Milho: Safrinha será insuficiente para recompor estoques do BR e preços devem seguir valorizados

Publicado em 28/03/2025 11:54 e atualizado em 31/03/2025 09:20
Mercado, porém, tende a continuar volátil com segunda safra em andamento

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O que mais preocupa no cenário global de oferta e demanda de milho neste momento? O desenvolvimento da safrinha brasileira? As expectativas crescentes para a safra 2025/26? O comportamento das exportações? Da demanda interna? A influência da política e economia nos preços daqui em diante? Perguntando para um grupo de produtores a resposta da maioria, primeiramente, foi: a safrinha, com certeza! Mas, todos disseram que seria bom saber o que devemos esperar de um dos nossos principais concorrentes, naturalmente. 

A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) projeta a segunda safra brasileira de milho em 95,515,8 milhões de toneladas, um incremento de 5,8% em relação à temporada anterior, que sofreu perdas expressivas em algumas regiões importantes. Em relação ao número de fevereiro, porém, a estimativa é 0,51% menor. Essa diminuição foi pautada pela retração nas áreas dos estados de Goiás, em 5,97%, Mato Grosso do Sul, em 2,54%, e do Paraná, em 0,20%. 

A oferta maior, se confirmada, seria reflexo de uma área 1,9% maior na comparação com a anterior - 16,748,6 milhões de hectares - mas principalmente com um aumento de produtividade, de 3,9%, podendo alcançar uma média de 95,05 sacas por hectare (5,703 kg/ha). 

Os números são bastante robustos, é verdade, mas precisam que as condições climáticas colaborem e permitam que todo este potencial seja expressado. Os relatos de produtores, porém, não trazem esse cenário em uníssono. Boa parte da safrinha foi semeada fora da janela ideal de plantio em função de atrasos na safra de soja, e já sofreu com algumas adversidades, sentindo, principalmente, a falta das chuvas em áreas-chave de produção. 

"A qualidade do milho segunda safra hoje está boa. Não vou dizer extraordinária porque ainda há alguns problemas no leste de Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, mas o Mato Grosso, que hoje responde por 50% da produção da segunda safra brasileira, está com condições muito saudáveis, muito favoráveis para a produção de uma safra robusta", explica Matheus Pereira, diretor da Pátria Agronegócios. "Não temos recorde de área este ano, o último recorde foi há dois anos, mas a produtividade caminha muito bem, em especial no Mato Grosso que pode atingir um recorde para o estado".

Segundo o relato de Silvésio de Oliveira, produtor rural em Tapurah, no estado mato-grossense, a região recebe chuvas regulares, chegando na medida ideal para a cultura, fortalecendo as expectativas de uma boa colheita. "Há previsão de mais 15 dias de chuvas e a maioria do milho vai estar pendoando. Então, se as previsões se confirmarem, será um bom ano de safrinha de milho", diz. 

O produtor pondera, porém, que considerando os custos totais, os atuais patamares de preços deixam margens apertadas, porém, com sinais de melhora. 

+ Chuvas vêm contribuindo para o desenvolvimento do milho safrinha em Tapurah (MT)

A Conab estima que a segunda safra de milho no estado seja de 46.175,5 milhões de toneladas, 4,2% menor do que a anterior. 

Já em Guarda-Mor, Minas Gerais, o desenvolvimento do milho está atrasado em função da estiagem que acomete o estado. Depois de primeiro de 1º de fevereiro, as chuvas cortaram na região e as lavouras já têm sentido e vão perdendo potencial produtivo, como relata o produtor Tiago Machado. "60% do milho plantado na região não recebeu chuva. Muitos milhos plantados teve um desenvolvimento muito ruim. Voltou a chover e assim, voltou a se desenvolver, porém, são perdas de 30% a 40% já nestas lavouras", relata o agricultor. Assim, as expectativas estão sobre as chuvas que estão previstas para abril. 

O mesmo relata Guilherme Lamb, produtor rural em Maracaí, no estado de São Paulo. "Muitas áreas foram plantadas fora da janela e muitas ainda sendo plantadas, outras ainda sem plantar. E o milho fora da janela começa pela perda de potencial produtivo, além de questões climáticas como seca, estresse hídrico e até mesmo risco de geadas. A cada dia de atraso, após o fim da janela ideal, em torno de duas sacas por hectare de perda no potencial produtivo, independente de questões climáticas".   

Em entrevista ao Notícias Agrícolas, Lamb ainda destacou que há mais produtores, de outras regiões importantes de produção, apontando dificuldades como estas que têm sido sentidas em Maracaí, com a necessidade de observação aos custos de prdodução, às relações de troca e e as margens de rentabilidade que a safrinha deve trazer. 

No Paraná, segundo maior produtor de milho do Brasil, as chuvas são aguardadas com ansiedade pelos produtores. Nesta quinta-feira (27), o Deral (Departamento de Economia Rural do Paraná) manteve sua estimativa para a safrinha em 15,9 milhões de toneladas, mesmo número do mês anterior, mas com ressalvas. 

FLORESTA - PR - GRUPO AGROTEMPO -MILHO PLANTADO EM 20 DE JANEIRO 21-03
Milho sofrendo em Floresta/PR - Foto: Grupo Agrotempo

"A segunda safra está sofrendo com chuvas irregulares e calor intenso, o que levou a piorar as condições de lavoura. Se não houver chuvas em bom volume nos próximos dias, é possível já apontar perdas na produção", explicou o analista do departamento, Edmar Gervásio. 

Veja sua entrevista ao Notícias Agrícolas nesta sexta-feira (28):

De acordo com informações do portal Agroclima, há cidades no Paraná que poderiam ter decreto de emergência por conta da seca pela qual passam, impactando diretamente nas lavouras de regiões como Toledo, por exemplo. "Em função da falta de chuva e das altas temperaturas dos últimos dias, houve prejuízo considerável no processo de germinação em muitas áreas, o que resultará em uma redução no estande e, consequentemente, em uma diminuição das produtividades, que será reavaliada ao longo da safra". 

Marilson Dorigon - Sertanopolis_PR

Marilson Dorigon - Sertanopolis_PR (1)
Lavouras de milho atingidas pela estiagem em Sertanópolis/PR - Fotos: Marilson Dorigon 

PREVISÃO DO TEMPO

Em resumo, é possível dizer que a segunda safra de milho ainda é uma incógnita, porém, com previsões que vão melhorando. Agora, olho vivo sobre os mapas climáticos - informações que têm intensificado a volatilidade no mercado nacional do cereal.

Para o Paraná, até esta sexta-feira (28), há riscos de temporais. "Já, para a próxima semana, a previsão da Climatempo indica a passagem de frentes frias pelo Sul que devem contribuir para ocorrência de chuva no estado. A previsão de volume de precipitação indica valores entre 50/70mm até o dia 05 de abril", afirma a meteorologista da Climatempo, Patricia Cassoli. 

Do mesmo modo, o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) traz em seu prognóstico para abril condições de chuvas mal distribuídas para as regiões Centro-Oeste e Sudeste. "A previsão de redução da precipitação no mês de abril beneficiará a fase final da colheita da soja, mas pode dificultar a evolução do plantio das culturas de segunda safra".

Mapas Inmet - Abril
Mapas: Inmet

"Quanto às temperaturas, a previsão indica que estarão acima da média em grande parte das regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul, além do interior da Região Nordeste", complementa o instituto. 

DIANTE DISSO, E O MERCADO?

Com tudo isso acontecendo, a palavra do mercado brasileiro de milho é volatilidade. Depois de um avanço considerável nos últimos meses, os preços e os negócios parecem estar redefinindo suas direções. 

"O mercado do milho teve seus motivos de alta, vimos uma forte animada nas últimas semanas, com a demanda interna acelerada. Algumas compradoras erraram no planejamento de originação esse ano. Por informação equivocada, deixaram para fazer originação na entrada de 2025, apostando em estoques maiores, e fizeram errado", explica Matheus Pereira. "Aqui no estado de Goiás, uma grande empresa compradora tiveram inclusive encarregados demitidos por estratégias erradas. Os estoques estão muito baixos, quase inexistentes em algumas regiões, como é o caso de Mato Grosso e partes de Goiás. Em Mato Grosso, maior berço de milho do Brasil, não tem milho disponível", complementa. 

O atual cenário já promove, inclusive, uma distorção grande no mercado entre o físico e futuro. Ainda segundo o diretor da Pátria, a semana foi marcada com indicativos de milho na casa dos R$ 90,00, R$ 93,00 no disponível em Mato Grosso em função desta escassez de oferta. "Não temos o grão, se esgotou. E tivemos problemas na safra de verão, somado com as regiões que sofreram com a seca no mês de março e agora, as chuvas voltaram. O mercado exauriu seu potencial de ganho. Não está originando milho, mas aqueles que fizeram compras já fizeram cobertura para aguentar esperar a entrada da safrinha. Então, vemos que o mercado já registra até uma contração em algumas regiões, como em São Paulo, por exemplo".

Assim, a consultoria acredita que, ao menos neste momento, o mercado do milho deve apresentar certa estabilidade, estagnado até a chegada efetiva da segunda safra. A colheita já deverá ser iniciada em maio, acelerando o ritmo dos trabalhos de campo em junho, julho e em agosto, vivendo a plena disponibilidade de oferta da safrinha. 

A situação dos estoques brasileiros do grão, todavia, é bastante sensível. Segundo o consultor de mercado Victor Cazzo, da plataforma Venda na Hora Certa afirma, portanto, que mesmo com a chegada desta nova oferta, o mercado ainda não deverá ver uma recomposição plena de estoques a níveis que pudessem promover uma despencada das cotações. 

"Isso não deve acontecer nesta safra. Precisaríamos, talvez, de um aumento de área e uma safrinha perfeita, ou talvez, no próximo ciclo, uma safra de verão maior. Mas, nesta temporada ainda não devemos recompor os estoques, também porque as indústrias de etanol estão aumentando o consumo, o mercado de proteína animal está pagando bem, continuando com essa demanda alta, se expandindo cada vez mais, não permitindo essa recomposição dos estoques", explica Cazzo. 

Esta projeção também já se reflete no comportamento do mercado futuro, com os vencimentos mais alongados na B3 já se mostrando mais elevados do que os mais curtos. "Temos uma barrigada nos preços e depois eles voltam a subir. É mais uma pressão de sazonalidade da safrinha, os produtores precisam vender por caixa, por armazenagem, e isso depois, lá na frente, já começa a ser precificado. Tem espaço para o milho continuar subindo depois da entrada da safrinha". 

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Por:
Carla Mendes | Instagram @jornalistacarlamendes
Fonte:
Notícias Agrícolas

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