Açúcar: Preço do frete do interior de SP para Santos caiu, mas ainda é preciso atenção na safra 23/24, diz Czarnikow; veja porquê

As atenções para a logística na safra 2023/24 do Centro-Sul do Brasil seguem entre os envolvidos no mercado. Apesar de um pico em março, pouco antes do início da temporada, os preços dos fretes do interior de São Paulo para o Porto de Santos – principal responsável pelo escoamento do adoçante no país – caíram nos últimos meses.

"Isso não é o que se espera acontecer em uma temporada de safras recordes de grãos e açúcar", disse a analista Ana Zancaner em reporte da Czarnikow. A temporada já começou em meio grandes temores com o escoamento da safra de açúcar coincidindo com a de soja e milho neste ano no Brasil, já que houve atraso na colheita de grãos.

Em março, o preço do frete do interior de São Paulo até Santos registrou R$ 180 a tonelada, um aumento de 40% em relação ao mesmo período do ano passado, e a expectativa da trading inglesa é de que valor pode até dobrar no pico da safra. Agora, eles estão pouco acima de R$ 150 a tonelada acompanhando alguns fatores.

"Um fator explica esse comportamento: o preço do diesel caiu 21% desde abril. Como o preço do combustível representa por volta de 40% da composição do frete, qualquer redução no valor tem um impacto na tarifa – inclusive, a ANTT [Agência Nacional de Transportes Terrestres] recentemente divulgou uma redução no piso mínimo do frete", afirma Ana no relatório.

A segunda razão está relacionada com o fluxo de exportação de grãos, que competem com o adoçante nesta temporada. "Até maio [o fluxo] foi 70% do volume total esperado para 2023 e mais baixo que o normal. De acordo com o Imea (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária), a curva de comercialização da soja em Mato Grosso (responsável por 30% da produção nacional de soja) estava em 66% até o final de maio, muito menor que os 85% esperado para essa época do ano", explica Ana.

"Com os produtores esperando preços de soja mais altos, a venda do grão está um tanto atrasada e pode estar impactando o fluxo de exportações visto até agora", completa a analista. O terceiro fator é o ritmo lento das exportações de açúcar. "Com o início da safra atrasado pelas chuvas de abril, a produção de açúcar apenas engrenou no mês passado", afirma a analista de mercado da trading inglesa.

"Portanto, o fluxo intenso esperado para o começo da safra não ocorreu, deixando os terminais operando a uma eficiência menor. A pressão não começou ainda…", destaca Ana na expectativa de que os preços dos fretes ainda devem voltar a subir até o pico da safra 2023/24 do Centro-Sul do país, no segundo semestre.

Agora, o Brasil também começou a colheita do milho safrinha ou 2ª safra, já que atualmente ela é responsável por mais de 75% da produção total nacional do cereal, e precisará escoar parte disso. "A estimativa para este ano é de uma produção de 96 milhões de toneladas. O ritmo de colheita está um tanto atrasado, até agora 0,7% foi colhido nos principais estados produtores versus 3% registrado ano passado", diz Ana.

"Com o Brasil exportando 40% da produção de milho, 48 milhões de toneladas devem descer para os portos nos próximos meses. E, desse total, 43% saem de Santos", ressalta.

Com isso, "a pressão deve aumentar nas próximas semanas, quando o milho descer para os portos (impacto nos fretes rodoviários) e para exportação (impacto nas operações dos terminais e logística do açúcar). Baseado nas nossas curvas de exportação, acreditamos que a competição entre açúcar e grãos deve perdurar até setembro, no mínimo", finaliza.