Mercado de açucar: Black Friday também nas commodities!! (por Arnaldo Luiz Correa)
Uma nova e mais contagiosa cepa da covid-19 identificada na África do Sul sacudiu os mercados internacionais nesta sexta-feira, numa semana encurtada pelo feriado de Ação de Graças nos EUA, trazendo pânico entre os investidores e a consequente fuga acelerada dos ativos de risco.
O petróleo Brent chegou a negociar a 72 dólares por barril, queda superior a 11%. Junto com ele, outras commodities vivenciaram perdas expressivas, como o petróleo WTI, a gasolina RBOB, o diesel, todos acima de 10%. Os grãos e as softs commodities tiveram quedas médias de 2% e 4%, respectivamente. Ninguém pode reclamar que não aproveitou da semana de ofertas do Black Friday.
O mercado futuro de açúcar em NY não poderia ficar incólume num ambiente macro tão deteriorado e encerrou a sexta-feira, no pregão pós-feriado, cotado a 19.40 centavos de dólar por libra-peso (depois de bater a mínima de 19.15) no vencimento março/22, acumulando uma perda de 77 pontos em relação à semana anterior, equivalente a 17 dólares por tonelada. A perda média nos vencimentos de maio/22 até março/23 foi de 69 pontos, cerca de 15 dólares por tonelada. Na 23/24, 26 pontos apenas, ou 5.50 dólares por tonelada.
Já os valores equivalentes dos fechamentos dos contratos futuros de NY que cobrem as safras 22/23 e 23/24 do Centro-Sul, minguaram R$ 58 e R$ 42 por tonelada em relação à semana anterior. O vencimento março/22 derreteu mais de R$ 100 por tonelada na semana, reforçando nossa tese de que não fixar preços em reais por tonelada (acompanhados pela compra de uma opção de compra fora-do-dinheiro com preço de exercício 200-250 pontos acima do mercado) é um risco desnecessário com consequências trágicas para o balanço anual.
No comentário da semana passada dissemos que o “receio é ver o mercado cair no vazio por conta de eventos que não conseguimos enxergar e caso ocorram, temos a sensação de premência que muitas vezes nos obriga trocar o pneu do carro em movimento”. Sem vocação alguma para pitonisa meu objetivo é sempre levar aos meus improváveis leitores o conceito de que a gestão de risco não pode ser tratada com preterição, mas como prioridade absoluta. De que adianta ter ganhos efetivos na área agrícola e na indústria se na hora de fazer o hedge é um desastre?
Parece duvidoso que a combinação de real fraco e açúcar forte persista por um longo tempo. Os valores recentes em reais por tonelada comparados aos últimos 5 e 10 anos, corrigidos pelo IPCA, só foram ultrapassados em 5% e 2.5% das vezes ao longo do período analisado. A chance de seu hedge dar certo é de 40:1, ou na pior das hipóteses, 20:1.
Para quem está no mercado de commodities há muito tempo sabe da ciclicidade do mesmo. Preços baixos por um longo período de tempo inibem a produção, provocam rupturas e mudança de culturas (de um produto para outro mais rentável) até que a escassez se faz presente com a elevação dos preços por parte de consumidores ávidos em ter o produto. Escassez provoca preços altos que incentivam o aumento da produção nas safras seguintes, com a formação de estoque e até novos entrantes produzindo para poder participar dos preços remuneradores que o mercado oferece. Isso funciona assim desde que o mundo é mundo.
Dessa forma, commodities raramente ficam um longo período com margens tão atraentes, com exceção daqueles lapsos de déficit de produção, geada, seca e outros fatores que não parecem ser os protagonistas nesse momento. Mesmo com a elevação substancial de cerca de 40% nos custos de produção de açúcar no Centro-Sul e assumindo uma margem sobre o custo de caixa de aproximadamente 25%, isso daria hoje R$ 2,000 por tonelada FOB equivalentes a NY ao redor de 15.50 centavos de dólar por libra-peso. Esse tipo de cautela que as usinas deveriam ter em mente.
Os consumidores industriais de açúcar podem vender opção de venda no-dinheiro e embolsar o prêmio diminuindo assim o custo de aquisição da matéria prima caso sejam exercidos. Uma put (opção de venda) de preço de exercício 19.50 centavos de dólar por libra-peso negociou a 0.92 centavos, se o consumidor for exercido terá comprado um açúcar a 18.58 centavos de dólar por libra-peso. Se não for – porque o mercado expirou acima do preço de exercício – pelo menos embolsou o prêmio
A Câmara aprovou uma MP (Medida Provisória) que permite a venda direta de etanol do produtor ou do importador para os postos. O que isso representa para o mercado? Nada, absolutamente nada. A vanguarda do atraso que se instalou em Brasília vai capitalizar em cima disso propagando que a medida vai baratear o preço do combustível na bomba. Com a queda do petróleo e o real levemente mais forte em relação ao dólar, o que vai ocorrer em breve é uma redução no preço da Petrobras na refinaria, que já pode ser de pelo menos R$ 0,25 por litro. Os menos avisados vão acreditar que é o governo que “está trabalhando para isso”. Conversa mole.
As exportações brasileiras de açúcar alcançaram 28.4 milhões de toneladas no acumulado de doze meses compreendendo o período de novembro de 2020 até outubro de 2021. Esse volume é apenas 0.7% acima do mesmo período do ano anterior. Nos sete meses da safra 21/22 (de abril a novembro) o volume atinge 16.9 milhões de toneladas de açúcar, uma redução de 28% em relação ao mesmo período da safra passada que bateu 23.5 milhões de toneladas. Pelo ritmo das exportações esse ano, acreditamos que o Brasil vai exportar no máximo 24 milhões de toneladas.
Um bom final de semana para todos.
Arnaldo Luiz Corrêa
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