Com crise que vai do campo à xícara, ABIC vê nível de impureza subir, intensifica fiscalização e traz novo alerta ao setor cafeeiro
O acompanhamento de qualidade do café brasileiro na gôndola do supermercado realizado pela Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC) mostrou que depois que a crise cafeeira passou a atingir todos os elos do setor, o nível de impureza do café em algumas marcas estão ultrapassando o limite permitido na gôndola do supermercado. Ou seja, a Associação passou a ver mais marcas entregando café com algum outro tipo de produto na composição pelo Brasil. A ação pode trazer redução do consumo de café nos próximos cinco anos e por isso a ABIC traz um novo alerta para o setor.
O nível de impureza no café permitido no mercado é de até 1%, mas de acordo com a instituição nos últimos meses o monitoramento, que é feito por amostragem, apontou para cafés com graus de 2,5% e que chegam até 5,8%, chamando muito atenção do setor já que a ação vai contra as ações que todas as lideranças do setor cafeeiro no Brasil vem fazendo há anos para garantir e promover o café de qualidade que é entregue por uma maioria esmagadora dos produtores no Brasil.
Voltando um pouco mais na história, Celírio Inácio da Silva, diretor executivo da e porta-voz da ABIC, relembra que em 1979, quando o acompanhamento passou a ser feito, esse nível de impureza se aproximava dos 30%, mas que com o trabalho de conscientização, os níveis quase zeraram nos últimos anos, ajudando inclusive o consumo de café do Brasil a subir e manter-se em alta.
O diretor explica ainda que o cenário passou a ser observado justamente quando a crise que vai do campo à xícara começou a chegar no consumidor final, quando a indústria precisou repassar a alta para os supermercados, o que aconteceu também no período em que a população está com poder aquisitivo comprometido e ainda se recuperando as mais diversas dificuldades impostas pela Covid-19.
É importante ressaltar que no último ano o preço do café subiu bastante tanto na Bolsa de Nova York como no mercado físico, consequência da crise climática com estiagem e geadas, além dos problemas logísticos que afetaram e ainda afetam toda a cadeia exportadora do Brasil. Com a oferta do arábica mais restrita, o mercado passou a demandar mais do café tipo conilon, o que foi outro fator impulsionador dos preços. O custo do setor industrial com matéria-prima chega a 60% quando se fala em café. "Toda a cadeia acaba sendo prejudicada por essas ações, por isso estamos em alerta", diz.
Inácio comenta que as ações de fiscalização estão sendo intensificadas com a indústria e também com as redes de supermercados que estão aceitando esse tipo de produto, justamente para que o consumo não seja afetado. As ações, inclusive, podem ter medidas judiciais para evitar que essa prática ilegal continue avançando. O Brasil consume em média 22 milhões de sacas por ano no mercado interno e o setor acredita em acréscimo para os próximos anos.
"Para os supermercados a ABIC oferece gratuitamente análise dos produtos para evitar esse tipo de fraude. A gente sabe que se não houver uma qualidade mínima o consumidor rejeita e começamos a fazer os alertas para todos os órgãos competentes", acrescenta.
O setor cafeeiro no Brasil está alinhado com as ações para driblar a crise e vem buscando ampliar a imagem do café brasileiro não só no mercado interno, mas também para os clientes internacionais. Inácio acrescenta que é importante que as medidas da ABIC continuem acontecendo para que o consumidor final não se sinta enganado e principalmente não prejudicar todo o trabalho de rastreabilidade, sustentabilidade e evitar a queda no consumo, que pode também desmotivar o produtor com as boas práticas e os investimentos que vêm sendo feitos por toda cadeia.
"O que chamou atenção além do número de café que estava no ponto de venda com grau maior de impureza, é que as redes de grandes capitais começaram a procurar e aceitar esse tipo de bebida. Isso sempre andou dentro de um grupo de mercado pequeno, de bairro, que vale atenção como qualquer outro, mas quando isso se agrava em grandes supermercados, a população acaba acreditando naquela bandeira e acaba procurando esse tipo de marca por conta do preço. Além da própria indústria que é condenável por tudo isso, você tem a responsabilidade do supermercado também", acrescenta.
De acordo com a ABIC, o alerta é importante justamente porque a instituição vem fazendo um trabalho intenso com o consumidor final para mostrar que existe vários tipos de café produzidos no país, mesmo para aquele consumidor que não sabe decorrer sobre os atributos da bebida, mas que é importante que ele entenda que o Brasil tem uma variedade muito grande na prateleira. Inácio finaliza dizendo que é importante que as ações continuem acontecendo para paralisar as ações irregulares no mercado e para que o consumo continue em evidência.
"É esse o alerta, de um lado a gente tem o produtor que pode ver o consumo caindo e se sentir desmotivado a seguir com as boas práticas que é o que todo setor vem falando diariamente. Ao consumidor tem que ser oferecido vários tipos de cafés diferentes. Isso é saudável e faz com que o Brasil ande. Temos que ter todos esses tipos de café, mas com qualidade e com padrão mínimo", finaliza.
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