Dólar tem forte queda ante real com fluxos e exterior benigno compensando incertezas locais
O dólar caía frente ao real nesta terça-feira, com a perspectiva de juros mais atrativos no Brasil, movimentos de realização de lucros e um clima benigno no exterior compensando, pelo menos por ora, os constantes ruídos políticos e fiscais domésticos.
Às 10:34, o dólar recuava 0,76%, a 5,3416 reais na venda, depois de tocar 5,3255 reais na mínima do pregão (-1,06%). Na B3, o dólar futuro de maior liquidez caía 0,91%, a 5,539 reais.
Nesta manhã, o real estava entre as moedas de melhor desempenho contra a divisa norte-americana, descolado de seus principais pares emergentes. Peso mexicano, lira turca e rand sul-africano apresentavam ganhos mais modestos no dia, subindo entre 0,05% e 0,3%.
Segundo Alexandre Netto, head de câmbio da Acqua-Vero Investimentos, isso é, além de reflexo de um ambiente internacional mais inclinado ao risco, "sinal de fluxo", refletindo movimentos de internalização de recursos por parte de exportadores.
Na segunda-feira, a moeda norte-americana spot teve variação negativa de 0,05%, a 5,3823 reais na venda. Na sexta-feira passada, embora tenha fechado em queda, o dólar chegou a superar os 5,47 reais na venda na máxima intradia.
"À medida que (o dólar) sobe, o exportador aproveita alguns momentos para internalizar recursos", explicou Netto. "Além disso, também recebemos fluxo de investidores estrangeiros fazendo 'carry trade', aplicando na renda fixa em meio ao aumento de juros pelo Banco Central."
A taxa Selic está atualmente em 5,25% ao ano e a caminho de superar o patamar neutro, o que tende a tornar o diferencial de juros entre Brasil e economias avançadas mais atraente.
Mesmo assim, alertou Netto, "o cenário continua tendendo para uma depreciação do real", citando o constante temor fiscal, burburinho em Brasília e uma inflação que não tem dado sinais de arrefecimento, apesar da postura mais dura do BC.
O mês de agosto tem sido dominado pelo noticiário fiscal: a pressão do governo pelo parcelamento do pagamento de precatórios acendeu o alerta dos investidores sobre a saúde das contas públicas e a capacidade do governo de honrar suas obrigações, apesar das tentativas do ministro da Economia, Paulo Guedes, de amenizar o clima nos mercados.
Paralelamente, o clima segue de tensão em Brasília em meio a ataques constantes do presidente Jair Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF).
"Há uma clara evidência dos descontroles alavancados por novos e constantes gastos afrontando a política fiscal, que agrava o risco, atendendo projeto populista do governo com foco já nas eleições de 2022, e tudo isto num ambiente conflituoso entre os poderes constituídos do país", opinou em nota Sidnei Nehme, economista e diretor-executivo da NGO Corretora.
Nesta semana, disse Netto, da Acqua-Vero, os investidores ficarão atentos à conferência anual de banqueiros centrais de Jackson Hole, organizada pelo Federal Reserve, em busca de sinais sobre o futuro da política monetária norte-americana.
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