta indiretamente a demanda por commodities.
Nesse contexto, as economias asiáticas estão se beneficiando da perspectiva de queda do dólar americano, o que resulta em maior poder de compra e espaço para redução das taxas de juros em suas economias, o que poderia beneficiar especialmente as commodities agrícolas.
No complexo energético, prêmios de risco estão emergindo no Oriente Médio à medida que o conflito entre Hamas e Israel ganha novos desdobramentos. Isso pode resultar em suporte ao petróleo no curto prazo.
Entretanto, há riscos importantes a serem monitorados no mercado, como as questões estruturais da economia chinesa que podem frustrar as expectativas de crescimento e, consequentemente, o consumo de commodities, bem como os sinais do mercado de trabalho dos EUA.
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