Café: Há 20 dias do "fim do ano" preços não agradam a ninguém, por Rodrigo Costa
O acordo de delação premiada de um importante ex-membro do staff do presidente Donald Trump, anunciado na última sexta-feira pela manhã, derrubou os índices acionários nos Estados Unidos e provocou uma desvalorização brusca da moeda americana, até então o senado indicar a aprovação da reforma fiscal e as bolsas recuperarem para encerrar virtualmente inalteradas.
O CRB teve sessões voláteis durante a última semana do novembro, principalmente no último dia do mês, que teve a maior parte dos componentes desta cesta cedendo enquanto os ganhadores foram o algodão, o petróleo e o gás natural.
Ambos contratos de café, em Nova Iorque e Londres, esboçaram uma reação na quinta-feira, para então sofrerem um fluxo de vendas especulativo, que no primeiro teve mais de 2,000 lotes vendidos dentro de um minuto, encerrando a semana de lado.
A manutenção do preço do arábica da ICE próximo de US$ 130.00 centavos por libra acabou não sendo de toda ruim. Ao mesmo tempo o fechamento estando distante pouco mais de US$ 3.00 centavos do nível que atingiu antes de sofrer a queda não encoraja muito os participantes para mudar o intervalo de negociação que o mercado tem se mantido desde o fim de setembro.
O fluxo de negócios no mercado físico brasileiro estava melhorando, ajudado também pelo Real que saiu de R$ 3.20 para R$ 3.26, mas não durou o suficiente aqueles que precisam cobrir suas posições vendidas.
Com pouco menos de 20 dias para o encerramento do ano, quando o período de festas se inicia, a “esperança” do barateamento dos diferenciais parece ter se esvaído. Caso o terminal não consiga subir nas próximas duas semanas, os torradores, exportadores, importadores e comerciantes em geral não terão muito o que fazer, a não ser indigestamente pagar os preços que não deixam felizes nem mesmo os produtores de café.
As exportações de café no Brasil de novembro devem vir abaixo de outubro, segundo indicações da Secretaria de Comércio Exterior. No Vietnã os embarques também devem ser menores, abaixo de 1.5 milhões de sacas, acumulando 21.12 milhões embarcadas de janeiro a novembro, ou 22.4% a menos do que no mesmo período de 2016.
Ao que tudo indica não devemos esperar neste ciclo uma disponibilidade maior na Colômbia e em Honduras, países que estão colhendo suas safras. Desta forma, uma continuação da utilização dos elevados estoques nos destinos deve continuar acontecendo.
Vale mencionar, mais uma vez, que a disponibilidade de grãos brasileiros na Europa é mínima, bem diferente do notado nos Estados Unidos. Em função disto os compradores do último pouco têm requerido ofertas do Brasil, a ponto de um ou outro desconfiar sobre a saúde do consumo no maior tomador de café do mundo.
Os fundos de investimento reduziram suas posições vendidas em 7,001 lotes entre os dias 21 e 28 de novembro, quando o mercado subiu míseros US$ 3.15 centavos por libra. A surpresa do tamanho da cobertura da parte bruto-vendida, 6,582 contratos, deve gerar um pouco de pressão entre os agentes que montam suas apostas em cima deste posicionamento.
Os múltiplos inchados no mercado acionário, assim como o excesso de liquidez no mundo, e um já precificado aumento dos juros americanos podem eventualmente atrair investidores no mercado de commodities em 2018. A situação de Donald Trump com a delação de um colaborador próximo pode trazer alguma surpresa negativa para o dólar, que caso venha a se materializar poderia prover algum suporte para as commodities.
Outro ponto relativamente mais positivo é que grande parte dos participantes do mercado de café parece estar cética quanto a um potencial movimento de alta. Embora isto possa não ser suficiente para levar as cotações aos sonhados US$ 150.00 centavos, ao menos pode ajudar a tirar o “C” deste enfadonho intervalo de negociação.
Não haverá relatório na próxima semana, pois estarei em curso tentando me tornar um “Q Grader”.
Voltarei a escrever no fim de semana do dia 16 de dezembro, possivelmente o penúltimo comentário do ano.
Uma ótima semana e bons negócios a todos,
Rodrigo Costa*
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting
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