Pecuaristas tem margens esmagadas com queda de 9,21% no preço da arroba
A cotação do boi gordo entrou em uma rota de queda desde o início do ano. Resultado de uma virada de ciclo, já esperada, mais uma somatória de fatores negativos imprevistos, o preço da arroba bovina caiu 9,21% de janeiro a abril, segundo indicador ESALQ/BM&FBovespa, medido pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada). Além disso, desde que as informações da operação Carne Fraca ganharam os noticiários, o boi gordo perdeu 6,91% do seu valor.
Nos últimos dois anos a pecuária nacional viu os preços do boi gordo apresentando quedas nominais, variando, na maioria dos meses, abaixo do índice de inflação medido pela Fundação Getúlio Vargas, que considera os preços das matérias-primas agrícolas. Para 2017, os pecuaristas já esperavam que não fosse um ano de margens elevadas. Mas, nas últimas semanas, uma enxurrada de notícias negativas piorou o cenário e, muitos já estão operando no vermelho.
Para se ter uma idéia, na comparação com o melhor momento do mercado em 2016 [R$ 159,49/@, em abril] a queda é ainda mais expressiva, de -15,53%. Neste mesmo período a variação do IGP-DI (Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna) foi de 4,37%, segundo dados do FGV (Fundação Getúlio Vargas).
Outro agravante, no início deste mês, os negócios passaram a ter desconto de 2,3% do Funrural (Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural), reduzindo ainda mais o preço recebido pelo produtor. Como o impacto, o indicador Esalq/BM&FBovespa recuou 3,50% somente em abril/17.
No Mato Grosso, estado com maior rebanho, os animais estão prontos para comercialização, mas as indústrias tiraram o pé das compras e, o produtor do outro lado, não quer entregar por um valor tão baixo. Segundo o pecuarista, João Lunardi, na região do Vale do Guaporé, a cotação do boi castrado caiu de R$ 128/@ para R$ 123/@, desde que a operação Carne Fraca foi deflagrada pela Polícia Federal.
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"Esse valor não está descontado o Funrural. Precisamos considerar que aqui no MT ainda tem o Fethab. Somando esses dois impostos, essa arroba de R$ 123 vai chegar à mão do produtor por R$ 115/@", diz Lunardi.
De acordo com ele, muitos pecuaristas da região estão comercializando nesse valor por receio de quedas mais bruscas nas cotações e, pela expectativa de conseguir repor a boiada com custo menor. "Tem muitos vendendo para comprar o bezerro. Nesse valor é possível adquirir, em média, 2,5 bezerros", diz.
Por outro lado vender o boi gordo neste valor pode significar prejuízo, já que os animais gordos de hoje, foram adquiridos há dois anos, quando o bezerro e boi magro chegavam a superar os R$ 2.000,00 cabeça.
Em Goiás, a realidade é parecida. Na média do estado, o boi gordo é comercializado a R$ 120,00/@ (sem desconto do Funrural). Assim, dependendo do tipo de gestão, o pecuarista já trabalha com margem de lucro negativa.
Na visão do presidente da Comissão de Pecuária de Corte da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Maurício Veloso, o momento é de vendas compassadas 'para não motivar as quedas nos preços'. Veloso lembra que o menos custo vem da engordo a pasto, "mas, para manter esses animais nas fazendas é preciso garantir ganho de peso, adequando o rebanho a oferta de pastagem, caso contrário as perdas vão existir", pondera.
Para ele, o maior prejuízo do pecuarista neste momento é a queda de valor na arroba. "Eles (produtores) não podem se desesperar criando um efeito manada de venda". "Essa atitude das grandes indústrias em dar férias coletivas é terrorista, mas precisamos ter em mente que momentos ruins passam", diz Veloso.
Com o bom desempenho das chuvas, as pastagens ainda permitem a venda compassada. Porém, "quando a seca chegar, essa porta irá se estreitar", diz o pecuarista João Lunardi. "Percebemos que a intenção das indústrias é pressionar os preços, para que quando essa oferta represada chegar ao mercado, eles consigam adquirir matéria prima mais barato", acrescenta.
Férias Coletivas
Nas últimas semanas, aos menos três importantes frigoríficos anunciaram férias coletivas diante das dificuldades de escoamento da carne, no mercado interno e externo, segundo alegações. Mas, para o consultor, José Vicente Ferraz, da Informa Economics FNP, afirma que esse movimento de paralisação temporária não está relacionado às dificuldades trazidas pela operação Carne Fraca.
"As férias coletivas são porque o consumo interno - que representa 75% da produção - está muito baixo, e piorou neste ano. Então, eles farão esse ajuste produtivo para manter os estoques equilibrados", diz Ferraz.
Contratos a termo suspensos
Essas dificuldades estão refletidas também nos mecanismos de comercialização. As grandes indústrias já informaram que irão suspender os contratos a termo, por tempo indeterminado. Segundo eles, a falta de liquidez na Bolsa aumenta os riscos da operação. “Temos ameaça ao fluxo de caixa das chamadas de ajuste, nessas operações o risco é 100% do frigorífico e, diante do mercado atual, fica inviável ir por esse caminho”, diz Fabiano Tito Rosa, gerente de compra de gado da Minerva Foods.
Especialmente aos pecuaristas que pretendem confinar, a alternativa neste momento tem sido o mercado de opções – onde o produtor adquire, por meio de prêmio, o direto de vender a um determinado preço fixado na Bolsa. Ou, “barter”, que são as trocas de insumos para a pecuária pelo correspondente em arrobas de animais a serem abatidos no futuro.
A grande preocupação da pecuária é de que não há, no médio prazo, uma conjuntura que permita melhora nos preços para esses animais que não estão sendo vendidos neste momento. Conforme lembrou o consultor, o desemprego segue alto no país e não temos garantia de retomada no consumo interno no segundo semestre deste ano.
Do lado da oferta, é evidente que a conjuntura mudou em relação aos três últimos anos. Mais bezerros de desmama e mais animais terminados, estão disponíveis, já que depois de um grande abate de fêmeas - ocorrido entre 2010 a 2014 - as indústrias voltaram reduzir a participação de vacas e novilhas nas escalas de 2015. Resultado, a bezerrada de 2017 - produto dessas fêmeas poupadas -, deve vir com maior força neste ano.
Além disso, os garrotes e bois magros que deveriam ter ido ao cocho no ano passado, ficaram no pasto. Isso indica que estes animais, em algum momento, chegarão ao mercado e "ajudarão" os frigoríficos a compor as escalas com mais facilidade.
A expectativa é que, fora das compras, os estoques das indústrias fiquem enxutos, obrigando-os a irem às compras. Mas, Ferraz lembra que há pouco espaço para o escoamento da carne e, portanto, os frigoríficos devem continuar realizando compras compassadas conforme o ritmo das vendas de carne. Embora o volume de compra possa melhorar, não há garantias de preços elevados para arroba.
Operação da PF domina conversas em feira do gado no Paraná (na FOLHA)
A Carne Fraca esteve em praticamente todas as rodas de conversa da 57ª Exposição Agropecuária e Industrial de Londrina, encerrada no domingo (9), uma das mais importantes do setor no país.
Enquanto os números parciais dos negócios realizados na feira indicam o início de uma recuperação do mercado, a queda dos valores pagos pelos frigoríficos aos produtores deixa os pecuaristas insatisfeitos.
Afrânio Brandão, 66, presidente da SRP (Sociedade Rural do Paraná), entidade organizadora do evento, afirmou que temia um fracasso na parte de pecuária da exposição. Depois, no entanto, se disse "aliviado" e estima um crescimento de 10% a 12% no volume de negócios envolvendo bovinos em comparação com 2016.
Por outro lado, André Carioba, 47, produtor de gado em sistema de confinamento e uma das vozes mais ativas na pecuária do Paraná, é direto: "Estou desanimado [após a operação]".
Em uma propriedade em São Sebastião da Amoreira, norte do Estado, Carioba tem capacidade de 2.160 animais para engorda, chegando a 9.000 abates por ano.
No entanto o plantel está diminuindo. Segundo ele, as vendas para abate caíram 20% e ele está comprando 30% menos do que normalmente compraria de bezerros para engordar.
"Antes da operação, eu vendia para um frigorífico da região por R$ 150 a arroba. Hoje, estou vendendo a R$ 143." Para ele, o preço ideal teria de ser de R$ 180.
Um de cada três paulistanos afirma comer menos carne após ação da PF
Quase um terço dos moradores de São Paulo afirmam estar comendo menos carne após a Operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal em 17 de março.
De acordo com pesquisa do Datafolha, 30% dos paulistanos que comem carne dizem ter reduzido o consumo, enquanto 68% afirmam não ter modificado sua alimentação em decorrência da operação.
Outros 2% dizem ter passado a comer mais carne após a realização da operação.
Foram entrevistadas 1.067 pessoas em São Paulo. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.
A redução foi maior entre os 93% que dizem estar informados sobre a operação.
No grupo, 31% dizem ter passado a consumir menos carne. Já entre os que afirmam não estar informados, o percentual que apontou redução é de 13%.
POLÍCIA FEDERAL
A maioria dos entrevistados (70%) considera que o modo como a operação foi conduzida pela Polícia Federal foi adequado.
Entre os 23% que consideram que a condução não foi adequada, a maior parte deles (12% do total) gostaria que a ação tivesse sido mais rigorosa, enquanto 9% disseram que ela foi rigorosa demais.
A operação teve como objetivo investigar um grupo de fiscais e executivos suspeitos de negociar propinas para liberar produtos fora das especificações sanitárias.
VENDAS
Associações empresariais afirmam que, apesar de os entrevistados dizerem estar consumindo menos carne, as vendas para o mercado interno seguem estáveis.
Segundo Francisco Turra, presidente executivo da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), é provável que consumidores estejam adotando um comportamento mais cauteloso na seleção de produtos, mas não tenham deixado de comprar.
"Eles seguem comprando. Estão desconfiados, escolhendo mais, olhando mais datas de validade, mas não deixam de consumir."
Rodrigo Mariano, gerente de economia e pesquisa da Apas (Associação Paulista de Supermercados) também afirma que as vendas não sofreram impacto relevante. Não houve redução de preços causados por queda da demanda em março, diz.
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